Bola de Couro
Hoje – terminou há poucos minutos - o TJD/PR decidiu, por maioria de votos confirmar a liminar que o seu Presidente havia conferido ao Coritiba para que não fosse obrigado a “ceder” o estádio Couto Pereira à FPF e consequentemente aos rubros. Aceitou o principal argumento no sentido de que o inciso IV, do artigo 46, do Estatuto da FPF só concede a ela o direito de requisitar praças de esportes para o seu uso e não para servir a interposta pessoa para que os estádios sejam utilizados os outros clubes. Tratei disso na coluna do último dia 13, e entendo que em termos estaduais a situação está resolvida, até porque eventual recurso ao STJD não prosperaria tamanha a correção da interpretação dada pela Justiça Desportiva local.
Obrigo-me a alertar aos amigos, porém, que lamentavelmente assim não é em relação ao campeonato brasileiro, uma vez que o Regulamento Geral das Competições da CBF para 2012 tem regra clara que torna difícil um enfrentamento jurídico.
Diz o artigo 7º, inciso 11, de tal regulamento, que é obrigação dos clubes “ceder os estádios de sua propriedade para as competições, quando tais estádios forem formalmente requisitados pela CBF”.
Vejam a diferença. O Estatuto da FPF fala em ceder à ela, federação, e não para competições, enquanto que o Regulamento da CBF é claro no sentido de que a obrigação é “para as competições”. Não vou repetir argumentos que usei na coluna anterior, mas quase todos eles aqui poderiam ser aplicados de forma inversa.
Mas isso é o aspecto jurídico da questão, de modo que, se estiver por se concretizar a requisição pela CBF, o Coritiba tem que saber tratar politicamente o assunto, se adiantando para tentar impedir ou ao menos minorar os danos que sofrerá.
Primeiro, caberia mostrar à CBF que a simples ameaça de cessão do estádio causou tamanha comoção e revolta na torcida do Coritiba, que a requisição do Couto Pereira poderia levar a cidade a situações de insegurança inimagináveis. Não aceito e repugno a violência entre as torcidas bem como as verdadeiras gangues que se formaram entre elas (parte delas nos dando um prejuízo irreparável em dezembro de 2009), mas não há como afastar que é forte a probabilidade de consequências imprevisíveis e altamente danosas à cidade e às pessoas se a requisição acontecer.
Depois, seria o caso de lembrar que os jogos da segunda divisão acontecem normalmente nas terças e sextas, e às vezes nos sábados. O Coritiba, por sua vez, jogará nas quartas e domingos e às vezes no sábados. É certo que, se na véspera houver um jogo da série B, não haverá tempo para limpar – e talvez consertar acessórios – o estádio até o dia seguinte.É também altamente previsível que, se durante um jogo dos rubros na véspera houver chuva forte – chover seguidamente é uma característica de Curitiba – o gramado estará em péssimas condições para no dia seguinte ocorrer jogo do Coritiba, especialmente, por exemplo, contra o Flamengo ou o Corinthinas transmitida pela TV aberta para todo o Brasil.
Já a requisição da Vila Capanema penso que não traria o mesmo risco, uma vez que de um lado a rivalidade entre os rubros e o clube das fusões é bem menor, assim como significativamente menor a torcida deste. E de outro, como os jogos do campeonato brasileiro, seja qual for a divisão, quando na mesma cidade há dois clube disputando sempre são marcados pelo sistema um-em-casa-outro-fora, ou seja, quando o Paraná jogar em Curitiba, o Atlético estará em Arapiraca, por exemplo. Assim, não haveria danos maiores ao gramado e o estádio sempre poderia ser limpo e preparado de um jogo para o outro.
Outras considerações podem ser feitas, no campo da política de relacionamento com a CBF, uma vez que, como sumariamente afirmei antes, juridicamente seria muito difícil vencer a batalha.
Se a cessão for inevitável – não esqueçamos que a CBF, notadamente o seu eterno presidente (há alguém no mundo há tanto tempo no poder de uma instituição quanto ele?) poderá querer prestigiar o clube que se prepara para a Copa do Mundo – então que a direção do Coritiba trate de defender os interesses do clube, seja exigindo um aluguel condizente, seja exigindo um seguro para cobrir danos causados pela torcida ao estádio, ou ainda outras providências que tenho certeza os competentes administradores que temos saberão melhor dizer.
O que é isso, companheiro ?
Li em alguns comentários feitos por alguns amigos Coxanautas, e soube que nas redes sociais também teriam ocorrido(aqui falo no condicional, pois não tenho acesso a nenhuma), que alguns associados do Coritiba teriam deixado de pagar as mensalidades até que se defina se o estádio será cedido ou não, em caso positivo ameaçando se desassociar, enquanto outros afirmam que estão pagando, mas se o Couto Pereira for cedido a partir de então pedirão exclusão.
Pessoal, vamos com calma.
Quando um filho nosso, criança ou adolescente, pratica um ato que nos desagrada (e a cessão poderá ser forçada como disse antes e não um erro), nós, conforme a gravidade do caso os admoestamos ou castigamos tirando um benefício temporariamente. Mas nem por isso, suspendemos o sustento do filho, deixando de alimentá-lo ou dar-lhe educação ou cuidados médicos se precisar. É nosso filho, faz parte de nossa vida e devemos sustentá-lo até que não necessite mais, mesmo que ainda erre na vida.
É uma analogia talvez um tanto forçada, reconheço, mas reflitam sobre ela. Vamos “dar um castigo” e enfraquecer o clube que tanto amamos e que é parte das nossas vidas apenas porque ele foi – se for - obrigado pela CBF a ceder o estádio para os rivais? Vamos deixar de “alimentar” nosso clube para que sofra o risco de retroceder ao modo com que se encontrava antes da sua refundação a partir de 2010 e não consiga formar uma equipe capaz de disputar bem as competições? Não, vamos fortalecer nosso clube para que faça uma excelente campanha na primeira divisão e cresca cada vez mais, e para tanto nosso dinheirinho é essencial. Enquanto crescemos vamos tratar “secar” os rubros para gostem das delícias da segunda divisão (dizem que Arapicaraca e Varginha são cidades muito bonitas) e dela desfrutem por muito tempo.
Outro aspecto importante a considerar é que depois de algumas gestões que mais se serviram do Coritiba do que serviram ao clube, ou que não o souberam administrar, hoje temos um grupo de homens idealistas, honestos e competentes na direção, de modo que podemos ter certeza de que nosso dinheiro não está e não será sendo mal utilizado como já ocorreu.
Eu tenho certeza que os amigos que assim ameaçaram o fizeram no calor da emoção e reconsiderarão a atitude. A propósito, ontem dei um presente ao meu filho, que também mora em Porto Alegre, associando-o ao Coritiba. Ainda não sabe, mas em poucos dias receberá em casa sua carteira para exibi-la com orgulho, mesmo que tenha poucas oportunidades de ir a Curitiba ver nossos jogos.
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