Bola de Couro
É o elenco, estúpido!
Nas eleições presidenciais americanas de 1992 o candidato George Bush, o pai, tentava a reeleição e era o favorito. O discurso patriótico baseado no fim da Guerra Fria e no sucesso da Guerra do Golfo unia o país em torno do presidente. Entretanto os gastos militares e o desequilíbrio fiscal estavam abalando a economia dos Estados Unidos, provocando desemprego e queda do consumo. Foi nesse ponto que a campanha do Partido Democrata mirou. Sempre que questionados sobre em que se baseavam as propostas e o futuro governo Clinton, ele e seus correligionários diziam sem muitos rodeios aos adversários: É a economia, estúpido! Em outras palavras, de que valia desmontar a União Soviética e o comunismo e vencer a Guerra do Golfo se os bolsos dos norte-americanos sofriam perdas. Até o patriotismo tem limites e Bill Clinton venceu a eleição.
Mas o que a introdução tem a ver com o Coritiba? Muito. De que nos adiantará a reconstrução do quadro de sócios, a equalização das dívidas e uma boa gestão no campo administrativo se ao final do ano houver uma nova catastrófica queda ou o mero consolo da comemoração por não ter caído?
Até a pouco muitos tinham o técnico Marcelo Oliveira como o principal responsável pela má campanha deste ano a partir do tricampeonato estadual. Eu, dentre alguns poucos não concordava, e escrevi em tal sentido algumas vezes, mas depois da derrota para a Portuguesa aderi aos que pediam a sua saída (coluna de 05 de setembro), muito mais por entender que ele sofria de um inevitável desgaste, que não tinha mais discurso, que seu comando era previsível para os adversários e que o time necessitava de uma nova motivação, uma sacudida, já que, afora a contratação do Deivid, nada mais havia que fazer para melhorar em razão do tempo.
Mas e agora, depois da bisonha atuação no Recife, quando passamos quase toda a segunda etapa da nossa intermediária para trás e só não sofremos gol antes pela excelência da atuação do Vanderlei? O que dizer? Culpar o árbitro de novo? Ora, façam o favor os que estão entendendo que não houve falta. E digamos que não houvesse e que o jogo terminasse empatado, vocês estariam satisfeitos com a atuação da equipe que passou a segunda etapa quase toda se defendendo?
Pois volto ao que escrevi muitas vezes, em especial nas colunas do dia 20 de julho último, com o título “É o Departamento de Futebol?”, e do dia 10 de agosto “O fator humano. Quem o constituiu?”.
O problema principal é a desqualificação do elenco, desde desmonte ocorrido do ano passado para este, enquanto as novas contratações, com exceção do Ayrton (quando sobe, pois defensivamente não é lá essas coisas), o Deivid e talvez o Ruidyaz, não merecem o nome nem de “reposições” e menos ainda a de “reforços”. Talvez o Gil pudesse entrar na lista pela bravura, muitas vezes produtiva. Não estou esquecendo, ao dizer assim, nomes que estão afastados por lesão, como é o caso do Emerson e do Rafinha, fundamentais para a equipe e que não estão no baixo nível dos demais.
E não vou sair a apontar todos os nomes dos atletas que não estão à altura de compor um time que tenha pretensões de figurar entre os dez melhores do país. A lista seria muito extensa. Alguns até talvez pudessem escapar, pois não são tão ruins, mas no meio de tanta ruindade às vezes são por ela contaminados, como é o caso, por exemplo, do Everton Ribeiro.
Mas vou me referir a três contratações que no meu entender são o exemplo de má gestão. Marcel, jogador veterano que só teve sucesso em 2003 no próprio Coritiba e desde então não conseguiu nem sequer completar os contratos que firmou com outros clubes, só se sabe que entrou em campo durante os jogos quando é substituído. Outro é o Everton Costa, contratado apenas por causar boa impressão em dois jogos – dois jogos, vejam bem – contra o Caxias na Copa do Brasil do ano passado. Ninguém se preocupou em investigar como foram suas passagens pelo Internacional e Grêmio, onde era um mero “carimbador” de bola, como continua sendo. Não sabe chutar, não sabe passar e não sabe cabecear. Tenta fazer o pivô, mas não sem cometer falta no zagueiro. E por fim, refiro-me ao pobre do Júnior Urso, jogador sem técnica nenhuma, apenas esforçado e ainda por cima azarado.
