Bola de Couro
Quando da assunção do comando técnico do Coritiba por Marquinhos Santos, transitou uma dúvida entre a crônica esportiva e os torcedores sobre o acerto ou não da escolha, uma vez que se tratava de profissional que nunca fora jogador de futebol – a não ser nas “peladas” como quase todos nós – e também não tinha experiência com times profissionais, salvo nas categorias de base, sendo o comandante da seleção brasileira sub-15 e sub-20 e do time sub-23 do Coritiba. Treinou também, não há porque esconder, as categorias de base do nosso rival, ali conquistando títulos.
Ao lado da minimizada experiência, apresentava sua condição teórica, formação como Educador Físico, com especialidade em treinamento desportivo.
Ao assumir a condição de técnico do elenco profissional do Coritiba Marquinhos recebeu, antes de uma oportunidade, uma grande responsabilidade, pois encontrou um time em má fase, com vários atletas afastados por lesão e uma torcida exigente, impaciente e desejosa de grandes feitos. A decisão, para os que comandam o clube e para ele deve ter sido difícil. Dada a sua pouca experiência, se fracassasse o mundo viria abaixo. Por que não contrataram um “grande nome” (qual?), diriam muitos. Que irresponsabilidade entregar o comando de um time que tem alguns jogadores veteranos para um técnico com apenas trinta e três anos de idade, mais jovem que uns poucos da equipe, diriam outros. E ai por diante.
Pois não é que o homem está se encaminhando para o sucesso tal como tantos outros profissionais que foram vitoriosos em times de futebol de primeira linha sem antes terem sido jogadores profissionais?
Os exemplos do grupo para o qual o Marquinhos Santos está se encaminhando são muitos. Lembro alguns, talvez os mais significativos, Parreira (campeão do mundo em 1994), Cláudio Coutinho (semifinalista da copa do mundo de 1978), Ney Franco (campeão paranaense e carioca dentre outras conquistas), Paulo Autuori (campeão brasileiro, da Libertadores e do mundial de clubes), todos eles educadores físicos que talvez nem soubessem fazer uma “embaixadinha”. Outros poderiam ser citados, mas tenho dúvidas a respeito da condição (por exemplo, Feola, campeão do mundo em 1958, foi antes jogador?).
Assim, mesmo que a maioria dos treinadores brasileiros seja constituída por ex-jogadores profissionais (nem todos foram craques, como são os casos do Vanderlei Luxemburgo e do Felipão, dentre outros), a verdade é que, se de um lado às vezes é bom que tenham a vivência de dentro do campo e tal condição seja importante, por outro jamais é ela imprescindível para bem dirigir um time de futebol e ser vencedor. Aliás, a dupla Marquinhos-Tcheco reúne as duas condições: conhecimento teórico e prático, e espero que ela se mantenha afinada por ainda muito tempo, cada um consciente da sua participação no comando. Torçamos por eles.
Ter estado lá ”dentro das quatro linhas”, é muito importante para entender de futebol, sem dúvida, mas não é indispensável para ser técnico e nem significa que quem lá esteve saiba mais. Muitos teóricos, só com graduação fracassaram na tentativa de se tornar técnicos, mas arrisco-me a dizer que talvez o número dos ex-jogadores que fracassaram na mesma tentativa seja maior.
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