Arquibancada
Vejo aqui que muitos têm dificuldades em entender algumas coisas quando me refiro ao Coritiba de outros tempos. De que Coritiba você fala quando se refere aos bons tempos, do Coritiba grande como os grandes clubes que temos como referência hoje? A pergunta me foi feita algumas vezes, em várias oportunidades, por alguns um comentaristas aqui do blog.
Com o amigo Moises de Castro, relembro desta história e com ela tentando entender algumas posições que são feitas por alguns em defesa da qualidade do futebol praticado hoje. É que geralmente, a maioria de vocês, acompanha o futebol dos anos 90 pra cá. Seus ídolos foram Brandão, Chicão, Carlos Alberto, com mais esforço ainda pegaram os bons tempos de Freitas, Zambiazi, Ronaldo Lobisomem Pachequinho, Jetson, Tostão, mais recentemente Keirrisson, Pedro Kem e Aristizabal, não nesta ordem necessariamente.
Sem dúvida, uma turma de respeito, mas de uma época que o Coritiba já não era mais o Coritiba dos anos 60 e 70, quando de fato fez frente aos grandes, do eixo Rio-São Paulo. Foi neste período que ouvi uma frase que me marcou naquela época, dita por um parente meu que mora em São Paulo, Sãopaulino roxo. Disse ele, usando uma expressão da época: “jogar contra o Coritiba em Curitiba é duplicata vencida”.
Os nomes daquela época eram outros: Passarinho, Kruger, Hidalgo, Hélio Pires, Célio, Kosilek, Oberdam, Pescuma, Rossi, Zé Roberto, Oldak, Abatia, Paquito etc. Pra ir um pouco mais longe, consigo lembrar de Joel Mendes, Nico Bequinha, Oromar, Paulo Vechio. Atletas que com certeza numa partida frente ao Fortaleza não deixariam dúvidas sobre quem é melhor. Ou numa decisão paranaense contra o Operário de Ponta Grossa, por exemplo.
Na época, a qualidade do futebol jogado no interior do Paraná, também era melhor. Eram jogos bem mais difíceis que os de hoje, mas com treinadores brilhantes, que ganhavam o jogo no vestiário e no banco. Venciam apertado, se fechavam direitinho e acabavam voltando com um bom resultado pra casa. Apertado, mas com os três pontinhos - na época a vitória somava dois pontos.
O futebol do interior era tão bom que os melhores duravam pouco por lá. Coritiba e Atlético tratavam logo de trazê-los pra cá, especialmente o Coritiba fez muito isso.
Uma das maiores histórias daquela época foi com a chamada dupla caipira, do União de Bandeirantes, Paquito e Abatiá. Os dois chegaram para disputar um brasileiro e arrasaram. Mas a época era também de jogadores geniais, que se proliferavam por todo o país. O que deixava a coisa tão igual que nos colocava entre os grandes, sim.
Período que também prevaleceu a força da arbitragem, das vitórias que nasciam nos bastidores, controlada pelos grandes clubes (paulistas e cariocas) detentores dos principais títulos na época. Tudo girava em torno destes dois centros. Mais tarde, os mineiros ganharam espaço e foram os primeiros a bater de frente com esta situação, além de conseguirem montar grandes times, também se impunham politica e economicamente, na vida do país. Mais tarde os gaúchos acharam seu espaço. Fechando as quatro forças que prevalecem até hoje no futebol brasileiro sendo Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul.
Perdemos a onda que passou. Não navegamos nela e aos poucos fomos ficando para trás. Ficamos tanto para trás, que em termos de representatividade, hoje perdemos até para os catarinenses, que sempre vieram depois de nós.
Repito aqui o que disse nosso todo poderoso do futebol, numa entrevista ao COXAnautas, há mais ou menos um mês: João Paulo Medina resumiu a diferença do que houve neste imenso buraco que ficou no futebol brasileiro, entre os anos dourados, das décadas de 60,70 e que se manteve até o início das anos 80. Disse Medina nesta entrevista, que o pragmatismo e o improviso sempre foram suficientes para o sucesso do futebol brasileiro, mas agora não é mais. “Os europeus aprenderam a produzir “in vitro” o que nós brasileiros produzimos “in natura”. O problema é que a cada dia, vamos perdendo as características. O número de meninos jogando bola na rua caiu, o interesse diminuiu. Deixou-se de lado a pedagogia da rua - fonte de habilidade e criatividade do futebol brasileiro -, o que acabou atrofiando o que era uma grande vantagem que o futebol brasileiro tinha”.
Entre tantos outros problemas da atualidade, que também impedem o surgimento dos craques, acho esta definição perfeita para justificar a falta de talento nos dias de hoje. Tanto se perdeu este laço com o “In natura”, que há anos não batemos mais no peito como representantes do melhor futebol do mundo.
De casa para as escolinhas de futebol. Este é o caminho que fazem os meninos com algum talento. Lá aprendem a ser robôs. Viram máquinas e dali saem prontos, direto para as mãos de empresários que se fartam com suas crias, negociando direto com o exterior, por um dinheiro fácil que não se ganha todos os dias.
Não se trata de cobrança ou de comparações. Apenas para justificar meu lamento com a qualidade do que vejo hoje. Minha intolerância é muito mais próxima com a de um piá mimado, que sempre teve tudo e agora ficou pobre e não tem mais. Sou um piá mimado, sem os craques dos anos dourados que ficaram para história.
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