Bola de Couro
A história do jornalismo esportivo paranaense, em especial no que se refere ao Coritiba, nunca poderá ser contada com exatidão se não tiver em destaque o nome do jornalista Vinícius Coelho.
Em breve relato, pois os amigos leitores certamente sabem quem é, e especialmente o que representou para o Coritiba, Vinícius Coelho transitou por vários meios de comunicação de Curitiba, sendo sua especialidade a crônica escrita, cuja qualidade o levou a ficar por cinco anos no jornalismo carioca, isso em época em que o Rio de Janeiro tinha um futebol de respeito que disputava a hegemonia com os paulistas de igual para igual e os seus jornais eram os principais do Brasil e lidos em todo o território nacional. Com saudades da sua Curitiba, e especialmente do seu Coritiba, ficou apenas alguns anos no Rio de Janeiro e aqui retomou a pena e a voz em defesa do nosso time até poucos anos atrás.
Foram décadas de dedicação ao jornalismo desportivo – passando até pela atividade musical, pois há um hino informal do Coritiba composto por ele ao início dos anos de 1970 – até que dois fatos interromperam suas atividades. Um, decorrente de um erro de avaliação e conduta do próprio Vinícius, e outro trágico e que certamente lhe causou uma dor imensurável – podemos imaginar, mas jamais avaliar e nem sentir - e que todos conhecem não sendo aconselhável aqui abrir feridas.
O erro a que me refiro foi o de se partidarizar na última disputa eleitoral no Coritiba, usando sua coluna em favor de um grupo e em detrimento de outro, em termos às vezes exagerados. Não que um jornalista não possa se posicionar a respeito de eleições no seu clube do coração, mas na ocasião Vinícius passou do tom. A sinceridade com que digo isso é a mesma com que lhe faço elogios no restante.
A partir de então, ele foi condenado a uma espécie de exílio, estando afastado de qualquer atividade jornalística e, ao que tenho notícias (por terceiros, pois nem sequer o conheço pessoalmente), sem participação ou convivência no clube que tanto ama e ao qual muito se dedicou.
Isto posto, vamos usar daquelas balanças antigas – talvez a maioria dos leitores não as tenha conhecido – que continham dois pratos, num dos quais se colocava a mercadoria e em outro os pesos para aferição. Se fizermos isso, colocando em um prato toda a vida dedicada ao Coritiba pelo Vinícius e no outro o erro que cometeu antes de se afastar – ou ser afastado – do jornalismo desportivo e do clube, o primeiro prato sem dúvida quase tocará o balcão enquanto o segundo penderá no alto, tamanhos foram os serviços prestados ao clube por quase toda uma vida e que não podem ser apagados por uma atitude equivocada.
E é assim que devemos fazer julgamentos de uma vida, pois se formos efetuá-lo apenas por alguns ou pelos últimos atos de alguém, provavelmente não seremos justos. Não poderíamos, me ocorre, ter Evangelino Neves como nosso “Campeoníssimo” (título de um livro do Vinícius em coautoria com Carneiro Neto) e o maior dirigente do futebol paranaense de todos os tempos, pois se ele teve pleno sucesso nas gestões de 1967 a 1979 e 1982 a 1987, o mesmo não ocorreu na sua última passagem pelo clube de 1992 a 1994. Alguém teria a coragem ou a insanidade de dizer que Evangelino não foi um grande Presidente, o melhor de todos até agora, apenas porque fracassou em seu último mandato? Evidente que não, o prato da balança pesa todo em seu favor e é e sempre será o nosso Campeoníssimo e ainda bem que o homenageamos tanto em vida como o fazemos depois do seu desaparecimento.
Muito bem, mesmo assim, em que pese a balança penda para si, Vinícius está amargando a pena de “ostracismo”, punição criada em Atenas, no período áureo da civilização helênica, através da qual um cidadão sofria um exílio geográfico e temporal, devendo deixar o território da cidade e podendo a ela voltar somente depois de dez anos ou se antes votação pública concedesse o perdão. Modernamente, a expressão passou a significar o ato de isolamento de alguém por um grupo ou uma entidade, cuja interrupção não depende necessariamente de perdão propriamente dito, mas muito mais de reconciliação e acolhida através de ato de grandeza dos vencedores que estão no poder. Tanto é assim, que nos países democráticos existe o instituto da anistia, quando vencedores e vencidos se reconciliam, por iniciativa daqueles, em favor do bem comum e da paz.
É onde quero chegar.
Já está na hora do reacolhimento – esta expressão me parece a mais adequada - do Vinícius Coelho na “Família Coxabranca”. A atual direção tem demonstrado excelente visão no comando do nosso clube, e poderá ter esse gesto de grandeza na fase de refundação que estamos vivendo, trazendo de volta ao seu seio esse coritibano que faz parte da história do clube. Reacolher o Vinícius Coelho para a vivência do Coritiba, ainda que não seja para aproveitar suas experiências ou nem para homenageá-lo por tudo o que fez pelo clube, se acharem demasiado, mas apenas pela pacificação que a ação simbolizará, será ato que só engrandecerá os dirigentes e fortalecerá o clube. O Coritiba é de todos e é maior que todos.
Não querendo ser piegas, mas me arriscando a sê-lo, encerro citando Gabriel Garcia Marquez: “Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade”.
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