Bola de Couro
Está havendo um sensível desânimo entre os torcedores do Coritiba, sentimento do qual sofro um pouco também, e que sem dúvida é gerado tanto pelo potencial risco de rebaixamento do clube para a série B, como por sentir – digo “sentir”, pois as notícias não são claras – que estariam havendo algumas dificuldades na administração, problemas que chegam no pior momento possível, quando precisamos de união para nos reerguer e não morrermos abraçados.
Já deitamos falação sobre tudo o que vem acontecendo de errado nos últimos tempos. Más contratações, erros técnicos, lesões que aparecem como que do nada, erros de arbitragem desfavoráveis (embora nem tanto, afora no confronto ente o clube e a copa patrocinada pela Kia). Todos nós, colunistas e comentaristas, escrevemos o que pensamos sobre o time e o seu futuro, uns mostrando pessimismo, talvez mais próximos da realidade, outros nem tanto, confiando “com um pé atrás”, e outros ainda sempre confiantes que ultrapassaremos mais essa. Alguém, no final do ano, irá acertar seu prognóstico, espero que os últimos.
Mas amigos, se o time que temos é esse, se não é mais possível reforçá-lo em razão do calendário, se mesmo que fosse possível o encarregado de fazê-lo mostrou-se muito infeliz neste ano e sai do barco exatamente na hora em que ondas fortes se aproximam, e se temos no comando técnico dois iniciantes – aliás, os dois ao mesmo tempo no banco e à beira do gramado é um erro, mas não vamos tumultuar mais as coisas – temos que enfrentar os riscos com essas mesmas armas, já que não dispomos de outras.
Por isso, se alguns deixaram ou estão deixando o comando da equipe como que se resguardando para não figurar na lista caso a catástrofe de um novo rebaixamento ocorra, se colunistas e torcedores estão entendendo que a luta talvez esteja perdida ou quase perdida, penso que a hora é de outro pensamento, o de incentivo. Não incentivo com um otimismo sem fundamento, na linha dos preceitos de autoajuda que vendem tantos livros, mas sim de um engajamento, uma sintonia forte entre a torcida e o time, um reforço das arquibancadas.
Vamos esquecer um pouco as deficiências dos pretensos craques que constituem a maioria do time, vamos esquecer erros administrativos e técnicos, vamos esquecer as decepções que sofremos a partir da conquista do tricampeonato estadual. Tratemos de ocupar e encher as arquibancadas com nossas camisas e bandeiras – do clube, e não de torcidas que torcem para elas próprias – e tornar um Couto Pereira um quartel de sadia guerra, tentando transformar os atletas pelo menos em guerreiros comprometidos.
Todo o jogo é fundamental e não será o último que poderá nos tirar da zona da catástrofe. Os pontos ganhos em qualquer rodada terão o mesmo peso ao final, salvo quando jogarmos e ganharmos dos concorrentes diretos que tentam fugir da zona de degola, quando então sim serão mais importantes.
Sei que só bravura não ganha jogo, já disse isso aqui por mais de uma vez. Mas se nosso elenco é limitado, para este ano a realidade o que nos resta é a de apelar para a alma, para o coração, para o sangue nos olhos ou para o coração no bico da chuteira para repetir chavões que mais do que nunca são apropriados.
Nada de deixar pagar a contribuição de sócio. Nada de só ir a grandes jogos quando parece que a atração é mais o time visitante do que o nosso. Nada de vaias precipitadas e de desestímulo. Pelo contrário, vamos dar um abraço virtual no clube, pois, repito o que todos sentem, uma nova queda terá consequências catastróficas imensuráveis.
Se a conquista que nos resta para este ano é a de chegar ao final e respirar aliviados, que seja. E que o susto sirva para a direção do clube rever alguns conceitos, notadamente no futebol e em saber em quem confiar. Depois, já que não haverá lugar para euforia, pois se manter na primeira divisão será apenas um consolo, só então vamos partir para a cobrança visando a que de 2013 em diante o Coritiba alcance o patamar com o qual tanto sonhamos e a tal fomos autorizados com as campanhas de 2010 e 2011.
Vamos ao Couto quartas, sábados e domingos, faça chuva ou faça sol. O Coritiba é maior do que o momento que vive e se algo os torcedores podem fazer é apenas isso, mas é apenas e muito ao mesmo tempo. Vamos torcer para que, ao final do ano, os otimistas tenham razão.
Dizem que quando um navio está sob o risco de afundar, os primeiros que o abandonam são os ratos. Nós, torcedores do Coritiba, não somos ratos, somos homens e mulheres idealistas que têm o clube como parte de suas vidas. Não afundaremos com ele, trataremos de mantê-lo flutuando até que possa, reformado, voltar a singrar os mares com altivez.
Estou sendo piegas, exagerando no apelo à comoção, melodramático ou o que seja? Aceito eventuais críticas nesse sentido. Mas é o que posso fazer, usando, como modesto escriba, a ferramenta à minha disposição que é esta coluna e a distinção que tenho recebido por vê-la bem acessada
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