Bola de Couro
Começo reproduzindo para os amigos leitores os títulos de matérias nos jornais de Porto Alegre sobre o resultado de ontem:
“Com o dedo de Julinho”, “E o intervalo mudou tudo”, “Julinho mostra serviço” e “Vestiário virou”. Não vou cansar os leitores com reprodução dos textos, mas todos afirmam que o Coritiba foi melhor na primeira etapa, mas restou dominado na segunda em face de mudanças de posicionamento determinadas pelo técnico do Grêmio, melhorando somente nos minutos finais em razão de postura ofensiva.
Como se vê, o técnico do Grêmio viu e “leu” (conforme expressão que se tornou lugar comum entre os cronistas) o jogo e soube modificar a postura do seu time, tanto para liberar a marcação sobre o Douglas Costa – jogador que, quando está inspirado é o cérebro do time – como para explorar a evidente fraqueza de nosso lado esquerdo em razão de mais uma má jornada do Eltinho. Enquanto isso, o nosso técnico...
Os amigos que me distinguem com a leitura devem recordar que tenho poupado nosso treinador, especialmente em face do crédito que ainda tem pela excelente campanha do primeiro semestre. E também porque a troca pura e simples de técnico às vezes dá resultado, mas nem sempre atua como um “toque de Midas”, fazendo de uma hora para outra o time brilhar. Além do mais, a quem buscar em um mercado de salários estratosféricos? Carpeggiani, que já foi um desastre para nós nos anos 90? Lopes, que desmontou o bom time de 2003 e inventou uma escalação esdrúxula na Libertadores? Celso Roth, que só ganha campeonatos estaduais? E como pagar tais “medalhões”?
Continuo, pois, a dar crédito ao Marcelo, mas agora, tal como fazem as instituições financeiras, o crédito não é mais ilimitado, pois o cadastro tem algumas restrições em face da dívida que está acumulando. Para continuar a merecer crédito, é fundamental o técnico que retroceda no tempo e nos seus conceitos e volte a manter o time tal como foi o que a todos encantou até um mês.Do contrário, vou ter que mudar minha forma de pensar.
Postura mais ofensiva é fundamental. Não venha com a alegação de que o time podia jogar ofensivamente até a pouco porque os adversários não eram fortes. Como explicar, então, a goleada histórica sobre o Palmeiras, hoje quarto colocado no campeonato brasileiro? E a vitória na final sobre o Vasco – atualmente o sétimo na classificação – quando o que nos faltou foi somente um gol para o título e, não fosse o erro clamoroso de escalação e a falha gritante do Edson Bastos estaríamos ainda comemorando o título? O temor dos adversários, se é que esta é a explicação para a postura mais defensiva, é injustificável. Quando a vitória vale três pontos e o empate apenas um, é importante ter coragem de buscar aqueles e não se satisfazer somente com a tentativa de obter um ponto apenas.
E o que pensam os jogadores quando veem que o técnico quer postura mais defensiva do que ofensiva? Suponho que pensem “bem, se o professor quer que a gente jogue mais na defesa, é porque não confia em vitória e quer garantir o empate”. É o que basta para abalar a motivação.
E se outros argumentos não existissem, é suficiente recordar a mudança do time no jogo contra o Figueirense após a entrada de mais dois atacantes, e até mesmo ontem quando, embora quase sem tempo para reverter o placar, a entrada do Bill deu nova postura ao time (ele só não fez gol em face da espetacular atuação do goleiro do Grêmio).
Difícil aceitar, e nisso parece que todos concordam, a insistência com Marcos Paulo. Deve ser um bom moço, comportado, que não deve sair execrado, mas deve ser mandado de uma vez ao Avaí onde, quem sabe, mostre o que no Coritiba não soube mostrar. Agora, manter obstinação com sua escalação, como se fosse para tentar recuperar sua imagem (ou para o técnico poder um dia provar que acertou), jamais, pois a instituição Coritiba não pode ser paternalista. O profissionalismo exige, em todas as áreas, que os empregados sejam bem tratados e motivados, mas jamais a manutenção em nome da compreensão e bondade, pois o que importa é o sucesso da entidade.
Também difícil entender a manutenção do Eltinho. É um excelente ala esquerda... para o campeonato estadual, contra os times do interior, este o seu limite técnico. Lucas Mendes, mesmo que seja considerado como improvisado na função, foi muito melhor na Copa do Brasil, e poderia/deveria retomar o posto até que algum outro seja contratado ou se destaque dentro do elenco.
E o Davi? Depois da Copa do Brasil vinha jogando mal, sem dúvida, e merecia um banco e uma sacudida. Mas daí a não ser nem mesmo relacionado e não acompanhar a delegação em Porto Alegre a distância é muito grande. É castigo demasiado para ele e para o clube.
Enfim, como estes e outros aspectos não são entendidos e nem explicados, e como não tenho acessos aos bastidores do Coritiba, temo que, tal como disse Shakespeare em Hamlet, parece que “há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vâ filosofia”, ou, como dizia o Barão de Itararé, “há alguma coisa no ar, além dos aviões de carreira”.
Para concluir, um registro. As duas últimas vitórias do Coritiba contra o Grêmio aqui em Porto Alegre aconteceram em 1976 e 1996. A primeira por 3 x 0, com um daqueles excelentes times que mantínhamos nos anos 1970, e a segunda por 2 x0 com gols de Basílio e Pachequinho (os dois de cabeça, embora baixinhos). Vinte anos entre uma e outra. Será que vou ter de esperar mais vinte e ganhar aqui somente em 2016?
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