Bola de Couro
Finalmente o futebol brasileiro se livrou da triste figura do presidente da CBF Ricardo Teixeira, alçado ao posto em 1989 na sucessão do sogro João Havelange, como se a entidade fosse uma capitania hereditária.
Muito se tem falado e escrito sobre os acertos e desmandos do indigitado, restando como certo que, acossado por investigações e denúncias no Brasil e na Suiça, resolveu se desfazer dos seus bens e se homiziar em Miami. Quase nada há mais a dizer a respeito.
Mas poucos têm se lembrado do mal que praticou contra o Coritiba, cujas consequências talvez perdurem até hoje.
Para os que não sabem ou não lembram – e peço aos amigos que me subsidiem com dados caso dê alguma informação incorreta, pois na época não havia facilidades nos meios de comunicação e daqui do RGS acompanhei tudo apenas pelo rádio – em 1989 ele nos rebaixou, em ação autoritária, injurídica e ditatorial para a série C do Campeonato Brasileiro, tão somente porque buscava o Coritiba igualdade de tratamento no campeonato brasileiro.
Deu-se que na última rodada da primeira fase daquele campeonato – na época com chaves e “mata-mata” - o Coritiba deveria jogar contra o Santos na cidade de Juiz de Fora, eis que fora punido com a perda de um mando de campo (Aqui um parêntese, nossa torcida às vezes é autofágica pois a punição decorreu da invasão do campo de um tresloucado que queria agredir ao goleiro Rafael no jogo contra o Sport, vencido por 2 x 1, e daí todas as consequências).
Previsto o jogo para aquela cidade, e os resultados da rodada interessando a todas as equipes que buscavam a classificação, a CBF, já então arbitrariamente, o marcou para o sábado, deixando o Vasco – que disputava a mesma vaga – enfrentar o Sport no domingo, ou seja, já sabendo qual o resultado que necessitaria conforme fosse o do jogo do dia anterior.
O Coritiba, em decisão que até hoje não é pacífica – eu nunca concordei com ela – conseguiu uma liminar que lhe assegurava o direito de jogar no domingo, e assim não entrou em campo em Juiz de Fora no dia marcado, sendo o Santos declarado vencedor por W.O.
Dois dias depois a CBF conseguiu cassar a liminar e, por ato monocrático do estreante Ricardo Teixeira – nada como uma demonstração de força para marcar território de quem assume um cargo, “se queres ver o poltrão, dá-lhe o bastão”, diz o ditado popular – perdeu cinco pontos e foi suspenso de competições oficiais por um ano, devendo reiniciar sua participação somente em 1991, na série C. Foi dado o recado, que ninguém desafie o rei, e o Coritiba foi o portador.
Assumiu a presidência do Coritiba Jacob Mhel que, com o auxílio de políticos e outras pessoas influentes, conseguiu um acordo com a CBF de modo a não ser suspenso e poder disputar em 1990 a série B.
Como tínhamos um excelente time em 1989 (Oswaldo, Tostão e outros), com chances de disputar o título, pensou-se que sem dúvida em um ano o clube voltaria à elite.
Ledo engano (não quanto à qualidade da equipe, mas quanto ao retorno). Não voltamos em 1990, e em 1991 fizemos uma excelente campanha e disputamos a vaga de acesso contra o Guarani de Campinas. No jogo decisivo, lá em Campinas, interveio o braço da CBF. José Roberto Wrigth anulou um gol legítimo do Chicão e continuamos na série B. Afinal, se voltássemos logo em seguida, o castigo teria sido pequeno.
A partir daí, como na época os clubes se sustentavam quase que exclusivamente da renda dos jogos e das mensalidades dos sócios, vivemos a pior fase da nossa história. Sem dinheiro, desmontamos o time. Sem time, desmotivou-se a torcida. Sem torcida não vinha dinheiro e assim ficamos em um ciclo vicioso. Permanecemos na segunda divisão até o retorno em 1995 e somente voltamos a ser campeões estaduais em 1999.
Enquanto isso, dívidas se acumularam, principalmente as fiscais que até hoje estamos pagando.
Ricardo Teixeira alega ter renunciado por questões de saúde. Se for esta a motivação – não acredito, penso que foi o cerco das denúncias e processos – desejo que a recupere e viva muito ainda. Viva para sentir o que é o vazio da perda do poder Sentir que ninguém mais o bajulará, que a ninguém mais pode atingir e que não privará mais da intimidade de autoridades e nem será convidado para eventos significativos. Para qualquer homem que não sabe que seu poder é apenas delegação da sociedade, é temporário e deve ser exercido democraticamente, a perda deve doer muito. Que fique no ostracismo e na depressão dele consequente, e que para sempre seja considerado “persona non grata” para a torcida do Coritiba.
Reeditei o texto, corrigindo dados equivocados que me foram alertados pelos amigos comentaristas.
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