Bola de Couro
Passei a ocupar este espaço em outubro de 2010 com muito orgulho por integrar uma equipe da qualidade dos Coxanautas, sítio esportivo dos mais respeitados e acessados do Brasil. Desde então escrevi dezenas de colunas, cada uma com um número maior ou menor de comentários. Em nenhum texto obtive unanimidade, o que é muito bom que tenha ocorrido uma vez que as divergências são fundamentais que sejam expressas para quem manifestou a opinião poder refletir. Alguns comentários discordaram frontalmente do que escrevi, outros concordaram com ressalvas e outro tanto apoiou integralmente o pensamento exposto na coluna. Sempre tive como fundamental em minha vida o respeito à divergência quando expressada de modo fundamentado e sem agressividade.
Mas por que estou fazendo esta introdução?
É porque hoje sou eu que vou discordar, em parte, do pensamento que reina dentre alguns desde a derrota para o Fluminense.
Jogamos bem e só em razão de uma falha do Deivid tomamos o primeiro gol que nos desestabilizou nos minutos seguintes, retomando as ações só depois de superado o impacto emocional decorrente? Sim, sem dúvida.
Perdemos três possibilidades claras – Lucas Claro, Lincoln e Rafinha - de empatar ou até vencer o jogo? Sim, embora eles também tenham perdido em razão de duas defesas importantes do Vanderlei.
Jogamos com bravura e valentia, não desistindo até o último minuto? Também é incontestável.
Foi um jogo onde o empate ou nossa vitória poderia acontecer em razão do volume do jogo?
Concordo.
Perder para o líder do campeonato em sua casa – desta vez sem ajuda da arbitragem – é resultado que pode ser esperado e não desmerece o derrotado? Mais uma vez estou de acordo.
Mostramos ao Brasil que o Coritiba atual é outro em relação há dois meses? Mostramos.
Mas pessoal, nós perdemos!
Assim, embora todos os fatores acima devam ser reconhecidos e sejam incentivadores para os próximos jogos – os quatro próximos muito difíceis – nada há para comemorar. Foi uma apresentação que não permite a ninguém ficar indignado ou inconformado com o time, ao contrário de outras derrotas, mas repito, nós perdemos, nada há a comemorar. E por favor, que ninguém se precipite em dizer que eu preferiria perder com uma má apresentação. Nada disso. O que estou tentando dizer é que quando o time tem uma má apresentação podemos ficar revoltados e reclamar. E que quando atua bem, mas mesmo assim perde, como no caso em comento, aqueles sentimentos não são cabíveis, pelo contrário, devemos reconhecer a boa apresentação e o esforço. Mas nada além disso.
A propósito, lembrei-me do jogo contra o São Paulo no ano passado, em casa, quando perdemos por 4 x 3 e o adversário abriu o placar de 4 x 0 com dois gols do Eltinho (ops. dois gols propiciados pelo Eltinho) e iniciamos uma bela reação, terminando o jogo em 4 x 3 e por pouco não empatando. Nunca aceitei a comemoração da torcida com o resultado naquele dia. Poderia ter ficado, tal como quanto ao último jogo, satisfeita com a apresentação e o poder de reação. Mas dai ao final do jogo cantar “Eu sou coxa-branca, com muito orgulho...” vai uma grande diferença.
Clube de futebol que quer ser grande no cenário nacional e internacional não pode se orgulhar de derrota. Conformar-se pode, quando a equipe joga muito bem e os azares do futebol levam ao mau resultado. Mas de que nos adiantaria se durante a maior parte do campeonato fizéssemos apresentações como a de quinta-feira, mas perdêssemos os jogos? O que a história registraria: as boas apresentações ou a colocação na tabela?
Perdoem-me os que pensaram do modo que hoje contesto. Respeito-os e defendo irrestritamente o direito de dizer em contrário.
Mas, esperando há tanto tempo por uma nova conquista nacional e, no embalo dela, uma internacional eu não posso festejar qualquer derrota do Coritiba, por mais honrosa que tenha sido. Isso seria conduta aceitável para um time como o Ipatinga que, na hipótese de derrota para o atual Fluminense, no Rio de Janeiro, tivesse tido atuação parecida com a nossa. Para eles seria o caso de festejar, de a torcida receber no aeroporto ou até de desfilar em carro aberto pelas ruas da cidade.
Mas para nós não. Para quem quer ser grande além das fronteiras das araucárias, não há - mais uma vez ressalvo o respeito por quem pensa diferente - razão para comemorar qualquer derrota, venha ela como vier. Este é o pensamento que, no meu sentir, distingue os clubes ditos grandes e vitoriosos nos cenários nacional e internacional dos que pensam em chegar ao mesmo patamar.
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