Arquibancada
O cara que inventou o futebol não pensou no torcedor. Ou pelo menos não imaginou que teria vários deles se juntando e formando multidões em torno da bola que hoje corre o planeta, envolvendo interesses, dinheiro, vaidade e bastidores.
O cara que inventou o futebol não imaginou que mexeria tanto assim com as emoções. Que muitos chorariam de alegria e outros de tristeza. E que isso se transformaria em amores e paixões. E que em pouco tempo, o planeta inteiro estaria envolvido com aquele jogo. Jogadores, dirigentes, empresários, trabalhadores de diversos setores, que hoje vivem do futebol, mas que tem o torcedor como principal alvo.
O cara que inventou o futebol não sabia que a figura do torcedor seria tão importante assim. Foi um grave erro não fazer esta previsão. Talvez o maior de toda a história do futebol, e por isso, o torcedor, esta figura apaixonada, foi surgindo aos poucos - quase que espontaneamente.
Hoje, sem ele, o futebol perderia a graça, acho até que não existiria.
Sem chamar muito a atenção, foi se acomodando em volta da festa. Aos poucos foi ganhando visibilidade. Com tempo foi ganhando lugares especiais no que hoje chamam de estádio, alguns de arena.
Organizaram melhor o futebol que passou a ser chamado de espetáculo, só para conquistar ainda mais o torcedor. Ganhou além das arquibancadas, espaços maiores, tribunas de honra, mas sempre deixando claro que não deveria passar dali.
Cercaram e isolaram o espetáculo. Aos poucos, nas arenas, vão abrindo as barreiras. Uma espécie de voto de confiança no torcedor. Mas com todo o conforto oferecido, ainda é o lado mais frágil desta relação, porque foi obrigado a aceitar as regras impostas, dentro e fora das quatro linhas do futebol.
Pode sofrer, pode gritar, chorar, se emocionar, dar palpite... mas tudo precisa obedecer a distância estabelecida. Mesmo que ele tenha algo importante para dizer. Nem que seja o único capaz de enxergar soluções que os outros não enxergam... mesmo assim ele não será ouvido.
Assim mesmo, a paixão cresce cada dia mais. Ele enlouquece lá do outro lado, angustiado, assistindo tropeços e desmandos que às vezes tiram a magia do futebol... Mas ele continua lá.
Isso se repete em muitos lugares, mas ao torcedor continua sendo dado apenas o direito de pagar o ingresso, e da arquibancada torcer calado. Gritar só se for para atrapalhar o adversário ou oncentivar se time.
Alguns assistem sem acreditar num fracasso jamais visto em mais de 100 anos de história. A assim, a ele, só resta torcer e pedir aos céus que honrem seu clube.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)