Bola de Couro
Torcedores de futebol, eu obviamente dentre eles, temos algumas justificativas prontas quando nossa equipe não se comporta como gostaríamos. Falhas individuais, carência técnica deste ou aquele jogador, falta de empenho, “diz-que-diz-que” sobre noitadas dos atletas e, a primeira de todas, deficiência e erros do técnico ou treinador (Há diferença nos conceitos, sim. Técnico é aquele que propõe um plano tático e sabe ler o jogo durante o seu transcurso. Treinador é aquele profissional trabalhador, que faz o time treinar muito e que durante o jogo fica à beira do campo gritando “vai”, “cerca”, “circula”, etc.).
Assim, basta uma sequência de resultados insatisfatórios ou o não atingimento de metas com as quais sonhávamos, para o técnico – ou treinador – ser responsabilizado. Se todos, ou a maioria dos jogadores atua mal, mesmo assim a culpa é do técnico. A única hipótese de ser eximido é quando algum atleta faz um gol contra absurdo ou o goleiro falha clamorosamente de modo a ser a causa fundamental para o resultado negativo.
Estamos vendo, principalmente depois da renovação do seu contrato, que para uma parte da torcida e de alguns colunistas de diversos órgãos – todos respeitáveis, sem dúvida - Marcelo Oliveira seria o principal culpado pelo fato de não termos conquistado a Copa do Brasil e de não estarmos entre os cinco primeiros do campeonato brasileiro.
Vou meter minha colher na discussão, não sem antes renovar respeito aos que pensam diferente – como saber conviver com a divergência é fundamental para a vida em sociedade, estou pronto para ser apoiado por alguns e contrariado por outros – e entendo que realmente o Marcelo Oliveira deixou a desejar em alguns momentos e precisa mudar alguns conceitos. Assim foi, em parte, na decisão da Copa do Brasil quando cometeu erro de escalação, mas teve autocrítica para se retratar ainda em tempo. Mas amigos, quem garante que, se Marcos Paulo não tivesse jogado por um pouco mais de vinte minutos o Coritiba teria feito gols – ou não tomado o primeiro - antes de sua saída? A resposta fica no terreno da suposição. Por outro lado, resposta certa, e não mera suposição é no sentido de que, se Edson Bastos não falhasse clamorosamente no segundo gol do Vasco, o placar necessário para sermos campeões teria sido alcançado. Claro que Edson Bastos não pode ser crucificado só por essa falha, pois outros fatores – mas ainda no terreno das suposições – podem ter concorrido para não alcançarmos o título, mas entre a dele e a do técnico qual foi a falha preponderante e certa para o mau resultado?
Errou o Marcelo Oliveira outras vezes na escalação, especialmente com insistências em relação a alguns atletas que não têm condições de jogar em equipe de primeira divisão. Os amigos leitores podem apontar este ou aquele exemplo a respeito do enfoque, às vezes variando conforme o momento em que um jogador ou outro foi escolhido ou preterido, mas sem dúvida o mais gritante é relacionado ao Eltinho, cuja baixa qualidade para jogar em time de primeira divisão e responsabilidade para algumas derrotas parece consenso, salvo para o técnico que volta e meia insiste em tentativas com o suposto jogador de futebol.
Mas o que dizer em jogos onde, tal como o recente contra o Atlético Mineiro (e o trago à lembrança por ainda estar na memória dos leitores), quase todo o elenco individualmente foi mal? Pode ser o técnico culpado pelo fato de a defesa estar postada em linha quando o atacante do Atlético original cruzou a bola – rasteira! – na frente da área e ninguém tentou – tentou! - interceptá-la? É possível debitar ao técnico o medo do Eltinho de ser atingido pela bola quando o atacante adversário a chutou contra o gol e ele virou de lado? E o gol perdido pelo Everton Costa – se minha lembrança não falha, em nenhum jogo do Coritiba este ano algum atleta perdeu gol tão claro como aquele – que talvez até o meu neto fizesse, para ele concorreu o treinador?
Muito bem, mas vamos aos bons resultados do ano e o Marcelo Oliveira. Sob o seu comando conquistamos o bicampeonato estadual de forma invicta e por antecipação, goleando de forma humilhante o rival em sua casa. Sob o seu comando alcançamos um recorde mundial que talvez a nossa geração nunca veja quebrado, levando o nome do Coritiba ao mundo. E sob o seu comando não ficamos, como em outros anos, meros coadjuvantes do campeonato brasileiro. Sei que nossas chances de classificação para a Copa Libertadores são mínimas, as menores dentre todas as matematicamente possíveis, mas o sonho vive e poderá viver até a última rodada. Terminaremos o campeonato, seja qual for o seu resultado, como protagonistas, situação que há menos de dois anos parecia inalcançável em tão pouco tempo.
Aos que dizem que não é um treinador de nome, experiente e com títulos conquistados, tomo a liberdade de fazer duas indagações. Tite e Mano Menezes o eram quando saíram de times do interior gaúcho para o Grêmio e com ele conquistaram títulos e hoje são disputados pelos clubes que podem pagá-los? Se histórico valesse tanto, que tal ir buscar o vetusto treinador Antônio Lopes, afinal foi campeão brasileiro e da América?
Enfim, amigos, estou consciente de que o Marcelo Oliveira termina o ano com saldo favorável e tem potencial para levar o Coritiba a outras conquistas, ainda que os resultados não dependam só dele, mas também da direção e atletas. Ademais, se o seu contrato foi renovado, temos é que torcer para que se dê bem, pois a decisão está cimentada e a direção certamente só voltará atrás se um fato novo e significativo assim aconselhar. O que não podemos é negar o que alcançou e nem tirar-lhe antecipadamente o crédito para o próximo ano. Mantenha-se viva a divergência, afinal ela é importante para que todos se posicionem. A unanimidade, na exagerada frase de Nelson Rodrigues, pode ser burra. Mas, respeitando sempre os que pensam diferente, tratemos de nos unir, os que gostam e os que não gostam do Marcelo Oliveira, para ajudá-lo a que tenha sucesso. O seu, que via de consequência será o nosso.
Recomendo, ao finalizar, a leitura do texto do Coxanauta Fernando Schumak Melo no espaço “Fala, Coxanauta”, não porque ao fim vai ao encontro do meu pensamento, mas principalmente porque a qualidade da análise supre em muito o que eu tentei expressar aqui.
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