Bola de Couro
O resultado paradoxal de ontem – ganhar sem conquistar – leva a algumas reflexões.
A primeira é de que a equipe está reencontrando o bom futebol que mantinha até algum tempo e, não fosse uma falha de marcação ocorrida no pior momento em que poderia acontecer, a esta hora estaríamos com a classificação assegurada para a fase internacional da competição. Sobre esse aspecto não me estenderei, uma vez que toda a crônica esportiva reconheceu que o Coritiba apresentou boa atuação e não vejo necessário ingressar nesta esfera.
Mas o que dizer quando mais uma vez o time joga bem e apenas quase se classifica ou não ganha o título como ocorre nas duas edições da Copa do Brasil?
Houve uma dose de azar, sem dúvida, com as lesões do Roberto, que ao contrário do que vinha mostrando em outras partidas estava jogando bem e do Ayrton quase ao final da partida, bem como a saída do Chico (vi que ele pediu para sair, mas ainda não sei se por lesão ou cansaço) que ontem jogava melhor do que o Willian.
Infelizmente o azar tem nos perseguido muitas vezes, mas ontem penso que o que mais influiu para a não manutenção do placar foi a falta da boa malandragem, da malícia, em que pese estivessem em campo três veteranos.
Sim, amigos. A partir dos quarenta minutos da segunda etapa (ou até antes), faltou ao Coritiba cabeça fria para usar da malícia – no bom sentido praticado no futebol – e esfriar o jogo. Era o momento de procurar manter a bola no ataque, ainda que de modo improdutivo, era o momento de a cada choque o jogador cair e pedir atendimento, era o momento de irritar o Grêmio. E não me venham dizer, o Rauen está propondo práticas desleais ou não esportivas. De modo algum, todos os times copeiros – todos – agem assim quando precisam manter o placar. As grandes conquistas do futebol estão recheadas de exemplos, dos quais não preciso lembrar aqui.
Mas e o Coritiba, com o placar que lhe classificava mantido até quase o final do jogo, com três veteranos – ou outra qualificação no feminino (aquela mesmo que vocês estão pensando) – continuou a querer jogar e deixar o Grêmio jogar? Por favor, onde estavam a frieza, o histórico e a liderança dos velhos malandros Pereira, Licoln e Escudero que não comandaram uma atitude de time que quer manter o resultado?
Claro, nada de usar expedientes como os de instruir os gandulas para reter a bola, ou de invasão de campo pela Comissão Técnica. Nada disso. Bastava jogar a bola “para o mato”, retê-la com uso do corpo tentando cavar faltas. Marcadas estas, ficar no chão como se tivesse sofrendo um infarto, enfim, criar incidentes ainda que não ao ponto de levar cartões, mas usar do expediente que todos os times denominados de “copeiros” usam, inclusive e em especial o Grêmio que é mestre na arte.
A conduta de ontem lembra a de 1998, quando precisávamos ganhar da Portuguesa por dois gols de diferença, fizemos os dois e continuamos a jogar querendo dar espetáculo (nunca esquecerei o gol perdido pelo Claudinho querendo dar um toquinho sobre o goleiro quando Cleber corria livre para receber) propiciando a que o adversário em poucos minutos empatasse e terminasse com mais um sonho.
Não se trata de praticar anti-jogo ou de falta de esportividade. Trata-se de ser frio e pragmático. Quem deveria ficar nervoso e ansioso era o adversário, desde que nós tivéssemos sabido fazer com que assim ficassem.
Bom futebol é fundamental e imprescindível para que qualquer equipe alcance conquistas. Bom comportamento também, sem dúvida. Mas tanto quanto é fundamental saber ser maquiavélico quando de decisões.
E observação final que quero fazer, perdoem-me os leitores que pensam diferente, é sobre a aceitação do resultado por parte da crônica e da torcida, que se dizem satisfeitos porque o time jogou bem, porque perdeu com dignidade e porque mostrou brio. E daí? De que adiantou? Vai ficar na história a desclassificação ou a conduta do time? Isso é pensar pequeno. Preferia, e imagino que muitos também, que o Coritiba jogasse mal, mas fizesse o resultado, ainda que injusto aos olhos dos comunicadores e entendidos.
Uma pena que, como diz a canção, “mais uma luz se apaga, mais um sonho que chega ao fim”.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)