Bola de Couro
O atual time do Coritiba está impossível, insaciável, incontrolável, atropelador, exuberante e tantos outros adjetivos que merece que, se todos que nossa língua contém fossem usados para tentar definir o momento que vivemos, ocupariam o espaço da coluna. Até porque não poderiam ser limitados ao time em sentido estrito, mas obrigatoriamente deveriam se estender à direção e administração exemplares, sem contar os torcedores que a cada dia ampliam o quadro social.
Título paranaense invicto e por antecipação, invencibilidade total no ano, recorde nacional de vitórias consecutivas, apresentações de gala, melhor ataque do país, tudo arrematado com uma exibição-show para todo o Brasil e para o mundo contra o sedizente poderoso Palmeiras, até este ano detentor do recorde nacional de vitórias. Enfim, tudo o que era possível alcançar este ano foi alcançado.
Mais não fez o Coritiba porque até agora mais não lhe foi exigido.
Mas não podemos esquecer que, ainda que se queira que permaneça para sempre o momento que vivemos, o Coritiba não continuará indefinidamente invicto, por várias razões previsíveis.
Talvez porque alguma hora chegará o que em física se denomina de “fadiga dos metais”, ou porque, como na matemática a teoria das probabilidades ensina, a “probabilidade de freqüência” levará a que um dia ocorra evento diverso daquele que vem se sucedendo. De lembrar também que agora somos visados por todo o país e os adversários que enfrentaremos jogarão a vida para nos derrotar e não ficar na história a cada ampliação dos recordes. A vida nos dá lições de que ninguém, em nenhuma área, é vencedor permanente, há tempos de glórias e tempos de amargura, embora nestes já tenhamos gasto nossa quota há poucos anos. E devemos lembrar que provavelmente o time, ainda que mostre excelente equilíbrio emocional e pratique a teoria dos “pés no chão”, sem dúvida deve estar sofrendo do efeito psicológico da responsabilidade cada vez maior, um verdadeiro bom peso nos ombros, mas sempre um peso, ainda mais depois que matéria de jornal local - que nem sempre é simpático ao Coritiba - nos provoca a ser campeões só com vitórias.
Por isso, é importante que, como um dia ocorrerá mesmo, nosso tropeço aconteça quando puder acontecer, ou seja, na ocasião certa de modo a que nos cause o mínimo ou nenhum prejuízo, e quarta-feira, contra o Palmeiras, talvez seja o momento ideal para um empate ou uma derrota por placar apertado. Com um desses resultados, continuaremos na Copa do Brasil, em nada restará afetado o nosso recorde já firmado e confirmado e o time tirará dos ombros o peso da responsabilidade e ansiedade, sem contar que nossos futuros adversários se desarmarão um pouco.
Não me acusem precipitadamente de estar desejando o tropeço, nada disso. Estou sendo apenas realista e pragmático, preferindo o desvio momentâneo em favor de assegurar a glória definitiva ali adiante. É preferível assim ao invés de acontecer o que ocorreu com o mesmo Palmeiras que, em 1996, depois de quebrar o recorde nacional de vitórias consecutivas, ganhou todas as partidas na Copa do Brasil com exceção exatamente das finais quando empatou e perdeu para o Cruzeiro. De que adiantou? O que está registrado na história, a boa campanha do Palmeiras ou o título do Cruzeiro?
Assim, se tropeço ocorrer na quarta-feira – claro que de modo a não nos desclassificar – que ninguém desanime ou passe a desconfiar do time. O mau resultado estará dentro das probabilidades e dele poderemos tirar bom proveito psicológico e pedagógico. E a "probabilidade de frequência" levará para bem distante a possibilidade de novo tropeço.
Evidente que será muito mais saboroso ser campeão da Copa do Brasil só com vitórias ou pelo menos invictos. Sem dúvida melhor será se o destino quiser nos recompensar por todas as agruras que enfrentamos nos últimos tempos, permitindo que sejamos campeões da Copa do Brasil sem nenhum tropeço, deixando para que ocorram em um ou outro jogo do campeonato brasileiro quando as partidas não são eliminatórias e sempre dá tempo para recuperação. Todavia, como os tropeços são muitas vezes pedagógicos, se é para acontecer no atual campeonato, repito "se é para acontecer", que seja no caminho e de modo a não interrompê-lo, para que dele tiremos as devidas lições e reiniciemos a marcha. Quarta-feira ainda dá para sofrer um pequeno desvio e se manter no caminho do título. Depois, dificilmente.
De uma forma ou de outra, importante é alcançar o título. Se for só com vitórias, melhor. Se com vitórias e empates, muito bom também. Se com vitórias e alguma derrota não comprometedora, enfim que também seja. O importante ao fim de tudo será o título de campeão, o único resultado que ficará registrado de forma indelével na história e nos levará a buscar conquista maior ainda através da Taça Libertadores de América.
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