Bola de Couro
Em coluna postada no último dia 12, sob o título ”O chute na porta foi dado” (atenção editores, não sei fazer o link), afirmei, dentro da análise de alguns fatores que mereciam atenção no time do Coritiba, que Edson Bastos “é um bom goleiro, sim, bom, mas não mais do que bom, não ótimo e nem excelente".
É sabido que equipes de futebol só têm sucesso quando dispõem de pelos menos três destaques, mas destaques mesmo. É recomendável que sejam o zagueiro “xerife” e o avante “matador”, mas que primeiro tenha um goleiro absolutamente confiável e que cresce nas horas fundamentais.
O goleiro ótimo ou excelente é indispensável. Alguém lembra de alguma equipe vitoriosa (mas vitoriosa mesmo, com grandes conquistas e em sequência) que não tivesse no gol um dos seus destaques? O Coritiba da incrível sequência de títulos estaduais e “beliscões” no título nacional na década de 1970 tinha Jairo, o time campeão do Brasil contava com Rafael e até no último ano em que nos classificamos para a Copa Libertadores da América contávamos com o ótimo Fernando, hoje no Vasco da Gama. E o velho Manga, em 1978, cuja personalidade na decisão nos três jogos decisivos e nos pênaltis (parecia que só de olhar para o cobrador deles já era meia defesa) foi fator fundamental*.
Eram goleiros que às vezes falhavam, como todos falham aqui ou ali, pois nenhum é perfeito nem nunca foi, embora nossa memória costume ser seletiva em relação aos ídolos – deles só lembramos os acertos, jamais os erros. Mas a diferença entre o goleiro excelente ou ótimo para o goleiro bom, é que aqueles jamais falham nos grandes jogos ou nos decisivos, hora em que crescem e dão confiança à equipe. Até parece que agem, consciente ou inconscientemente, com a seguinte lógica: já que todo o goleiro, por melhor que seja, falha, vou fazê-lo em jogos não decisivos ou de menor importância, ou quando a vitória já estiver assegurada, para crescer e dar confiança nas partidas fundamentais.
Não há como afastar que é Edson Bastos é um goleiro que está marcado positivamente na história do Coritiba. Foi campeão estadual em 2088, bicampeão em 2010 e 2011, campeão da série B (título que nunca mais quero disputar) e em várias partidas fez defesas que nos garantiram a vitória ou o empate. Merece nosso reconhecimento e o que fez de bom é inapagável. Mas não é excelente ou ótimo e, para o enfoque da coluna de hoje, devemos lembrar que futebol é momento, como diz o lugar-comum dos comentaristas esportivos, e Edson Bastos não está inspirando confiança. E o que é pior, tem falhado em jogos fundamentais.
Ultimamente, o busílis (pronto, dificultei a leitura do texto) da questão me parece estar na dificuldade do Edson Bastos para bolas chutadas de longe. Se o adversário está na pequena área, em meio à confusão Edson Bastos surge e normalmente abafa o lance, mas quando a bola é chutada – ou cruzada - de longe, é evidente a sua dificuldade. Assim foi na decisão da Copa do Brasil, cuja perda quase todos trataram de debitar ao técnico por sua inexplicável mudança de esquema e ingresso de atleta até então nem sendo relacionado, esquecendo que o Edson Bastos tomou o segundo gol do Vasco através de um despretensioso chute da intermediária (tenha havido ou não algum desvio, polêmica que ainda rende, teve ele tempo e espaço para acolher a bola com tranquilidade). E assim foi no atleTIBA de ontem. Sei que alguns já disseram que aquele tipo de bola jogada para cair por trás da zaga é traiçoeira (quando eu era menos jovem, diziam “truvisca no fedor que o beque põe para dentro”) e muitos gols têm acontecido desse modo há algum tempo. Mas por ser previsível a jogada, não era o caso de os goleiros já terem preparado o antítodo, por exemplo se antecipando para tirar a bola de soco, ainda no alto? E se a bola cai, como caiu, ao lado do seu corpo, não seria o caso de ir com vigor e não com a malemolência que o Edson Bastos foi (quem rever o lance constatará a justa irritação do dedicado Lucas Mendes, olhando para o Edson Bastos)? Lembre-se que no jogo contra o Palmeiras ele tomou o gol do Marcos Assunção nas mesmas circunstâncias, chute de longe, bola caindo à sua frente e malemolência para ir de encontro. Não era para ter aprendido?
Ah!, mas foram apenas dois jogos em que assim aconteceu, dirão. Até não sei se as falhas se limitaram a essas, não sou bom em estatísticas e nem tenho na memória a forma como todos os gols que sofremos foram tomados. Os amigos mais atentos haverão de lembrar.
Mas o que importa não é isso, mas sim o momento do Edson Bastos, a clara dificuldade em chutes de longe e a não incorporação de espírito de crescimento, aquele agigantamento que se espera do goleiro nas horas decisivas. Merece todo nosso respeito pelo que já fez e conquistou, mas não tenho dúvida de que o momento não é bom e está na hora de uma reflexão, dele e da equipe técnica, sobre se não seria o caso de uma quarentena para que treine, corrija as falhas e cresça técnica e emocionalmente, enfim, receber um upgrade como se diz em linguagem da ciência de informática.
Gostaria muito de ver um Edson Bastos voltando a deixar o campo após uma vitória do Coritiba, com a nossa torcida gritando “Ah! Edson Bastos!” e não a do adversário como, para tristeza nossa e principalmente dele, aconteceu ontem.
*. Faço o contraponto: na Copa do Mundo de 1982 o Brasil tinha um super-time, com Sócrates, Zico, Júnior e outros, mas e o goleiro não era confiável. Talvez muitos nem lembrem ou saibam quem foi, tamanha sua inexpressividade. Chamava-se Valdir Peres.
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