Arquibancada
E no dia seguinte...
Vinte e quatro horas depois de mais um insucesso, as coisas continuam iguais, como se nada de anormal tivesse acontecido no Coritiba. Nenhuma viva alma põe a cabeça pra fora para dar uma satisfação, ou dizer algo animador, como troca no comando técnico, alguma medida que nos aponte para um caminho menos penoso que este que nos colocaram.
Sensação de afundar cada vez mais, como em areia movediça. Quanto mais se mexe, mais imobilizado, menos ação conseguimos. Parecemos paciente em estado terminal que já recusa remédio a espera da morte anunciada.
Todos vemos os problemas, menos quem manda. Ou vê, mas parece entorpecido, dominado, obsediado por algo que não consegue superar.
Não voltei em menos de 24 horas para me lamentar novamente. Estou de volta porque neste período fiquei pensando em algo superior a tudo isto, muito maior, tão maior que hoje é quase impossível imaginar que já fomos grandes, tamanho o desprezo que nossos dirigentes conseguem impor a nossa história.
Envangelino da Costa Neves foi meu consolo. Foi meu travesseiro de ontem pra hoje. Com ele me aconselhei, me consolei e diminui a minha dor em ver o Coritiba neste estado. Divido com vocês o meu consolo com minhas viagens com o nosso
ETERNO PRESIDENTE.
Acho que nunca, na história do Coritiba, o nome de Evangelino da Costa Neves foi tão lembrado como nos últimos anos. Seus anos de trabalho no clube, renderam respeito e muita gratidão. Evangelino foi quase uma unanimidade. Na época, poucos eram capazes de imaginar que se tornaria o mito que se tornou. Criou um clube vencedor, de uma torcida mal acostumada, com títulos e vitórias épicas.
Hoje, tudo um sonho, também o maior sonho de consumo da torcida: um dirigente comparado ao Chinês, como era chamado carinhosamente. Quem sabe assim, a saudades de um tempo fosse menor. Evangelino viveu grande parte de sua vida por amor ao Coxa, quem sabe, até mais que muitos presidentes na história do futebol brasileiro.
É verdade que o futebol mudou e aquele romantismo não cabe mais a estes tempos. Mas convenhamos, agora, neste momento, um pouco de Evangelino faria muito bem à vida do Coritiba.
Porque além de todo o amor que tinha pelo clube, Evangelino era de personalidade forte e valente. Foi buscar força onde não tinha, para colocar o clube no seleto time das grandes equipes do futebol brasileiro.
Com isso, foi conquistando a simpatia de novos torcedores, que viam na determinação do "eterno presidente" e as conquistas do Verdão, o caminho para se somar a legião de Coxas-Brancas que lotavam naquela época o Couto Pereira, para se lambuzar, lamber os dedos, apenas admirando aqueles times quase imbatíveis.
Tive a oportunidade de conviver com Evangelino, através de uma amizade com sua filha, Evangelina, no final dos anos 70.
Lembro que Nina, nos contava que em sua casa eram recebidos jogadores recém chegados ao clube. “Já teve filho de jogador que tomou a primeira mamadeira na nossa casa”, contava Nina. Dizia ela que lembra de seu pai deixando de pagar contas pessoais para pagar as contas do clube.
Evangelino da Costa Neves, o Chinês, foi um mito. Sua figura chegou a ser tão importante que pode ser comparado como a dos grandes craques que o Coritba teve em campo, como Fedato, Kruger , Zé Roberto e tantos outros.
Estar com ele era tão importante como estar com um artilheiro, um ídolo. Além de carinhoso com o torcedor, era carismático, falava do Coritiba como quem falava de um grande amor. Parava pra conversar com todos que lhe pediam atenção. Falava do Coritiba envolvendo o ouvinte. Era uma sensação quase de fascinação.
Recentemente, li uma entrevista que Nina deu ao site do clube, lembrando que seu pai não morreu por causa do Coxa, mas apaixonado por ele”. É verdade. Era esta sensação que passava.
Além dos grandes times, dos inúmeros títulos, entre suas heranças deixadas para a torcida coxa-branca, ficaram reformas significativas no estádio.
Parece ser necessário relembrar estes fatos, justamente agora, onde a história parece começar a se perder, pelo menos para uma grande maioria que hoje comanda o clube. Parece ser necessário lembrar que Evangelino foi muito mais e maior do que tudo que falam sobre ele.
Quando a gente escreve sobre Evangelino, parece que fica faltando alguma coisa. Parece que falta vocabulário para definir a grandeza de seu amor pelo Coritiba, embora esta história tenha começado por acaso.
Foi quando veio morar em Curitiba, vindo de Santos, e montou aqui uma empresa de mudança. Foi levado por amigos para assistir um atletiba e do alto da Gloria nunca mais saiu. Criou amor pelo clube e se apresentou ao trabalho e lá ficou.
Assumiu o Coritiba em 1968, sendo bi-campeão. Sua vida passou a ser pelo Coritiba. O nome Evangelino, foi naturalmente se confundindo com a história do clube.
Na década de 70, o Coxa tornou-se hexacampeão paranaense (entre 71 e 76), além de conquistar o bi-estadual também em 78 e 79. O hexa até hoje é uma conquista perseguida por todos os clubes do Estado. Evangelino se afastou do Coritiba depois disso. Voltou à presidência três anos depois, com o clube amargando um período sem títulos e quase rebaixado no campeonato estadual.
O retorno do “Chinês” recuperou o Coritiba, trazendo o famoso título nacional de 85.
Não foi possível ter visto e conhecido o trabalho de Evangelino e não o reconhecer como o maior presidente da história do clube.
Foram mais de 20 anos transformando este amor em trabalho.
Seu grande mal foi ter nos acostumado mal. Suas administrações não nos permitem aceitar qualquer coisa. Ficamos exigentes, chatos. Foi com ele que descobrimos que o trabalho só tem sucesso, se houver amor, quando o tema é futebol. Esta química foi que fez do Coritiba, um dos maiores clubes da história do futebol brasileiro.
Um pouco, só um pouco de Evangelino, nos faria muito bem!
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