Bola de Couro
Os clubes de futebol que disputam a série A do Campeonato Brasileiro têm, conforme suas forças, as seguintes metas em ordem crescente: manter-se na primeira divisão, conquistar uma vaga para a Copa Sulamericana, classificar-se para a Copa Libertadores da América e tornar-se campeão.
O Coritiba, embora o maior do Paraná, no cenário nacional por enquanto se classifica entre os médios, e domingo atingiu a marca de 45 pontos ganhos, número que, segundo os ditos “entendidos”, afasta o risco de rebaixamento. Estamos a treze pontos do líder e aos mesmos treze pontos do “menos pior” dentre os clubes que estão na zona de rebaixamento. Em outras palavras, campanha até agora apenas mediana. Flutuamos, em quase todo o campeonato, entre o 10º e o 12º lugares, entrando uma vez ou outra no 8º e nada mais.
Alcançamos, então, o menor dos objetivos pretendidos entre os clubes que disputam a elite do futebol brasileiro. Muito provavelmente nos classificaremos para a Copa SulAmericana do ano que vem, conquistando então o segundo objetivo em ordem crescente, mas muito (muito mesmo) dificilmente conseguiremos vaga na Copa Libertadores e é impossível pensar em conquista do título.
Isso é suficiente para o Coritiba que queremos? Considerando o caos que vivemos ao final de 2009 podemos então nos dar por satisfeitos, esperançosos de que em médio prazo - ou talvez longe, mas de modo firme - chegaremos mais longe? Ou considerando a excelente campanha do primeiro semestre estávamos autorizados a pretender mais e a classificação até aqui é decepcionante?
Bem, tudo depende da ótica com que miramos nosso clube e o momento.
Se queremos voltar a ser efetivamente protagonistas no campeonato – o que, desde o título de 1985 só aconteceu mesmo em 1998 e 2003 – certamente não podemos nos dar por satisfeitos. Manter-se na primeira divisão e classificar-se para a Copa SulAmericana nada mais é do que consolo, prêmio para os médios, do qual só ficam afastados os quatro rebaixados e os que quase o foram.
Mas, e se voltarmos ao que aconteceu há menos de dois anos?
Rebaixados, punidos, execrados pela mídia, humilhados, com dívidas, sem perspectiva de arrecadação e com a autoestima no chão reinava fundado receio de que seria mais fácil cair para a série C do que voltar tão cedo à elite, menos ainda no primeiro ano. Pensei, e muitos comigo, que acabaríamos nos tornando um equivalente ao Santa Cruz do Recife, com títulos regionais e a maior torcida do Estado, mas sem forças para alcançar a primeira divisão e recuperar respeito no cenário nacional.
Porém, contra todas as expectativas, nova liderança tomou as rédeas do clube, tratou de saneá-lo e equilibrá-lo e o resultado todos sabem: retorno á primeira divisão imediato, bicampeonato estadual invicto e por antecipação, recorde mundial de vitórias consecutivas e finalista da Copa do Brasil (esta, nunca é demais lembrar, praticamente jogada fora, mas isso é assunto já cimentado em inúmeras abordagens nos Coxanautas). Neste ano, enfim, um início deslumbrante e animador que levou o Brasil todo a nos olhar novamente com respeito.
Tudo isso, é claro, nos deixou com um gostinho de “quero mais”. Ficamos todos autorizados a pensar: vamos disputar os primeiros lugares da série A. Por que não, talvez o título? Autorizados, sonhamos, mas não conseguimos nem um e nem outro desses objetivos a não ser aqueles menores já expostos.
Então, o que conseguimos, foi muito, suficiente ou pouco?
Pois vamos colocar os sucessos e fracassos do ano na balança – considerada um daquelas antigas que tinham dois pratos – e não tenho dúvida de que o peso do sucesso é mais forte do que o do fracasso. Este, o fracasso, se resumiu à impossibilidade de ser campeão brasileiro – meta ambiciosa demais até para clubes com maior expressão do que nós – e a praticamente certa impossibilidade de disputar a Copa Libertadores da América no próximo ano, sem contar, é claro, a decepção pela perda da Copa do Brasil. Mas amigos, digo com convicção que o sucesso, pesadas e sopesadas as coisas, foi muito maior. Está ai o Coritiba refundado, firmado e confirmado como o primeiro e maior clube de futebol do Paraná, reconhecido mundialmente por um recorde extraordinário, respeitado no cenário futebolístico nacional, especialmente pela crônica esportiva, e se preparando com os pés no chão para crescer. Aos poucos, talvez, mas solidamente. Seria bom chegar mais longe já. Devemos sempre ter grandes metas e não nos satisfazer facilmente quando não as alcançamos, mas com lucidez e segurança posso dizer que, partindo de onde partimos não foi pouco o que alcançamos.
Parece um paradoxo, mas o raciocínio serve para demonstrar que o ano foi positivo: tanto recuperamos a autoestima e crescemos que não nos satisfazemos com o que alcançamos, alguns acham pouco. Não fosse assim, talvez estivéssemos apenas comemorando o fato de que nos manteremos na primeira divisão.
Nem todos podem concordar comigo e escolher outro ângulo a partir do qual querem olhar o Coritiba atual. Eu, ainda que também querendo mais e não aceitando que não se mirem alvos maiores, prefiro olhar para aquele Coritiba que foi refundado e voltou a ser respeitado. Quero mais, sim, mas penso que estamos no caminho. Ainda não temos elenco e nem comando técnico para grandes voos. Muito há que ser feito, mas há que se dar tempo ao tempo – ainda que o tempo do torcedor seja o da paixão – para crescer com solidez e não como um foguete que lá em cima espoca, brilha, mas em seguida se apaga e cai.
O comentário do comentarista:
O comentário escolhido dentre os lançados à minha última coluna, é o do ITASUCO, que afirmou : ”Mas reconheço nele uma virtude: nunca defendeu uma causa favorecendo o COXA em detrimento de seu time.”. Quem leu a coluna entende o pensamento do leitor.
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