Arquibancada
Sei bem do nosso tamanho. Sei exatamente onde nos inserir neste contexto do futebol brasileiro. Talvez seja preciso dividir nossa história em algumas partes para entender melhor. Isso é trabalho para historiador, trabalho de pesquisa, mas grosseiramente consigo rever alguns capítulos pontuais que explicam este Coritiba que temos hoje.
O primeiro dos longos anos sob comando de Evangelino da Costa Neves, o eterno Chinês, o maior de todos os presidentes que tivemos, mais ídolo que muito jogador, personagem de muitas histórias. Onde começa e termina uma fase de conquistas com títulos de glorioso, fita azul, torneio do Povo, hexa do paranaense etc.
Mesmo assim, Evangelino terminou seus anos de glória em declínio e desprestigiado por muitos. Sinal que o futebol é mesmo cruel, talvez no Coritiba ainda mais. Termina com ele uma etapa de outros presidentes igualmente responsáveis por esta brilhante história.
Passamos a nos comportar como tal, como grandes. Sem admitir pensamento pequeno, mesmo que seja possível entender o seu tamanho no contexto nacional nos dias de hoje.
A segunda fase veio com os dirigentes da era pós- Evangelino. Eram outras filosofias, porque o futebol já exigia outra postura, mas ainda ostentando e pregando o Coritiba grande no futebol Brasileiro.
Mesmo depois de Evangelino, tivemos grandes momentos, mas o conceito de grande no futebol de hoje, especialmente no Brasil, precisa passar por outros critérios de avaliação. Falta estrela na camisa, falta profissionalismo em quem comanda, falta dinheiro e principalmente entender que não será este modelo de administração que hoje o Coritiba adota, que nos colocará entre os grandes. É preciso mudar muito mais do que mudaram até aqui.
Mesmo assim, ainda tivemos alguns poucos anos de glória, conseguindo ficar entre os cinco melhores, os dez primeiros, entre os sete primeiros algumas vezes. Em alguns casos não fomos mais adiante por detalhes e até por conta de algumas arbitragens tendenciosas.
De Vilson Ribeiro de Andrade pra cá, assumimos uma nova fase, que agora vive a gestão do seu segundo presidente. A era dos clubes modernos, independente de ter dinheiro ou grandes times. Estádio reformado (ainda longe de como precisa ser), estratégias de marketing, campanhas para atrair novos sócios, sede administrativa, patrocínio master, cotas de tv, título de maior vencedor do mundo etc.
O Coritiba de 2010 pra cá, é outro. Bateu na trave com novos títulos nacionais, e o sonho acabou no meio no meio do caminho ou morrendo na praia por conta de erros que acabaram comprometendo o trabalho e o retrocesso foi inevitável. Voltamos ou paramos no tempo.
O período de Rogério Bacellar foi o momento de assumir a pobreza ainda pregada por Samir Namur que segue o mesmo discurso. Tanto que antes de sair, Bacellar nos deixou na séria B, fazendo valer um namoro antigo, que acabou se confirmando em 2018. Foi um desastre. Está sendo.
Logo de cara, assim que assumiu o clube, Samir nos pede de novo paciência, como fez Bacellar. Mais uma vez alegando situação financeira em risco com eminente falência, como o primeiro problema a ser atacado.
Pedem que nos acostumemos com a pobreza financeira e a consequentemente pobreza técnica.
Ficamos com a herança do sonho que não alcançamos com Bacellar e que Samir trata como prioridade. Sanear as finanças, trabalhar com humildade e montar o time que é possível, e não o time que queremos. Aceitem ou não, queiram ou não, é o Coritiba que nos dão.
A torcida ainda se acostuma com alguns nomes que não param de chegar. Um ou outro jogador parece ter futuro, a maioria deles não. O público no Couto Pereira anda muito abaixo de anos anteriores. Longe do tamanho da casa que temos.
O fato é que ainda sofremos das glórias do passado. A grandeza que nos acostumaram a ter que tentamos manter a qualquer preço, pelo menos na arquibancada. Aliás, parece ser o que nos mantém ainda vivos. Temos dois Coritibas: o dos dirigentes e o que a torcida quer.
Ainda sonhamos grande porque ganhar do Criciúma, por exemplo, ainda é obrigação. Mas mesmo assim, quase não deu. É que criamos o hábito de olhar pra frente e daqui a gente consegue ver que com este time, no Brasileiro, teremos muitos problemas. Por isso ainda esperamos por um sinal, por menor que seja, ainda pela vinda de mais dois ou três reforços, mas reforços de verdade.
Somos torcedores, não dirigentes. Torcedor não é movido só de conquistas, mas também de sonhos. Os sonhos, não temos faz tempo. As conquistas, como já disse, hoje se limitam a vencer adversários que no passado não serviam nem para sparing. Precisamos acreditar que dias melhores virão. Do contrário...
Acreditar no mínimo que os que chegam ao Alto da Glória, sejam iluminados nestas contratações recentes e a gente tenha a sorte de ter acertado em algumas delas.
É muito nos pedir humildade. Como já disse, estamos mesmo mal acostumados com uma qualidade melhor do que andam nos dando. Tem sido pouco, muito pouco para um Coxa-Branca!
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)