Bola de Couro
Na próxima sexta-feira, 12 de outubro, feriado nacional para mim também por causa dessa comemoração, o Coritiba completará 103 anos de pujante vida.
Sei que o momento não é muito bom para o clube. Ainda não afastamos o risco de um novo rebaixamento, o que seria catastrófico, e no jogo de quinta-feira poderemos ter novas perspectivas a respeito, espero que positivas. Mas é festa de aniversário, amigos! Mesmo que o dia da comemoração nos encontre ainda mal colocados na tabela, mesmo que tenhamos insatisfações quanto a um ou outro ponto em relação ao time e a sua administração, a comemoração de nossa história deve sublimar quaisquer sentimentos negativos.
Sabemos que já passamos por maus momentos em nossa trajetória, mas eles constituem minoria e sempre deles soubemos nos reerguer. Sofremos um injusto rebaixamento por força de um “canetaço” e três por deficiências técnicas, o último deles levando o Coritiba à execração pela má conduta de alguns torcedores, que a mídia tentou estender ao clube e sua torcida como um todo, mas nos reerguemos. Temos dívidas irresponsavelmente acumuladas por gestões que não se conduziram bem nesse aspecto, as quais certamente concorrem para que não cresçamos como queremos.
Mas e daí? Isso vai impedir comemorar uma história tão bonita como a nossa? Alguns tropeços de pouquíssimos passos não podem manchar a longa caminhada desenvolvida e as várias conquistas alcançadas nesses 103 anos de vida. Vamos esquecer os maus momentos e lembrar-se dos bons. É assim também que procuramos nos comportar em nossas vidas. Quando um amigo ou familiar comemora aniversário, quando um casal festeja bodas, nas festas de formatura, enfim em tantas outras ocasiões deixamos de lado ressentimentos para lembrar os bons momentos que vivemos com aqueles. Tratemos de comemorar o aniversário daquele que faz parte de nossas vidas, relembrando seus bons momentos e glórias.
Pois então desde já quero me orgulhar da história do meu clube que, em 98 (noventa e oito) campeonatos estaduais disputados, obteve 36 (trinta e seis) títulos, uma média superior a 1/3, ou mais do que um título a cada 3 (três) anos. É o único que conseguiu um hexacampeonato e o que por mais vezes o foi de modo invicto. Os dois rivais da capital, somados, não alcançam o nosso número de títulos estaduais.
Quero saudar o primeiro clube do futebol brasileiro a adotar as cores alviverdes, associando-as às do seu Estado. Quero saudar o clube que tem nome único no Brasil. Que não copiou o de clube de outro Estado e nem as suas cores.
Saúdo o único clube de Curitiba que construiu seu estádio com recursos próprios, oriundos dos seus associados e torcedores, nunca recebendo um saco de cimento pago com dinheiro público, enquanto o principal rival o faz de modo escandaloso e o outro utiliza estádio construído por estatal ferroviária. A propósito me vem à lembrança o orgulho com que meu saudoso pai contava que esteve no jogo da inauguração do então Belfort Duarte, com 16 (dezesseis) anos de idade, e da sua emoção ao ver um avião fazer um voo rasante e lançar a bola do jogo. Não esqueço que, também muito jovem, estava no estádio quando simbolicamente foi iniciada a derrubada das sociais de madeira para o começo da reconstrução que redundou no atual Couto Pereira. Aliás, parece que a propósito do estádio no dia do aniversário receberemos o que a diretoria está denominando de “presente”, mas sobre tal enfoque prefiro cautela e aguardar o que virá para então comentar. De qualquer modo, sem dúvida é alvissareiro saber que algo está sendo feito quanto ao velho Couto ou sua nova casa.
Regozijo-me com o primeiro clube paranaense a ser campeão brasileiro, decidindo o título em partida única, fora de casa, com 90% da torcida presente no estádio torcendo contra os bravos 10% de coritibanos que foram ao Rio de Janeiro com esperanças e voltaram com a glória.
Orgulho-me do clube que está cinco lugares no ranking da CBF à frente do rival local. É o 13º no ranking nacional, ou seja, o primeiro logo após os 12 (doze) maiores clubes do eixo Rio-São Paulo-Minas Gerais-Rio Grande do sul. No ranking mundial atual (IFFHS) é o 109º do mundo, o 7º do Brasil.
Vibro com a lembrança do meu time campeão do Torneio do Povo, campeonato nacional de expressão na época e para o qual eram convocados somente os clubes com maior torcida dos maiores estados, daí a nossa participação.
Tenho convencimento de que somos a maior torcida dentre os times de Curitiba, pois em quase todos os anos temos a maior média de público do futebol paranaense nos campeonatos estaduais e nos nacionais. Saúdo a torcida, em especial aos que são associados, e também em especial àqueles que, associados ou não, vão aos jogos com camisas e bandeiras do clube.
É pouco?
Pois lembremo-nos então que o Coritiba detém o recorde mundial de vitórias consecutivas.
Mostremos a todos que, embora fundado pela colônia alemâ em Curitiba, o Coritiba foi o primeiro clube paranaense a ter em seus quadros um atleta negro, Moacir, em 1931, em tempos nos quais o racismo ainda era forte (a abolição da escravatura não tinha completado 50 anos e seus efeitos ainda se faziam presentes), enquanto o rival, por muito tempo só integrado pela aristocracia (lembram que o seu símbolo era um torcedor de fraque, cartola e monóculo?) e por políticos (estes parece que até hoje), só teve o primeiro afrodescendente vestindo a sua camisa em 1962 (Amauri), quando já haviam decorrido cinco anos do começo da luta de Martin Lhuter King nos EUA em defesa da não segregação racial.
E importante é que não nos esqueçamos também de que o Coritiba é o maior vencedor de atleTIBAS, com folga. E que é também o maior vencedor de paraTIBAS, assim como o era perante o clube gênese daquele, o Ferroviário.
Enfim, amigos, indiscutivelmente o Coritiba é o maior clube de futebol do Paraná e, na comparação com o rival, em face dos dados que antes lancei também é o time paranaense com maior expressão perante o Brasil.
Claro, queremos muito mais. Queremos um dia, e logo se possível, avançar na cotação dentre os melhores do Brasil. Queremos outro(s) título(s) nacional(is) em campeonatos de elite. Queremos, por que não, um campeonato continental. Como sonhar é o impulso para tornar os desejos em realidade, por que não sonhar com um título mundial? Nada é impossível para quem mira grandes alvos e se dedica com competência a atingi-los. Não me lembro de quem é a frase, mas é apropriada: “Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade”.
Parabéns, Coritiba. Parabéns, dirigentes, atletas e demais profissionais. Parabéns principalmente aos torcedores, a razão e fundamento do clube.
Que nosso aniversário deste ano seja ponto de partida para uma nova fase de glórias.
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