Bola de Couro
Domingo teremos mais uma final do campeonato estadual através de atleTIBA, dessa vez com a possibilidade de conquistarmos mais um tricampeonato, título raro para quase todos os clubes do Brasil. Embora o campeonato estadual seja praticamente centenário, somente quatorze títulos foram decididos diretamente através de finais em atleTIBAS e, em que pese a estatística do confronto geral nos seja largamente favorável, nas decisões não, pois eles conquistaram mais títulos do que nós na disputa direta.
Mais uma razão para concentração de esforços no domingo e mais uma razão para que o otimismo não se confunda com desprezo ao adversário e muito menos com descuido e autossuficiência, mãe certa de muitas derrocadas. Vamos entrar em campo confiantes, mas com os pés no chão. O adversário, embora na hora em que o coração fala e no calor da emoção da partida tendamos a dizer que não, tem valor sim – não tivesse não teria chegado até aqui – e não podemos nos descuidar.
Como disse o colega Gibran em coluna postada hoje, citando o folclórico Jardel : “clássico é clássico, e vice-versa”. Não há favoritismo em atleTIBA ou qualquer clássico. O imponderável seguidamente acontece, a ansiedade às vezes resolve um jogo, um erro pode ser fatal. Um craque muitas vezes se esconde do jogo e um atleta de quem não se espera muito desponta e decide. Sem contar eventuais erros de arbitragem que, no domingo, embora os queixumes do senhor da baixada, se estiver condicionada será em favor deles tantas e tantas foram as lamúrias para desviar o foco.
Mas quero abordar outro enfoque antes do resultado, e o faço desde já para evitar que, caso sejamos campeões – o que, como vocês desejo com todas minhas forças – não me entendam oportunista (presumo que ninguém pensaria assim, já me conhecem bem, mas...). Ou, se perdermos (sai prá lá!) não pareça que estou tentando salvar a pele de alguém.
Sei também que vou desagradar a alguns. Mas desagradar no campo das ideias, pois a todos os companheiros colunistas e a todos os leitores tenho-os como amigos virtuais que suprem a minha saudade por estar fisicamente longe de Curitiba e do Coritiba e sei que os que vão divergir o farão na mesma medida. Sempre que polemizo lembro-me do que dizia Rousseau “Quem quer agradar a todos não agrada a ninguém”.
Pois bem, vamos à opinião.
Refiro-me ao Marcelo Oliveira que, se formos campeões no domingo, para alguns será apenas um pouco responsável dentre tantos, ou outros dirão que vencemos “apesar dele”. Mas, meus amigos, se a catástrofe de uma derrota (vade retro!) ocorrer, alguns serão dados como culpados, mais o maior deles sem dúvida será o treinador (no inconsciente de alguns já o é). A vitória terá muitos pais. A derrota (sai prá lá, xô!) será quase órfã, muitos se escusarão da responsabilidade, e poucos aceitarão a paternidade. Dentre esses, aceite ou não a paternidade, ela será imediatamente imputada ao Marcelo Oliveira, mesmo sem exame de DNA e ainda que a causa seja uma gritante falha individual ou um crasso erro de arbitragem.
É costume arraigado no torcedor brasileiro culpar o treinador pelo fracasso do seu time e raramente dar-lhe crédito pelas conquistas, sei bem disso. É uma conduta cultural que jamais será mudada e nem eu tenho a pretensão de querer nestas poucas linhas e neste modesto espaço mudar.
Mas haja o que houver no domingo, proponho algumas reflexões aos amigos leitores.
Fiz uma incursão junto à Wikipédia. Sei de sua limitação e que a confiabilidade não é absoluta, mas foi o único site em que encontrei as estatísticas que buscava sobre treinadores de renome para comparar com o desempenho do Marcelo Oliveira.
Vou iniciar pelo louvado Vanderlei Luxemburgo, desconsiderando o período em que está no Grêmio, o qual comandou por apenas 10 jogos, onde, embora o bom número de vitórias, não conseguiu chegar nem a decidir o campeonato estadual. Nos dois anos em que a Wikipédia registra o percentual de aproveitamento do Luxemburgo, 2009 (Santos) e 2010 (Atlético-MG), foram eles de 49,9% e 52,8%, períodos que incluíram campeonatos estaduais e nacionais.
