Bola de Couro
Os amigos leitores conhecem a moderação que tento dar aos meus textos, salvo quando são fundamentais ironias em relação aos rubros e ao clube das fusões. Se tal moderação é fruto da formação profissional, da personalidade ou da idade não sei, mas sempre procuro ponderar bem o que lanço aqui, ciente que estou da força e do alcance dos Coxanautas entre a torcida do Coritiba (já soube de coluna com mais de 10.000 acessos).
Faço elogios, quando merecidos, como se pode ver da última coluna (Hora da torcida que nunca abandona) e críticas, quando necessárias, conforme, por exemplo, a coluna intitulada “Analgésico tira a dor, não cura o doente”, de 02 de março último.
Evito, principalmente porque outros colunistas aqui nos Coxanautas e nos demais meios de comunicação o fazem, analisar posturas táticas. Dizer que melhor seria um 4-4-2 do que um 4-3-2-1, ou que deveria ou não “jogar com uma linha de quatro” (até hoje não sei o que é isso), que faltou “adiantar a marcação”, e, suprema sabedoria, que “quando um ala avança ou outro não deve fazê-lo”, não é comigo, já que tem tanta gente especializada no assunto e não convém ingressar em área da qual pouco entendo. Só sei ver quando o time joga bem ou e quando uma atuação individual é boa ou má, ou ainda quando uma modificação feita pelo técnico foi significativa para o resultado.
Estou ciente da má campanha do Coritiba em 2012, não em números, já que no momento está na liderança do returno, mas em convencimento e em apresentações que justifiquem as vitórias e que deem esperança de que possamos ter sólidas performances na Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Estou ciente também de que o elenco atual está alguns furos abaixo daquele do ano passado. Mesmo assim, tenho procurado ser otimista e incentivador, tanto que propus uma trégua das críticas e principalmente vaias (coluna de 08 de março).
Mas desde ontem, ainda que em razão de um jogo que não vi, mas somando tudo o que tenho visto desde o início do ano, passei de otimista/cauteloso para realista/esperançoso. Transitei ontem por duas emissoras que transmitiram a partida e o que ouvi me deu arrepios. Jonas errando os cruzamentos, Lincoln preferindo forçar faltas em lugar de ganhar as jogadas, Anderson Aquino mais uma vez omisso, Caio Vinícius, segundo um narrador necessitando ser apresentado à bola e, suprema decepção, o garoto Rafael Silva, que me encantara nos dez ou quinze minutos que participou do jogo contra o Rio Branco, nem sequer teria se esforçado (nas palavras de outro narrador, corria como um cinquentão corre ao final da tarde no Parque Barigui). E o adversário era o ASA de Arapicara (alguém sabe alguma coisa sobre Arapiraca?). Como será quando jogarmos contra o Cruzeiro, Internacional, Santos e outros tantos?
Na verdade, meu otimismo cauteloso até agora era ditado muito mais pelo coração do que pela razão e pela ideia de que o pensamento positivo e otimista leva a mais resultados do que o negativismo. Mas agora, ainda que não desprezando a equipe e nem desconsiderando que mesmo aos trancos somos líderes do returno do estadual, passo a dizer que sou um realista esperançoso, não mais um otimista. Não temos um time bom, esta é a verdade. Repito, não sou derrotista, pessimista e nem daqueles que têm quase que um prazer em se manifestar nos momentos de crise. Pelo contrário, sempre fui ufanista, orgulho-me da história do meu clube e o defendo perante os estranhos em qualquer circunstância. Mas aqui entre nós, coritibanos, há que mostrar a realidade e principalmente a perspectiva ruim que se anuncia como provável se nada for mudado.
Das contratações efetuadas a partir do desmanche do time de 2012, nenhuma pode ser denominada de “reforço” e nem de “reposição”, a não ser se por reposição se entenda quantidade. Marcos Aurélio não queria mais jogar, é verdade, e no Internacional está mostrando a mesma preguiça e nem no banco fica. Leandro Donizete está próximo do final de carreira e apelou que o liberassem para fazer um pé-de-meia, tudo bem. Davi se foi em face, dizem, de uma proposta irrecusável. Léo Gago, que está fazendo sucesso e gols no Grêmio, foi mandado embora por alegado mau comportamento. Mas quem trouxemos para os seus lugares? Júnior Urso, Everton Ribeiro, Lincoln, Renan Oliveira, Everton Costa e Marcel. Dá para comparar e chamar de “reposição”, já que de “reforço” nem pensar?
Continuo confiando no sereno e diligente comando do presidente Vilson Andrade, mas espero que ele esteja vendo a realidade e, dentro do seu estilo de discrição, se movimentando para mudar. E mudar radicalmente Do contrário, poderemos até acidentalmente sermos tricampeões estaduais, mas logo ali adiante voltaremos a fracassar em nível nacional.
Dois fatos e um pedido, para encerrar:
Primeiro fato:
Em 2010, quando voltamos à primeira divisão, em reunião da direção da associação da qual eu era vice-presidente, a Ajuris, Associação dos Juízes do RGS, o presidente abriu os trabalhos consignando em ata cumprimentos a mim e ao meu clube pelo sucesso. Depois, sem registrar em ata, disse que esperava que não ficássemos no sobe-e-desce que vinha acontecendo há algum tempo, ao que respondi que não temesse pois outros eram os tempos. Espero ter acertado e não passar a vergonha de ser cobrado pelos amigos gaúchos.
Segundo fato:
Nos anos 1970, corria a notícia, não sei se fato ou lenda, no sentido de que o presidente Evangelino e a torcida não aceitavam um jogador que era frequentemente escalado por ser o preferido por um teimoso treinador. Evangelino, matreiro que era, teria chamado o médico do clube e dito a ele em relação ao tal jogador: “na primeira queixa de dor que tiver, engessa e diz que a recuperação será demorada”. Assim aconteceu e o time se livrou do “preferido”, passando a jogar melhor. Quem souber do fato ou da lenda, poderá confirmar.
A lembrança me vem à mente sempre que vejo em campo Everton Ribeiro, Eltinho e outros que vocês possam apontar. Haja gesso.
Pedido:
Mesmo com o que está ocorrendo, apelo aos amigos para que domingo deem força ao time, incetivem e não vaiem. Se o resultado for negativo, ao final do jogo a vaia já não será um desestímulo mas um direito.
Sou sócio, ajudo a construir o meu Coritiba.
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