Bola de Couro
Tenho um grande carinho e admiração pela Gazeta do Povo.
Primeiro, por razões afetivas.
Meu falecido pai, Benedito, era dileto amigo do Dr. Francisco Cunha Pereira. Frequentavam a mesma igreja, tinham idéias aproximadas, constantemente trocavam telefonemas, e o Dr. Francisco disponibilizava ao meu pai espaço para publicar seus artigos religiosos na Gazeta do Povo.
O extinto Dr. Edmundo Lemanski certamente não lembraria de mim, mas quando eu tinha dezessete anos de idade, atendendo a pedido de um tio meu, amigo dele, deu-me o primeiro emprego que tive, no Banco Comercial do Paraná, do qual era diretor, concedendo-me o privilégio de escolher a agência em que queria trabalhar.
Depois, por razões de amor à minha terra natal.
A Gazeta do Povo é o jornal que mostra mais independência e que melhor cultiva as raízes políticas, sociais e culturais e de cidadania do Paraná.
O governo Requião foi acusado de nepotismo, a Gazeta do Povo mostrou e criticou. Seu oponente Richa Filho assumiu o governo e iniciou com a mesma prática, a Gazeta do Povo não escondeu. Acusações de corrupção, inclusive fantasmagóricas, não foram omitidas pela Gazeta do Povo que cumpriu o dever de informar e formar a opinião pública paranaense. Enfim, e aqui faço registro resumido pois o objetivo desta coluna é outro, sem dúvida nesta área a Gazeta do Povo presta inestimáveis serviços ao povo paranaense.
Nas demais áreas, social e cultural e de cidadania, igualmente atende às expectativas, conta com bons colunistas – outros nem tanto, talvez – informa bem e ajuda a formar a opinião dos curitibanos e paranaenses, cultuando as coisas nossas e encampando campanhas de interesse do Paraná.
Por isto, quase todos os dias acesso a edição online da Gazeta do Povo, mantendo-me informado tal e qual um residente em Curitiba.
Mas só até aí vai minha admiração pela Gazeta do Povo, pois em relação ao caderno de esportes tenho fortes e sérias ressalvas.
Em primeiro lugar, vejo uma editoria de esportes claramente deslumbrada com o futebol de outros estados, notadamente o paulista e especialmente o segundo mais amado e primeiro mais odiado do Brasil, o Corinthians.
Exagero? Vamos então aos números da edição online de hoje, 03 de fevereiro de 2.011, conforme dados das 21,00 horas.
Notícia sobre a derrota do mais odiado para o “grandioso” Tolima: 3.348 caracteres.
Notícia a respeito da estréia do Ronaldinho no Flamengo: 2.961 caracteres.
Matéria sobre o jogo Paraná e Paranavaí (jogo local!): 2.363 caracteres, mais 1.330 caracteres para lamentos de Roberto Cavalo.
Notícias sobre derrota do Atlético: total de 4.412 caracteres.
Matérias sobre jogo Coritiba e Iraty e absolvição de Rafinha somadas: 2.482 caracteres.
Isto na edição online. Ressalvo que como não vi a edição impressa, não tenho como saber a localização das matérias, o tamanho das fotos e das manchetes, etc.
Como se vê, gritante desproporcão e não é ela subjetiva. A edição de hoje é só um exemplo e se os amigos leitores tiverem o trabalho de examinar exemplares anteriores verão a confirmação do que digo (por exemplo, a edição do dia em que Ronaldinho Gaúcho se apresentou na Gávea).
O que interessa mais ao torcedor paranaense? Matérias amplas sobre o Corinthians ou o Flamengo ou sobre os clubes locais, especialmente o Coritiba e o Atlético, os verdadeiros grandes? Para mim, a unha encravada do Jéci ou a dor de barriga do Manoel tem muito mais importância do que resultados de times paulistas, cariocas ou gaúchos.
Ah, me dirão, mas o Corinthians e o Flamengo têm muitos torcedores no Paraná (paranaenses genéricos, sem dúvida). Sim, mas e daí? A Gazeta do Povo se presta como órgão de formação de opinião na política, cultura e cidadania e no esporte não? Não está na hora de privilegiar nossos clubes na informação e opinião e deixar os alienígenas em segundo plano como a imprensa de outros Estados faz? Mostrar para esses sedizentes paranaenses que eles devem torcer em primeiro lugar para o Coritiba ou até mesmo o Atlético?
Muito bem. Mas prossigo na inconformidade e o faço também com dados objetivos. O Coritiba é sem dúvida subrepticiamente tratado de forma desigual pela Gazeta do Povo. Não amigos, não é vitimização nem choro de torcedor. Vamos aos fatos.
Começo pedindo que voltem aos dados deste texto onde demonstro a diferença do tamanho das matérias referentes ao Coritiba e aos rivais. Confiram.
E passo aos formadores de opinião.
Ocupa o melhor espaço na Gazeta do Povo nas segundas, quartas, sexta e domingos, o Carneiro Neto, notório torcedor atleticano. Embora seja um colunista competente, elegante e comedido, sem dúvida seu coração rubro-negro o comanda. Nas mesmas segundas e nas quintas, dias de luxo para a edição esportiva, pois subsequentes a jornadas esportivas, os demais colunistas são o Airton Cordeiro e o Luiz Augusto Xavier, igualmente colunistas de excelente qualidade e redação, mas o primeiro é conhecido paranista e em relação ao segundo tenho apenas uma certeza, qual seja a de que originalmente é torcedor do Guarany de Ponta Grossa, mas parece que quando se radicou em Curitiba se tornou Ferroviário (logo?). Ao que sei – se estiver errado me corrijam e já antecipo desculpas - torceria para o Coritiba apenas o Leonardo Mendes Jr. que ocupa as terças e sextas-feiras, dias que não se seguem a jogos.
Nada contra que colunistas esportivos tenham times do coração. Todos têm e não acredito nos que dizem que não. Mas sem dúvida a Gazeta do Povo exagera na distribuição dos espaços, em claro detrimento do Coritiba. Não há colunistas coritibanos disponíveis? Garimpem nos Coxanautas senhores.
Espero que este texto chegue a olhos desapaixonados – devem haver – na Gazeta do Povo para reflexão.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)