Bola de Couro
A perda do título da Copa do Brasil foi bem absorvida pela magnífica torcida do Coritiba. Não que nos resignássemos e entendêssemos, como li e ouvi de alguns, que somente chegar à final já deveria nos satisfazer. Nada disso. Temos que ter grandes alvos e títulos nacionais são fundamentais para o crescimento e grandeza do clube.
Resignamo-nos, isso sim, por lembrar que há menos de um ano e meio estávamos no fundo do poço, envoltos em escombros, temendo amargar uma série C, ou nos tornarmos tal e qual o Santa Cruz do Recife, com dívidas impagáveis e como consequência sem condições de formar elenco para crescer. Parecia que restava de grandiosa apenas nossa torcida, com exceção dos aloprados que nos mancharam a imagem. Resignamo-nos por reconhecer que, depois de muito tempo, finalmente temos uma direção com os pés no chão e olhos no futuro. Resignamo-nos porque sabemos que agora temos uma equipe forte e competitiva, a qual decaiu nos últimos jogos daquele torneio apenas pela soma de alguns acontecimentos desfavoráveis. Aceitamos sem maiores protestos a perda do título por estarmos orgulhosos de ter uma equipe que deslumbrou ao Brasil com uma série inédita de vitórias consecutivas, com o ápice em goleada histórica sobre o Palmeiras.
Reconhecida, nossa torcida, agora composta por mais de trinta mil sócios, tão logo o árbitro encerrou a partida, antes mesmo que os torcedores do Vasco comemorassem a derrota que lhes deu o título, passou a aplaudir nosso time e a cantar o seu hino mais popular, abafando a comemoração carioca.
Comportamento irrepreensível e que só me orgulha por fazer parte dessa nação há mais de cinquenta anos.
Mas a aceitação do resultado não significa que, só pelo que foi feito até agora, qualquer juízo crítico esteja impedido de ser produzido, desde que racional, isento e com vista ao bem do clube. Os momentos de uma equipe de futebol são dinâmicos, evoluem ou involuem, assim como ocorre com qualquer clube, seja qual for a sua dimensão.
Apontar equívocos, mostrar que em um ou outro jogo a equipe não foi bem, que este ou aquele atleta, por mais conceituado que seja não teve bom rendimento em um determinado dia, que o técnico errou na escalação, no sistema tático ou nas substituições, ou que a diretoria errou em alguma contratação, não pode ser visto como desconsideração ao patamar a que chegamos, e muito menos como avaliação negativa.
Avaliação crítica, com honestidade, racionalidade e isenção, só vem em benefício do clube, uma vez que todas as análises que tenham tais pressupostos – não se incluem nelas as dos comentaristas sedizentes isentos, mas engajados a outros interesses – podem chegar aos olhos ou ouvidos da direção e comissão técnica, mostrando o que pensa a torcida, ou o que pensam os formadores de opinião, auxiliando na permanente reflexão que devem fazer a cada preparação para cada temporada e para cada jogo. Agir assim é agir em proveito do clube, ainda que possamos nós errar também ao pretender que determinada ação do clube ou da equipe teria sido equivocada, quando depois o tempo mostrar que foi acertada.
A obviedade diz que errar é humano e que todos têm o direito ao erro. Evidente que erros só podem acontecer por parte de seres pensantes, embora não seja “direito” e sim conduta própria, possível e previsível ao ser humano. Todos erramos e erraremos, ainda que às vezes o que seja erro na minha ótica não o seja na visão do leitor ou reciprocamente. Importante, como diz a sabedoria popular, é não repetir e nem persistir no erro e refletir quando nos apontam a prática.
Assim, tendo à frente um longo e difícil campeonato brasileiro, cujo início não está nos favorecendo, erros ou jornadas infelizes já aconteceram e poderão acontecer - esperamos que desde que dentro de certos limites logo recuperados - e todos nós estamos liberados para apontá-los de forma produtiva e como colaboração, sem que ao assim agir se possa ser tachado como pessimista, negativo ou se iguale ao meu amigo Aderbal.
Lua-de-mel um dia acaba, o que não pode terminar é o amor, o romance e a parceria, ainda que às vezes seja necessário “discutir a relação”, mas para isso é necessário que todos os partícipes se conduzam para um mesmo fim, no caso, a grandeza do Coritiba. Daí, de tempos em tempos se retorna ao estado de lua-de-mel.
Todos no Coritiba atual têm crédito e o nosso reconhecimento. Mas isso não significa que a conseqüência seja imunidade à crítica construtiva. Marcelo Oliveira é bom técnico? Excelente, mas quando errar, como aconteceu na final da Copa do Brasil, ninguém poderá se sentir impedido de apontar e nem merecerá a pecha de negatividade se a crítica for feita com lucidez, respeito e isenção. Edson Bastos é bom goleiro e todos bons goleiros estão sujeitos a um dia falhar gravemente? Sem dúvida, mas quando falhar poderemos apontar sem que isso implique em desqualificá-lo. A direção atual, capitaneada pelo Vice-Presidente Vilson, que refundou e reergueu o Coritiba, é merecedora de todo nosso reconhecimento? Evidente que sim, e palavras seriam poucas para mostrar, mas quando tomar alguma atitude equivocada ou contratar mal, nem por isso estará imune a crítica.
Enfim, confiamos muito no atual Coritiba e dele nos orgulhamos, mas que ninguém se deite sobre a cama do sucesso. Este depende de vencer uma luta a cada dia. Oferecer contribuição crítica, com vista à grandeza do Coritiba, é nosso dever, desde que assim se proceda inspirado por amor ao clube e visando seu crescimento e sempre sem esquecer de reconhecer os méritos.
A vida é assim, quem sobe alguns degraus na escada do sucesso deve procurar se aperfeiçoar para subir mais alguns ou pelo menos se manter aonde chegou. Se retroceder, não pense que terá imunidade à crítica apenas porque já havia chegado até lá. Ela, a crítica, se construtiva e racional, talvez o empurre degraus acima.
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