Bola de Couro
Nessa quarta-feira, dia do jogo mais importante da história do Coritiba desde 31 de julho de 1985, inúmeros fatores serão ou poderão ser decisivos para que alcancemos a segunda estrela dourada na camisa e na bandeira e o Couto Pereira, a cidade de Curitiba e tantas outras onde se espraiam os coritibanos entrem em vibrante e longa festa.
Em primeiro lugar, tenho como fator preponderante a técnica, o saber jogar de cada um e de toda a equipe. A vontade, ou a raça como dizem, é muito importante, mas sozinha dificilmente ganha jogo se o time não tiver qualidade. A boa jornada coletiva e individual será imprescindível, ainda que às vezes o destino possa premiar com o lance decisivo algum atleta que não está entre os mais qualificados ou não mantém a melhor jornada (exemplo? Adriano Guabiru dando o título mundial para o Internacional).
Depois, a correta formulação tática, prática na qual Marcelo Oliveira tem se distinguido, equilibrando o jogo produzido pela equipe com a exploração das deficiências do adversário, uma vez que talvez seja jogo a ser decidido em detalhes, entre eles eventual erro, que peço aos céus seja do adversário.
Por outro lado, a condição e conduta emocional dos nossos jogadores é fundamental para um bom resultado. Constituem eles, na soma, um elenco sem dúvida melhor do que o Vasco, e mais ainda seria não fossem as lesões e suspensão que afastam alguns. Mas é muito importante que a técnica e a obediência ao esquema sejam conjugadas com muito controle da emoção. Ou seja, atingir o ponto certo, o ponto de equilíbrio entre o bom futebol e o estado de ânimo de vencedor. Aqui, bem dosada entra o que se convencionou chamar de “raça” e que a moda da crônica denomina como “atitude”. Há que haver perfeito equilíbrio entre a técnica individual e coletiva e a conduta anímica positiva.
A propósito, lembro uma lenda da história política do Paraná que, se não é verdadeira, é muito bem contada. Foram governadores do Paraná Bento Munhoz da Rocha e Ney Braga, respectivamente em 1951/1955 e 1961/1965 (Ney ainda teve um segundo mandato durante o governo militar). Bento e Ney eram cunhados, desmanchando-se o cunhadio com a morte da esposa do último, irmã do primeiro. Por desavenças políticas ficaram inimigos, procuravam não se encontrar e quando acontecia não se falavam. Ocorreu então um fato que nunca se soube se era história ou lenda. Conta-se que certa vez Bento trafegava em seu carro com motorista e por acaso foram obrigados a passar em frente à casa de Ney. O motorista teria perguntado sobre como deveria se conduzir, ao que Bento teria respondido: “Passe não tão rápido que pareça medo e nem tão devagar que pareça provocação”.
É esse o ponto de equilíbrio que o Coritiba deve manter quarta-feira. Procurar controlar o jogo não de forma excessivamente cuidadosa que possa aparentar medo e entusiasmar o adversário a crescer, mas também não de modo tão afoito que leve à ansiedade e ao erro.
Equilibrar as ações, fazer os dois gols a mais de que necessitamos e saber levar a partida até o final sem que um erro ou desatenção permita o gol do adversário, o que seria desastroso, e tampouco procurar “administrar” o resultado atuando só defensivamente. E se fizer um gol e o segundo se mostrar difícil, não se desesperar. Ganhar com dois gols de diferença será a glória certa, mas se for para ganhar apenas de um a zero não será o fim do mundo. Baixará então nos jogadores atuais o espírito da equipe de 1985 (Evangelino e Ênio Andrade lá do céu estarão conosco) e nas penalidades levantaremos o título, embora essa hipótese possa levar eu e muitos ao cardiologista.
Finalizo reiterando o conselho – dou conselho não por mais sabido, mas apenas por mais vivido – que dei quando do jogo contra o Ceará. O papel da torcida também será fundamental. Deverá se comportar como tem sido nesse período exuberante que vivemos, vibrando e empurrando o time, mas sempre mantendo paciência, muita paciência se o gol demorar a sair ou o placar acidentalmente se mostrar adverso. A vaia, a não ser para o adversário ou o árbitro, está proibida. Repito o que disse naquela coluna: fazer os dois gols ao início ou nos últimos minutos do jogo terá o mesmo efeito, apenas o sofrimento será maior, mas isso não importará depois.
E assim vamos com futebol, corações e mentes, confiantes no nosso Coritiba e convictos de que a conquista será o marco mais forte da nossa refundação iniciada a partir do ano passado.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)