Bola de Couro
Sobre as declarações do ex-presidente Giovani Gionédis, que propõe que a Arena da baixada seja estádio único para os clubes de Curitiba.
Minha última coluna teve como título "Visionário?”, reportando-me às declarações do vice-presidente do Coritiba, Alceni Guerra, que entende que para ter crescimento seria muito importante para o clube a construção de um novo e moderno estádio, com o aumento significativo do número de sócios e consequentes rendimentos financeiros.
Agora, em sentido totalmente oposto, veio aos meios de comunicação o ex-presidente do Coritiba Giovani Gionédis, sustentando que o estádio da Arena da Baixada deveria servir de palco único para o Atlético, o Coritiba e o Paraná e que cada qual dispor do seu estádio como hoje é economicamente inviável, citando como exemplo de uso compartilhado o estádio do Mineirão.
A tese do ex-presidente, porém, com o devido respeito está amparada em alguns argumentos equivocados e principalmente padece do esquecimento de fatos fundamentais.
Por primeiro, ele esqueceu que a Arena da Baixada é do Atlético e não está à venda – pelo menos ao que se sabe – nem mesmo parcialmente.
E esqueceu o ex-presidente que o Atlético é devedor de mais de trezentos milhões de reais por conta da construção do novo estádio! Será que o ex-presidente quer que o Coritiba socorra ao Atlético e pague um terço da sua dívida para se tornar “proprietário(?)” de uma parte do estádio daqueles? Quem sabe pretende que vendamos o Couto Pereira para isso?
Depois, não lembrou que o Estádio do Mineirão e outros compartilhados são públicos, pertencem a um ente estatal e por isso são impessoais e podem atender aos clubes sem conflito. Em Minas Gerais o estádio comum foi construído na década de 1960 e no Rio de Janeiro em 1950, quando os clubes não tinham estádios razoáveis. Trata-se de uma situação firmada e estável. Muito diferente do que um clube construir um estádio e depois torná-lo comum (?) – sabe-se lá a que preço – com os rivais locais que já dispõem de estádios, especialmente o Coritiba.
E se esqueceu também do que disse em 18 de abril de 2007, quando entendia importante um novo estádio para o Coritiba (veja aqui) : “O Coritiba vai ter, independente de Copa do Mundo ou não, o estádio mais moderno do estado do Paraná. Totalmente viabilizado pela iniciativa privada e sem recursos públicos”.
Mudou o Coritiba ou mudaram as suas ideias?
Mas o maior esquecimento do ex-presidente foi em relação a conhecer o clube que presidiu. Esqueceu-se que se trata de um clube com personalidade, caráter e história. Fundado há mais de cem anos, sem derivar de qualquer fusão, com nome e cores não copiados e proprietário de um estádio erguido somente com o dinheiro próprio e que quando concluído era um dos melhores do Brasil.
Se construirmos um novo estádio, vou sentir muita saudade do velho Couto Pereira, onde tive inúmeras alegrias, algumas decepções, talvez, mas destas esqueci. Vibrei, sofri um pouco, xinguei, desopilei, pulei, suei, gritei, abracei desconhecidos, beijei minha mulher e meus filhos e comemorei muito. Conheço cada canto do estádio “de cór”, até seu cheiro está na minha memória. Mas reconheço que, embora o sentimentalismo seja de significativa importância no futebol, há que ser realista e reconhecer que nosso Couto Pereira envelheceu. Já nos deu o que poderia dar, e se quisermos crescer ao ponto de nos tornarmos efetivos protagonistas do futebol brasileiro um dos passos fundamentais será a propriedade de um estádio moderno, ímpar, novo ou através de uma reforma total do atual, se viável.
A saudade sempre existirá, mas, tal como ocorre quando um filho deixa nossa casa para ter o seu lar, logo a seguir nos alegramos com o crescimento dele e da nova família que constituiu. O Coritiba sempre será grande, e em uma casa melhor certamente será maior. Em casa alheia ou mesmo compartilhada, jamais seremos felizes. Em casa alheia eu não sentiria somente saudade do Couto. Eu talvez até viesse a sentir que estava torcendo por outro clube. Se for para ser como quer o ex-presidente (não acredito, a ideia certamente será repelida), que fique o Couto Pereira como está.
Curioso – deve ser mera coincidência – que essa ideia entreguista apareceu exatamente uma semana depois do vice-presidente Alceni Guerra dizer que sonha com um novo estádio para o Coritiba como meio de crescimento do quadro associativo e do clube.
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