Bola de Couro
Já afirmei em coluna anterior que nós (não me excluo), torcedores de futebol, temos o costume de encontrar culpados imediatos para qualquer insucesso de nossa equipe, seja pela perda de um título, o que pode ser compreensível, ou seja por fracassos em alguns jogos, o que, conforme as circunstâncias nem sempre é compreensível.
Torcedores nunca são culpados. Se não nos associamos, ou se associados paramos de pagar quando o time vai mal, ou se vamos ao estádio para vaiar na primeira bola perdida, ou se compramos produtos “piratas” que não levam um centavo ao clube é direito que temos, afirmam alguns.
E o primeiro da lista de culpados, é sabido e ressabido, não falo nenhuma novidade, sempre é o técnico “burro”, “teimoso”, “medroso” etc. Às vezes, talvez poucas, a culpa fica no goleiro por falha grotesca ou outro jogador por perder o que se chama de gol feito ou desperdiçar uma penalidade máxima que poderia decidir o jogo. Mas essas responsabilidades são na maioria das vezes episódicas. O jogador que falhou pode ser substituído, e se voltar a jogar bem tudo será esquecido. Com o técnico não. Assim como os árbitros, que já entram em campo sob suspeita e vaias, o técnico de futebol desde a contratação é visto com desconfiança e sempre há um ou outro comentarista ou torcedor a culpá-lo diretamente por qualquer insucesso. Houve falhas individuais? Não importa, é o técnico.
É o que estou vendo em relação ao Marcelo Oliveira e tenho como injustiça. Quando ganhamos recordes e títulos, foi apesar dele. Quando perdemos, foi por culpa dele.
Sei que a posição que estou tomando talvez não seja a politicamente correta – para usar uma expressão em voga – pois sempre é difícil defender o técnico e, se ali adiante fracassar, talvez eu seja apedrejado tanto quanto ele. Mas penso que já está na hora de algumas ponderações justas a respeito do Marcelo Oliveira.
Primeiro, lembro que no ano passado Marcelo levou o time ao título do Campeonato Paranaense de forma invicta, com 20 vitórias e 2 empates. Entre os dias 3 de fevereiro e 5 de maio, conseguiu o recorde mundial de 24 vitórias seguidas, reconhecido pelo Guinness. Chegou à final da Copa do Brasil, perdida por causa da regra que bonifica os gols fora de casa, ocasião em que cometeu um erro inicial de escalação, sim, mas o corrigiu em tempo para mudar o resultado não fosse falha de atleta que não pode ser debitada a ele. No campeonato brasileiro, terminou na 8ª colocação, perdendo a vaga para a Copa Libertadores de 2012 em razão de derrota na última partida, quando toda a equipe, coletiva e individualmente se conduziu mal, foi irreconhecível. Ao menos restamos classificados para a Sul-Americana deste ano, competição que está aberta e que, pelo formato de torneio, poderá render sucesso.
Depois, neste ano foi campeão estadual em emocionante decisão contra arquirrival. Em março, Marcelo foi considerado pelo Institute of Football Coaching Statistics o melhor técnico do Brasil e o 14º do mundo nos 12 meses precedentes. Já está no comando técnico do clube há mais de cem jogos, igualando-se a poucos outros técnicos em nossa história. O clube está na semifinal da Copa do Brasil e, ainda que individualmente nosso time possa não ser o melhor dentre os quatro, o formato de torneio poderá nos levar ao título.
Por fim, lembro que ele comandou o segundo tricampeonato de nossa história e, em mais de cem jogos, tem aproveitamento próximo a 70%.
E tudo isso, chamo muito a atenção para o enfoque, muitas vezes “tirando leite de pedra”, já que temos um plantel modesto, principalmente neste ano. Ainda que tenhamos jogadores que são praticamente unanimidade como Vanderlei, Emerson e Tcheco, a verdade é que os demais são contestados aqui e ali e não temos nenhum verdadeiro craque, aquele que sozinho desequilibra ou decide uma partida.
Cotejem as campanhas do Coritiba com Marcelo Oliveira com as de outros anos, com outros técnicos. Além da época do Tim, nos anos 1970, e da conquista do Ênio Andrade em 1985, algum outro técnico foi tão vitorioso no Coritiba?
Marcelo Oliveira errou e errará, com todos os seres humanos é assim, em qualquer área de atividade. Mas é inegável que acertou muito, mas muito mesmo, mais do que errou.
Com convicção afirmo não ver razão para tantas críticas e para não continuarmos com o Marcelo Oliveira até o final do contrato. E nem para negarmos-lhe prestígio, crédito e confiança por tudo o que já conquistou conosco, na esperança de que mais conquistará.
Então, por que tantos o culpam pelos poucos fracassos e querem a sua saída? Gostaria de saber, mas com base em argumentos objetivos que contestem os que lancei aqui.
Sou sócio, ajudo a construir o meu Coritiba.
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