O rol é maior e tenho certeza de que os amigos terão suas indicações também. No Coritiba atual, mais fácil do que dizer com segurança e obter quase unanimidade sobre os melhores jogadores, é dizer quais os piores. Uma votação a respeito levaria a resultados díspares e apertados.
Então, amigos, o problema é o elenco, mas renovo o que disse em outras ocasiões, a responsabilidade é de quem o compôs, uma figura que não age nas luzes, que atende por uma sigla (parece nome de agente secreto), e que nunca vem a público para dar explicações. Ou será possível que os meios de comunicação não tentam ouvi-lo? Como entender, além de tantos nomes desqualificados que o superintendente de futebol trouxe a contratação, por exemplo, do França, que veio para ficar no clube poucos dias e ser emprestado? Fez estágio no Coritiba ou se tratou de um erro clamoroso que a soberba não permitiu admitir? Ou houve algo que não recomendava a contratação e não foi visto antes?
Aliás, embora também tenha sua responsabilidade pelo atual estado da equipe, mas ainda com crédito por tudo o que fez a partir do fatídico dia 06 de dezembro de 2009, deve ser lembrado que diante de tal quadro é o nosso Presidente quem se expõe, dá explicações e sofre críticas, enquanto o seu Richilieu ou Rasputin continua comandando o futebol sem ser responsabilizado e menos ainda vir a público para se explicar, ou quem sabe, se não fosse pedir demais, admitir os tantos erros que praticou. Ora, ele foi contratado exatamente para indicar ao Presidente os nomes a serem contratados, pois não é função de tal dirigente, nos tempos modernos, sair a observar jogadores. Se ele tinha a confiança, como “expert” que em tese consta ser para indicar nomes ao Presidente, sem dúvida a esta altura a perdeu tantos foram os erros cometidos. E se é homem de caráter – não tenho porque duvidar – deveria ter a postura vertical de vir a público de assumir sua responsabilidade e se explicar. Quem tem o bônus (o cargo e o bom salário) deve encarar também o ônus.
Mudando um pouco o enfoque, para finalizar. O que dizer do novo técnico, tido como moderno e que nos primeiros jogos se mostrou a antítese do Marcelo Oliveira, colocar ontem o Júnior Urso nos minutos finais para garantir o empate? Não vamos crucificá-lo por isso, está começando e merece apoio. Mas pelo menos que aprenda o que todos sabem, a atitude de “garantir o resultado” só é apropriada quando se está ganhando apertado, não quando se está empatando e a vitória seria fundamental. Quem mira em pequenos alvos tem mais chance de errar.
Sei que muitos vão dizer que nada ainda está perdido, e de antemão em princípio já concordo. Matematicamente é possível escapar de mais uma catástrofe. Mas o futebol não é assim – eu não estive lá dentro, mas sei também – não basta dizer “yes, we can”, como no bordão do Barack Obama. Há que se fazer muito mais. Nós não temos apoio da grande mídia, não somos muito queridos na CBF e não temos a dimensão global de clubes como o Flamengo ou o Palmeiras (lembrem-se da Kia Motors). Ninguém vai nos dar a mão para nos levantar além da linha da água. O que fazer, sinceramente não saberia bem o que dizer. Dentro do meu saber apenas por mais velho do que por sabido, penso que o que resta agora é tentar apelar para uma motivação forte, pois técnica e fundamentos não poderão ser ensinados a quem não os tem e não aprenderá na última hora. Sei também que discursos motivacionais têm prazo de validade, mas é o que me parece restar quando temos que ganhar pelo menos em torno de metade dentre os trinta e seis pontos que disputaremos.
Fiquei devendo aos amigos a conclusão sobre o tema da reforma da arena da baixada, mas a ele voltarei quando as coisas esfriarem um pouco.
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