Bola de Couro
A semana que antecede e a que sucede os atleTIBAs constituem períodos de ansiedade e emoção inigualáveis para os curitibanos. Ainda que os gaúchos digam que o Grenal seria o clássico de maior rivalidade do futebol brasileiro, não tenho a menor dúvida de que o maior e mais emocionante clássico do Brasil e do mundo é o atleTIBA. Só assim não é reconhecido no restante do país porque o futebol paranaense igualmente não o é. Houvéssemos chegado ao patamar que o futebol gaúcho chegou, sem dúvida os olhos de todo o Brasil estariam voltados para nosso grande clássico. Só quem viveu atleTIBAS, por poucos que tenham sido, sabe o que significa ver o confronto entre o glorioso alviverde e o seu eterno perseguidor rubro-negro. Explicar, não há como, somente vivendo.
Perdi a conta de quantos atleTIBAS acompanhei, ao vivo, pela TV ou pelo rádio e nenhum, mas nenhum mesmo, deixou de ser emocionante, seja pela alegria ou, nem quero pensar na hipótese, pela tristeza, ainda que aquelas sempre em número maior (segundo “Os Helênicos”, 121 a 97!). Dos momentos de tristeza, esqueci. Dos de glória, sempre relembro. É o que me importa.
Nesses tantos clássicos, não esqueço da garra e malícia do Miltinho nos anos 50, do Nico, o verdadeiro deus da raça nos anos 60, da frieza do Hidalgo e da classe a amor ao time do Krueger nos anos 70, do Tostão nos anos 80. E como esquecer o gol do Paulo Vecchio nos dando o título de 1968 contra o time já então midiático deles? E os Duílio, pai e filho? E o Tuta mandando calar a baixada? Não é de lembrar, até com ironia, que ganhamos um título na casa deles com um gol do rudimentar – mas nem por isso com menos valor - Henrique Dias? Enfim, as boas lembranças são tantas, que meu inconsciente bloqueou as más, delas não me lembro. E nem quero.
Sábado não será diferente. AtleTIBA é atleTIBA e vice-versa, como dizia o filósofo Dadá Maravilha. Qualquer coisa pode acontecer. Um jogo truncado, com poucos lances de gol ou um jogo emocionante com as equipes se alternando no placar. Um jogo decidido pela emoção ou pela técnica e pela frieza. Uma goleada ou vitória por um gol “achado”. Uma partida definida por um grande acerto ou por um grande erro, seja ele de um dos jogadores ou seja do árbitro, esse permanente “ladrão” que no nosso sentir sempre nos prejudica, mesmo quando ganhamos (afinal, poderíamos ter ganho de mais).
Já estou mobilizado para sábado, emocionalmente perto, embora fisicamente longe. Gostaria muito de estar em Curitiba e ter ao meu lado uma gasosa de gengibirra, um álbum de figurinhas das balas Zequinha, ouvir a voz do Lombardi Jr. pela saudosa B2, saborear um prato de pinhão assado e depois comer uma “vina”, torcer com uns piás polacos ao meu redor e retornar para a antiga e legítima Boca Maldita para ver a cara dos atleticanos e suas explicações para mais uma derrota. Com o frio (atleTIBA no frio é muito mais autêntico), seria bom ver o jogo tomando um “quentão” para esquentar, embora reclamando “desse tempo” (como se em Curitiba não fizesse sempre “esse tempo”). Comer mimosa durante o jogo, ainda se come? Que bom se pudesse ir ao atleTIBA pela rua Maria Clara, onde por algum tempo vivi e, se a polícia permitisse, entrar no estádio com uma “setra”, essa coisa que os outros chamam de estilingue.
Nada mais curitibano (ou coritibano) do que acompanhar um atleTIBA em tais condições. E melhor ainda seria ir para o clássico podendo passar por “eles” sem riscos físicos e que “eles” também pudessem passar por nós somente abaixo de vaias. Se um dia foi assim, por que não pode voltar a ser? Sonho de quem já tem cabelos brancos? Provavelmente. Mas sonhar é possível, ainda que o sonho seja impossível.
E melhor, muito melhor, depois de juntar algumas lembranças da minha infância e juventude, trazendo-as para o presente, seria terminar o sábado com mais uma vitória, seja qual for o placar, ou sejam quais forem as circunstâncias. Vitória em atleTIBA é vitória, e é o que importa.
Enfim, amigos, quando alienígenas disserem que esse ou aquele clássico de outro Estado é um dos ou o maior do Brasil, diga a eles que não sabem o que é um atleTIBA e não fale mais nada porque atleTIBA não se explica, se vive.
Bom atleTIBA para todos (todos nós, alviverdes, naturalmente).
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