Outro renomado técnico, campeão da América, Muricy Ramalho, consta do mesmo site com a seguinte campanha em 2010/2011 (não há dados de 2012): Fluminense 65,6% - Santos 58,9%, também abrangendo campeonatos estaduais e nacionais.
E Felipão, técnico campeão do mundo pela seleção brasileira, hoje no Palmeiras, e que, segundo o mesmo site afirma, embora não apresente um quadro ano a ano: “Assinou o contrato no dia 15 de julho de 2010. Até o momento possui um aproveitamento de 58%” (edição atualizada em 26 de abril de 2012). Isso nos campeonatos estaduais e nacionais em que comandou a equipe.
Pois bem, o Marcelo Oliveira teve aproveitamento de 68% em 2011 e em 2012 até agora tem de 76% (provavelmente o percentual talvez deva baixar no campeonato brasileiro, mas torço para que não). É o melhor dentre os quatro, sem dúvida.
São apenas números, dirão alguns, o time nem sempre joga bem. Mas ao fim e ao cabo, as disputas não se resumem a números, a pontos ganhos? Alguém pode apontar algum time vitorioso que sempre venceu e convenceu, afora talvez a seleção brasileira de 1970? E o material humano à disposição do Marcelo Oliveira neste ano, não é um tanto inferior ao do ano passado? Diz-se que o time não é ofensivo, a despeito de ter um dos melhores ataques do país. E isso contando com jogadores apenas medianos como Anderson Aquino e Roberto, e mediocridades, para não dizer mais, como Marcel e Caio Vinícius, estando em tratamento o figurante Everton Costa. Com tais atletas, diga o leitor em são consciência, é possível exigir que o Coritiba seja mais ofensivo? Na verdade, as limitações orçamentárias do clube, que ainda está em gradual e seguro processo de refundação desde a catástrofe de 2009, não permitem contratações de impacto. Temos que esperar que algo desponte das categorias de base ou que o Keirrisson se recupere física e tecnicamente. Não há como culpar o treinador porque os artilheiros do time são um meia e um zagueiro. A incompetência é dos atacantes e não do esquema.
Eu sei, ele errou, e feio, na final da Copa do Brasil com a escalação esdrúxula do Marcos Paulo. Mas se de um lado corrigiu o erro ainda em tempo para uma virada do placar, não contava com a falha grotesca do Edson Bastos e nem com a negação de um pênalti claro pelo árbitro. Por outro lado, ninguém pode ser condenado eternamente por um erro se depois demonstra esforço, aptidão e recuperação. Lembro-me que na Copa do Mundo de 1982 o Telê Santana errou feio por arrogância ao comandar a seleção no jogo contra a Itália, organizando um esquema festivo e ofensivo de modo a desclassificar o Brasil com derrota contra a Itália que até ali sobrevivia com empates e só jogava nos contra-ataques. Se por isso tivesse sido execrado, em 1992 e 1993 não teria sido bicampeão do mundo pelo São Paulo F.C. Um erro não pode marcar uma pessoa como o ferro em brasa marca o gado.
Era isso amigos. Se formos tricampeões domingo, todos o seremos e cada qual terá sua parcela proporcional pelo sucesso, direção, comissão técnica, técnico, atletas e torcedores, em especial os associados. Se não formos (sai prá lá!), todos também seremos responsáveis, na mesma proporção. O Coritiba é uma organização dentro da qual todos nós fazemos parte, desde a base que são os torcedores e associados, passando por atletas e comissão técnica e até a direção maior. Devemos dividir as glórias e os fracassos (sai prá lá de uma vez por todas!). Ninguém será campeão sozinho e ninguém será responsável por um eventual fracasso sozinho.
Até a vitória.
Desculpem se fui extenso, mas não tive tempo para ser sintético.
Sou sócio, ajudo a construir o meu Coritiba.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)