Bola de Couro
Peço aos amigos Coxanautas que me perdoem por postar hoje uma coluna, quando a de ontem ainda nem esfriou.
É que um fato novo, a coluna do Dr. Mafuz no Paraná Online de hoje, me criou indignação e, como sei que infelizmente não temos nenhum jornalista que aceite fazer o contraponto às aleivosias que aquele escreve, vou utilizar este espaço (que aliás não é pequeno pois tem milhares de acessos a cada coluna) para rebatê-lo. Talvez possam dizer alguns que melhor seria que eu só tratasse do Coritiba, em especial das finais que se aproximam. Mas certos agravos não podem ficar sem resposta e, no caso, como poderão ver, a abordagem da coluna em questão é claramente direcionada ao temor de que conquistemos o título.
Quem leu a coluna de hoje do Dr. Mafuz (e para quem não leu segue um resumo), viu que se dedicou ele a desmerecer a conquista do nosso Campeonato Brasileiro de 1985, tentando fazer um “link” com a decisão da Copa do Brasil que se aproxima e afirmando que naquela ocasião, em razão de temer ser prejudicado pela arbitragem, nosso presidente Evangelino, juntamente com outros dirigentes de clubes de Curitiba, teria almoçado com o Presidente da CBF, João Havelange, o qual, “comovido” com o apelo para que a arbitragem fosse imparcial, teria mandado um recado ao árbitro escalado, Romualdo Arpi Filho, afirmando “Se o meu amigo Evangelino estiver feliz depois do jogo, eu é quem indicarei o árbitro brasileiro para a Copa do México (1986)” (as aspas estão no texto do Dr. Mafuz). Prosseguiu relatando como se fosse fato e não versão que após o gol do Coritiba contra o Bangu este empatou e estaria a dominar a partida, tendo feito um gol dado como válido pelo auxiliar, mas anulado pelo Romualdo. Como recompensa, este último foi para a Copa do Mundo de 1986 e escolhido pessoalmente por Havelange para arbitrar a partida final.
A difamação, disfarçada em forma de narrativa, não se sustenta nem mesmo por si só.
Primordialmente porque, se alguém poderia ter atitude visando favorecimento pela arbitragem, seria o presidente do Bangu, Castro de Andrade, o qual, quem viveu aqueles tempos sabe, era o equivalente ao atual Carlinhos Cachoeira. Então, quem sabe seria o bandeirinha que validou o gol que estava atendendo a algum “apelo” (não acredito em má intenção,foi apenas erro, e faço a afirmação apenas para argumentar) e o Romualdo o corrigiu, tanto que os meios de comunicação da época, salvo alguns cariocas apaixonados, não acusaram a arbitragem de erro em uma partida que o Brasil todo assistiu? Será que, na conspiração que o Dr. Mafuz viu o Ado poeria errado o pênalti que derrotou o Bangu também por “comovido” com algum apelo?
Depois porque o colunista dá como fato certo, e até as palavras utilizadas conheceria tanto que as colocou entre aspas, pretenso diálogo entre Havelange e Romualdo. Estaria o Dr. Mafuz presente na ocasião? Por que então não denunciou o fato? E alguém é ingênuo para acreditar que, fosse o fato verdadeiro – o que não é certamente – os dois conversariam em público?
A escolha do Romualdo Arpi Filho para arbitrar o jogo se deu tão somente porque era ele o melhor da época, esta é a verdade, tanto que foi à Copa do Mundo de 1986 e lá, não por escolha pessoal do Havelange, mas sim pelo comitê organizador, foi indicado para arbitrar a final entre Argentina e Alemanha. E alguém se lembra de queixa da seleção vencida em relação à arbitragem? Ou que comunicadores da época vissem conduta errada do árbitro? Pelo contrário, na época a arbitragem foi muito elogiada.
E pior, a coluna difama personagem morto, que não pode se defender, o eterno presidente Evangelino, e outro que, como á sabido, está à beira da morte. Se bem que, dada a limitada repercussão das colunas do Dr. Mafuz jamais ela chegará aos olhos e ouvidos do Havelange para que ele possa se defender ou dizer qual foi o argumento que o teria “comovido”. Os outros que teriam participado do alegado almoço, não sei se estão vivos. Se estiverem, desafio o Dr. Mafuz a colocar em campo repórteres do meio de comunicação que integra para ouvi-los e apurar se confirmam suas fantasias.
Aliás, como o presidente Evangelino se foi, muniu-se de coragem o dr. Mafuz , certo de que não correrá o risco de ter que fugir para escapar da surra que o nosso presidente certa vez quis lhe dar, fato narrado em “O Campeoníssimo”, livro escrito em parceria por Vinicius Coelho e Carneiro Neto, à página 179, capítulo denominado “Corrida Hilariante”. Insatisfeito com uma afirmação “venenosa” (a expressão é do livro) do Dr. Mafuz, o presidente Evangelino o chamou às falas e, “muito nervoso, ameaçou dar um tapa em Mafuz que, bem mais moço e muito ágil, deu um pique. Evangelino correu atrás, para espanto de todos que assistiam à insólita cena”. Prossegue o texto narrando que Evangelino perseguiu o Dr. Mafuz pelas arquibancadas do Couto Pereira até que, esbaforido parou, ocasião em que o perseguido teria feito um apelo para que ele não morresse, pois do contrário não sairia do estádio.
Já estou alongando demais a coluna, mas tenham paciência, vou lançar mais algumas rápidas observações.
É que tenho a convicção de que, tanto na coluna em comento como em muitas anteriores, mostra-se evidente que o Dr. Mafuz curte marcante rancor e inveja em relação ao Coritiba e suas conquistas, muito maiores das do clube que defende e ora em vias de aumentarem mais ainda, sentimentos que lhe devem fazer muito mal à saúde.
Esteja atento, Dr. Mafuz, ao que disse William Shakespeare: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”.
E ao contrário de tais sentimentos, pensamento humanitário me leva a recomendar ao Dr. Mafuz, pelo bem de sua saúde, que esqueça as tantas mágoas que o Coritiba lhe causou. Nós não alcançamos nossas conquistas visando magoar os adversários, mas sim nos engrandecer. Se nossas conquistas ferem os rivais, fiquem eles certos de que não as buscamos com esta finalidade. Tenho certeza de que, se assim agir, o Dr. Mafuz será uma pessoa mais feliz, livre dos mesmos fantasmas a que alude na coluna e terá saúde e vida longa.
E permita-me outra recomendação, antes de finalizar: Preocupe-se com o seu clube, que tem lhe dado e à sua torcida tantas dores de cabeça. Preocupe-se com o risco de permanecer na segunda divisão. Preocupe-se com a bola que bateu na placa de publicidade, deu a volta por trás da rede e mereceu a qualificação de gol favorável ao seu time pelo árbitro. Preocupe-se, como cidadão republicano que certamente é, com o uso e abuso de dinheiro público em investimento privado. Não desvie o foco das dificuldades do seu clube com cortinas de fumaça como as da coluna de hoje.
E se o Coritiba for campeão da Copa do Brasil, como nós confiamos, não alimente mágoas e rancores. Se não conseguir nos elogiar, ignore a conquista que não sentiremos falta. Não veja fantasmas e ninguém “comovido” e trate de cuidar do seu clube, que muitos cuidados está a merecer.
Ah, e não confirme, com suas palavras e reconhecido bom estilo de escrita, o que a opinião pública pensa, ou seja, que todo o atleticano antes de sê-lo é um anti-Coritiba.
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