Bola de Couro
A polêmica continua, Marcelo Oliveira deve ou não permanecer no comando técnico do Coritiba?
Muito se escreveu e tem sido escrito aqui no site, nas colunas e comentários, sem contar nos programas esportivos e a voz das ruas. Uns entendem que ele deve ser defenestrado de uma vez por todas por ser o culpado da má fase do time e pela perda da Copa do Brasil, enquanto outros sustentam que não é bem assim, seja porque já teria feito muito, ou seja porque alguns jogadores não estão colaborando, ou seja ainda porque as condições financeiras do Coritiba não permitem buscar um técnico melhor no inflacionado mercado do futebol onde qualquer Dorival Jr. cobra R$ 500.000,00 por mês.
Já afirmei aqui que Marcelo Oliveira tem crédito, embora não imunidade, e que errou feio na mudança tática e consequente escalação na final da Copa do Brasil, sendo fator fundamental para que perdêssemos o título (ao lado da falha grotesca do Edson Bastos para a qual o técnico não concorreu). Porém, como disse em outras ocasiões, nós, torcedores, temos o hábito de encontrar sempre no técnico o primeiro culpado, a “Geni” da música do Chico Buarque, como se apenas uma troca de nome no comando pudesse tudo resolver, num estalar de dedos ou num toque de Midas.
Também escrevi que, em face de alguns desacertos do técnico, aquele da final da Copa do Brasil e a insistência com Eltinho, por exemplo, a direção estava obrigada a intervir. Falei em “chutar a porta do vestiário”, evidentemente uma linguagem figurada, para dizer que alguma atitude deveria ser tomada.
Isso posto, vou mais uma vez me posicionar, provavelmente sujeito a críticas, duras ou não, mas sempre leais, e suportá-las democraticamente é o ônus de quem tem e expressa sua opinião e sabe conviver com a divergência respeitosa, ainda mais em um veículo que tem milhares de acessos como os Coxanautas. Escrevo antes do jogo de domingo, tanto para não ser influenciado pelo resultado, como para não parecer comentarista de ocasião.
Primeiro, registro a premissa de que a diretoria “chutou a porta do vestiário”, sim, ou seja, interveio como se viu das notícias dos últimos dias. Prestigiou publicamente a comissão técnica mas, mesmo não conhecendo as entranhas do Coritiba, tenho certeza de que internamente deve ter havido cobrança forte. O Coritiba, desde que o Vilson assumiu, mantém seus problemas e conflitos sob controle interno, no que faz muito bem, pois tal conduta não gera crises. Ou alguém imagina que a direção iria se reunir com a comissão técnica para dar entrevista coletiva e dizer que deu um “puxão de orelhas” na última, desmoralizando-a em público? Claro que não. O assunto é de economia interna e pirotecnia, como bem colocou nota que a direção expediu há poucos dias, que fique com o outro lado.
Assim, na minha opinião o problema da decadência do Coritiba em relação ao primeiro semestre deste ano não está ligado somente – e nem principalmente – ao Marcelo Oliveira, embora também a ele que, por tudo o que já sentiu, leu e ouviu deva se corrigir. Aprender com os erros também é meritório e leva ao crescimento de qualquer um. Se o Marcelo Oliveira souber assim agir, a parcela de responsabilidade que tem pelo momento ruim será superada.
Digo apenas parcela de responsabilidade, porque outros fatores têm concorrido para nossa queda. Vou elencá-los rapidamente.
A falta ou má escolha de reforços, responsabilidade da Diretoria. De Evérton Costa, já falei em coluna anterior, pelo que vi em duas temporadas aqui no RGS não espero nada, embora vá ficar muito satisfeito se ele me contrariar – não com uma ou duas boas apresentações apenas, mas alguma sequência e especialmente contra times de “camisa” forte – pois se o fizer será para o bem do Coritiba. Gil, pelo que vimos nos poucos jogos de que participou, não somou nada. Será uma promessa? O desconhecido Caio Vinícius continua desconhecido não podemos avaliá-lo. Nada mais virá?
Marcos Aurélio, o senhor do time no primeiro semestre, há muito vem jogando mal e sem empenho (atenção, fãs, disse que “vem” jogando mal e não que é mau jogador). Enquanto ele não voltar a ser o que já foi, não tem lugar no time, onde será fundamental desde que retome o bom futebol.
Irregularidade de Léo Gago. Já disse em outra ocasião que ninguém desaprende a jogar futebol. O que me parece deve estar ocorrendo com Léo Gago é uma estafa, não tanto física, mas psicológica, pois deve ser o atleta que mais participou de jogos desde o começo do ano, inúmeros deles decisivos. Talvez um pequeno descanso fosse interessante.
Perda da velocidade. Por paradoxal que possa parecer, o crescimento do Tcheco no time veio junto com a queda de rendimento. Não será porque ele, mesmo que muito bom jogador, dá um ritmo lento, diferente daquele que o time apresentava no primeiro semestre, quando a bola chegava ao ataque em três ou quatro toques?
E Davi? Este, ou melhor, a falta deste, também está sendo fundamental e só em relação a ele eu me atrevo a dizer que, ao que parece, a exceção confirma a regra: é possível desaprender a jogar. Onde foi parar o Davi articulador e goleador? O que Davi passou a temer que a cada encontrão dos adversários deita e rola pelo chão como se um trator o tivesse atropelado? Por que o desinteresse durante os jogos, mesmo depois de renovado o contrato, como se viu na partida contra o Flamengo? Claro que agora, afastado para tratamento, não seria de bom tom falar nas suas falhas, mas a verdade é que antes da inflamação seu futebol tinha desaparecido. Espero que, curado, cure também o empenho e a técnica.
Já nem falo nas deficiências do Eltinho, pois parece haver unanimidade a respeito, e nem na gritante diferença entre o Pereira e o Jéci (por que não o Demérson?), e também na relativa falta de confiança que Edson Bastos inspira (é um bom goleiro, sim, bom, mas não mais do que bom, não ótimo e nem excelente).
Enfim, amigos, cada leitor pode concordar ou discordar de uma ou outra avaliação, ou pode incluir a sua visão, mas o problema me parece não é o técnico, ou pelo menos não é só o técnico, ainda que ele já esteja na história (história positiva pelo que conquistou do início do ano até o último jogo da Copa do Brasil, e história negativa pela aventura que cometeu neste). Como ocorre em qualquer equipe, ou mesmo em empresas e entidades, é o conjunto que não está funcionando bem e a mera troca de técnico não será solução.
O chute na porta, ao que está implícito do noticiário, a diretoria já deu. Vamos dar tempo ao tempo.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)