Bola de Couro
Os amigos que me acompanham sabem que procuro não ser drástico nas análises que faço sobre as apresentações e evoluções ou involuções do Coritiba em cada campeonato, sempre procurando, dentro de minhas convicções e limitações, lançar considerações ponderadas.
O resultado de hoje contra o Internacional, justo na minha ótica em que pese a direção e nosso técnico queiram ver de modo diverso pelo que ouvi após o jogo, desta vez decorreu de um misto entre más atuações individuais (principalmente) e de um erro de escalação e outro de substituição.
As más atuações individuais foram nítidas, sendo difícil ressalvar alguns jogadores como tendo boa participação, talvez Lucas Mendes e Gil. Até o Emerson, nosso melhor jogador, teve muitas dificuldades na marcação da dupla Damião-Dagoberto. Ninguém fez uma partida primorosa, alguns nem sequer razoável.
E mesmo que quando se generalizam as más atuações individuais não se possa responsabilizar muito o técnico, não tenho dúvida de que ele errou na escalação do Willian para sair jogando, ficando claro que não estava em condições físicas e técnicas para iniciar jogo tão importante depois de grande inatividade. E se acertou ao fazer entrar o Everton Ribeiro, conseguindo com que o Coritiba por alguns minutos desse a impressão de que iria mudar o resultado, desmanchou o próprio acerto ao fazer entrar o comprovadamente desnecessário Marcel (Tive o cuidado de observar as intervenções dele e, se não me enganei, só participou da jogada em que sofreu falta e o jogador adversário se lesionou. Se alguém viu outra, corrija-me, por favor.).
Mas más jornadas assim ocorrem, embora não se possam dizer normais como querem alguns. São da dinâmica do futebol e também não podemos esquecer que enfrentamos uma equipe muito forte, um sério candidato ao título, contra o qual raramente obtemos sucesso em Porto Alegre.
A derrota e o modo como aconteceu, não são o fim do mundo e nem podem justificar desespero, afirmações do tipo “com esse time vamos cair”, “temos que trocar de técnico”, ou outras no mesmo diapasão. Nós, torcedores, temos o hábito de reduzir e simplificar as convicções a respeito dos nossos times quando eles não se apresentam bem. É um procedimento passional e justificável, afinal somos antes de tudo torcedores e torcedor não tem obrigação de ser isento e frio.
Mas vou eu mesmo incorrer na simplificação ou redução de diagnóstico, não só pelo jogo de hoje, mas pelo que tenho visto, para dizer uma obviedade, quase que repetindo o que todos talvez já tenham dito: não temos bons atacantes. Nenhum o é, talvez no máximo possam ser coadjuvantes. Basta lembrar que nossos artilheiros no ano são um zagueiro e um meia que participou de metade dos jogos. Os gols dos ditos atacantes de contam nos dedos de uma mão.
Anderson Aquino deveria conhecer o pensamento do centroavante Dario (do tempo em que ainda se chamavam centroavantes), o Dadá Maravilha, campeão pelo Coritiba e vários outros clubes: “Não existe gol feio. Feio é nâo fazer gol”.
Roberto, perdendo o gol que perdeu contra o Vitória e isolando a bola que definiria o mesmo jogo ao final quando tinha pela frente apenas um zagueiro e o goleiro adversários e ao lado dos companheiros livres, só ali mostrou suas limitações, confirmando o que já se diagnosticara em outros jogos.
Everton Costa é uma figura difícil de analisar, pela instabilidade. Em alguns jogos parece que vai deslanchar como foi no atleTIBA decisivo. Agora vai, muitos devem ter pensado. Que nada, hoje voltou a ser o Everton Costa da maioria dos jogos. Parece que vai fazer a grande jogada, prepara, avança e...erra o passe ou o chute. Tem quatro ou cinco minutos de boas participações e logo ali desaparece.
Quanto ao Marcel, vou me dispensar de fazer qualquer comentário, tantos foram os que já lançados sobre o desperdício de dinheiro que o Coritiba sofreu com a sua contratação. Hoje tive a convicção de que veio a Porto Alegre apenas para matar as saudades dos tempos em que esteve no Grêmio.
Caio Vinícius ainda não merece avaliação definitiva. É jovem, podemos dar um tempo.
Os três primeiros, Anderson Aquino, Roberto e Everton Costa podem compor o elenco, mas nunca como solução ou referência, no máximo como coadjuvantes de um verdadeiro atacante que temos ainda que encontrar.
Por enquanto, até que alguma novidade seja anunciada, resta a esperança do retorno do Keirrisson, desde que volte em boas condições físicas e com a mesma técnica que quando esteve em outros clubes parecia ter deixado no Coritiba.
Então, amigos, penso que o Coritiba deve tratar – suponho que já esteja tratando - de buscar atacantes que tenham faro para o gol, que não se importem se vão marcá-lo de “trivela”, ou “de letra”, mas sim se preocupem em colocar a bola para dentro. Sei que a missão não é fácil, pois eventuais bons atacantes disponíveis no mercado talvez não estejam ao alcance de nossa condição financeira. Mas será que não temos olheiros espalhados pelo interior do Brasil para ter a sorte que o Internacional teve em descobrindo Leandro Damião na várzea? Ou quem sabe algum jovem desponte nas categorias de base?
Há vagas. Admitem-se goleadores, diria um anúncio na parede externa do Couto Pereira.
Mas, repito, são constatações, episódica uma (a má jornada de hoje) e definitiva outra (a carência de atacantes). Não é o fim do mundo. Nada de já começar a perder esperanças. O resultado do ano é positivo, ganhamos o título que disputamos e estamos na disputa dos outros dois. A Copa do Brasil está logo ali, há três vitórias e dois empates, ou talvez mais empates desde que com gols fora de casa. O campeonato brasileiro é sabidamente o mais difícil do mundo e muito caminho ainda temos que percorrer, muito a conquistar. Se mais tarde, depois de não haver esperanças as hipóteses pessimistas se confirmarem, então estarei junto nas reclamações, mas sempre de modo construtivo. Por enquanto, confio, ainda que com ressalvas.
E quem sabe quis o destino que essa derrota tenha sido pedagógica, para que o time coloque as barbas de molho e se prepare melhor para o jogo contra o Vitória na quarta-feira, quando não podemos tomar gol, ou, se tomarmos, teremos que ganhar obrigatoriamente? Às vezes um tropeço nos ajuda na retomada do bom caminho.
Vamos todos ao Alto da Glória na quarta-feira. A força da torcida será fundamental. É o jogo mais importante agora e, por mais difícil que possa ser – e acho que será – vamos esquecer a má jornada de hoje ou outras e tratar de apoiar e empurrar o time. Não esqueçamos que um jogo pode ser decidido no primeiro, mas também no último minuto.
Sou sócio, ajudo a construir o meu Coritiba.
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