Bola de Couro
Em que pesem respeitáveis opiniões em contrário, entendo que ontem o Coritiba repetiu mais uma das suas tantas más jornadas desde que encerrado o campeonato estadual. Foi bem em alguns momentos da partida, é verdade, mas no todo deixou a desejar, especialmente considerando que o adversário estava sensivelmente desfalcado de titulares. Independente da apresentação, o resultado não foi bom, pois estamos muito mal na tábua de classificação e era imperiosa uma vitória em casa. E neste ano, desde que encerrado o campeonato estadual, o time se apresentou bem apenas nos dois jogos contra o São Paulo, assim como na primeira etapa da primeira partida contra o Palmeiras, nesta deixando de fazer placar por incompetência individual (especialmente por parte dos supostos atacantes que temos), mas no mais nunca atuou satisfatoriamente. Já apontei aqui que a principal deficiência no elenco, visto um setor de modo isolado, é o nosso ataque, mal constituído e sem eficácia, embora outras existam.
Também já referi em coluna anterior “Marcelo Oliveira. Uma avaliação justa.” (dia 30 de maio último), que temos um bom técnico, que erra como todos, mas muito mais acerta, e que se notabiliza por “tirar leite de pedra” em face da (des)qualificaçãon de muitos dos jogadores com os quais trabalha, alguns não tendo nem mesmo os fundamentos exigidos para jogar em um clube da série A do campeonato brasileiro, outros não se doando como se poderia esperar de categoria que tem bons salários, e outros ainda que definitivamente não nasceram para a profissão e deveriam procurar outros caminhos. Os resultados obtidos pelo nosso treinador, até a data daquela coluna, eram muito bons. No ano passado levou o time ao título do Campeonato Paranaense de forma invicta, com 20 vitórias e 2 empates. Entre os dias 3 de fevereiro e 5 de maio daquele ano, conseguiu o recorde mundial de 24 vitórias seguidas. Chegou à final da Copa do Brasil, perdida por causa da regra que bonifica os gols fora de casa, ocasião em que cometeu um erro inicial de escalação, sim, mas o corrigiu em tempo para mudar o resultado não fosse falha de atleta que não pode ser debitada a ele. No campeonato brasileiro do ano passado, terminou na 8ª colocação, perdendo a vaga para a Copa Libertadores de 2012 em razão de derrota na última partida, quando toda a equipe, coletiva e individualmente se conduziu mal, foi irreconhecível, mas ao menos restamos classificados para a Sul-Americana deste ano, competição que está aberta e que, pelo formato de torneio, poderá render sucesso se qualificarmos o time.
Neste ano foi tricampeão estadual em emocionante decisão contra arquirrival e conseguiu levar o time às finais da Copa do Brasil. Em março, Marcelo foi considerado pelo Institute of Football Coaching Statistics o melhor técnico do Brasil e o 14º do mundo nos 12 meses precedentes. Já está no comando técnico do clube há mais de cem jogos, igualando-se a poucos outros técnicos em nossa história.
Por outro lado, temos um presidente capaz e honesto, que demonstra claramente que sua missão é a de servir ao clube e não dele se servir como alguns dirigentes de clubes de futebol fazem ou fizeram. Administra muito bem, está aos poucos equilibrando nossas finanças, projetou o clube em nível nacional ao ponto de ser o Coritiba novamente a referência do futebol paranaense e não outro clube como aconteceu há alguns anos, enfim, despertou nossa autoestima. Mas, sábia e humildemente já afirmou que não entende muito de futebol, o seu negócio é presidir e administrar, razão pela qual, como se faz em todas grandes entidades, delega tais funções a quem se mostra habilitado para as mesmas. Melhor assim, pois tivemos um presidente que de 2004 a 2005 pretendeu entender de futebol e desmontou nosso time nos levando para a segunda divisão.
Então, o resumo da ópera, a conclusão que salta aos olhos é a de que a deficiência do plantel é que nos deixa sem perspectivas. Foi um grupo suficiente para manter a nossa hegemonia estadual – visto por todos os ângulos o Coritiba continua a ser o maior clube de futebol do Paraná – mas sem dúvida não o é para alcançar melhor posição na comparação com os demais clubes do país e disputar com sucesso não só o campeonato brasileiro como eventuais torneios intercontinentais, como será a Copa Sul Americana que iniciará em breves dias.
Isso firmado, se até aqui os amigos leitores estão concordando comigo cabe perguntar: Mas quem escolheu alguns maus jogadores? Quem viu bom futebol entre tantas mediocridades? Certa vez foi afirmado por alguém do Coritiba – não lembro quem – que os contratados eram previamente observados em vários aspectos por pelo menos seis meses. E quem foi que viu grande parte dos contratados por tanto tempo e não soube enxergar o que todos, inclusive a torcida mesmo com sua natural passionalidade, vê a cada partida? Será possível tanta incompetência? Ou haverá outro critério que nossa vã imaginação de leigos não consegue alcançar?
Amigos, se a culpa não está no técnico e nem na direção maior, mas sim na baixa qualidade de grande número de atletas, forçoso é passar a aceitar que o grande responsável – talvez não o único, mas sem dúvida o maior – é o Departamento de Futebol e dentro dele o profissional remunerado para gerir a área e as contratações. Acho que ali está, como se diz popularmente, “o furo da bala”. Sei, dirão alguns que nem ele e talvez nem o Vice-Presidente de futebol decidam sozinhos as contratações, as quais seriam feitas com aval do Presidente. Mas alguém pode acreditar que se o profissional contratado para a função, que tem vivência na área, e o seu primeiro diretor indicam uma contratação como boa, rentável e de bom futuro para o clube o Presidente se recusaria a endossá-la? Certamente que não, pois para isso ele os colocou a gerir a área e deve neles confiar e não desprestigiá-los.
E agora, o que fazer? O dinheiro é sabidamente pouco – embora o que se gastou com quatro mediocridades pudesse ser despendido com apenas um jogador bem qualificado – inúmeros atletas estão impedidos de serem contratados por já estar adiantado o campeonato e garimpador de talentos fora da nossa base não temos, ou pelo menos não temos notícia de que haja.
Como está, com essas perspectivas, talvez alguma melhoria só possa ser obtida com o técnico passando a usar, com muita moderação, jovens das categorias de base. Ontem um demonstrou em poucos minutos que tem futuro, mas em outros jogos outros pouco mostraram. É muito cedo para afirmar que Thiago Primão é craque, vamos observá-lo melhor, mas ontem sem dúvida se mostrou bem melhor do que o seu colega substituído. Também é cedo para afirmar que o Rafael Silva é “marrento” (que se mostre a ele que por enquanto tem apenas potencial e não é o craque que pareceu pensar quando entrou no time).
Enfim, se já gastamos o que poderíamos – em certos casos mal, repito – não vejo saída para qualificar o elenco que não sejam por primeiro a Presidência chamar às falas a área de futebol e mostrar os desperdícios que já praticou. Depois, encontrar alguém que se disponha a sair pelo país a garimpar talentos (sei, é trabalho para médio ou longo prazo) e finalmente procurar utilizar os jovens de forma lenta, gradual e segura, pois nem que apenas uns dois se destaquem e se tornem titulares absolutos já será um ganho.
Enfim, não podemos debitar toda a responsabilidade à presidência e nem ao técnico, e nem mesmo aos maus jogadores, pois ninguém dá mais do que tem e pode. Se com a qualificação que apresentam mesmo assim foram contratados, há que se buscar em outra área a responsabilidade.
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