Bola de Couro
Amigos, muitos Coxanautas há muito vinham dizendo não acreditar no atual time, em especial no treinador, alguns até na direção do clube. Eram chamados de pessimistas.
Embora de há muito convicto de que temos um elenco muito fraco, salvo raras exceções abaixo do desejado para qualquer equipe de série A, até alguns meses ainda era otimista, confiava no trabalho do Marcelo Oliveira, sentindo que ele “tirava leite de pedra” quando conseguia bons resultados com tão maus jogadores. De uns tempos para cá o otimismo se afastou, dando lugar para a esperança.
Culpei, em coluna lançada há algum tempo, o Departamento de Futebol por não saber escolher os jogadores que neste ano foram contratados. Logo em seguida, o Vice-Presidente de Futebol se exonerou e o Presidente Vilson Andrade entendeu por cumular as funções. Desde então pelo menos três contratações trouxeram esperanças, Escudero, RuyDiaz e Deivid (os dois últimos por enquanto só com os nomes), embora ao mesmo tempo negociado Lucas Mendes.
Porém, sobrando no time figuras como Júnior Urso e outros tantos que seria exaustivo aqui enumerar continuei entendendo que o técnico não era o maior responsável pela queda acentuada que o time vinha e vem sofrendo e ainda tinha algumas esperanças em uma boa reação a qualquer momento.
Hoje, porém, após o jogo contra a Portuguesa muitas convicções minhas mudaram.
Uma para para pior, no tocante aos jogadores. Todos, sem exceção, fizeram triste figura perante a Lusa, inclusive o tão cobrado “garoto da base” da zaga, cuja atuação foi um verdadeiro filme de horror. Mas ai, pelo menos para mim, não houve novidade. O que houve de novo, e que já sentira um pouco no jogo contra o Botafogo, foi a falta de afirmação da equipe, a apatia no sentido de não tentar mudar o jogo pelo menos com atitude, com vibração. Rafinha sofreu pênalti claro – ao menos na televisão – e seus companheiros se limitaram a protestos moderadíssimos, conduta de quem parece pouco se importar com o resultado.
Trabalhei quase toda a minha vida no serviço público, onde encontrei servidores dedicados e idealistas, dando de si muitas vezes mais do que se poderia exigir. Mas encontrei também um bom número de outros que eram meros burocratas - na acepção depreciativa da expressão – que passavam o dia colocando carimbos ou numerando folhas, enfim, cumprindo mínimo necessário e no final da tarde de olhos fixos no relógio. Quando chegava o horário do término do expediente, estivessem em meio a uma tarefa ou não, deixavam tudo e saiam, com a aparência do dever cumprido, mas com o salário garantido no final do mês.
Pois é esse o time de Coritiba que estou vendo nos últimos jogos, composto por jogadores burocráticos e que não parecem ter amor ao clube. Todos correm para lá e para cá, terminam o jogo extenuados, mas ninguém mantém atitude que mostre amor ao clube, que retrate ideal de vencer e conquistar. Afinal, devem dizer, recebo a bola aqui e a passo ali, perco aqui e a chuto ali, corro e vou levando. Se conseguir um bom passe ou um gol, ótimo. Se não conseguir, todos viram que cumpri minha tarefa. Seja como for, meu salário estará garantido ao final do mês. O modo frio, desatento e desinteressado como se comportaram hoje, inclusive no modo de começar a segunda etapa (o que terá havido no vestiário que em lugar de motivá-los mais os abateu?), bem mostrou isto. Será que gostam do Coritiba ou é ele apenas um mero empregador ao qual compete pagar religiosamente os generosos salários que recebem? Procuraram a profissão por vocação ou para conseguir um bom emprego com um bom salário?
Mas e onde entra o técnico nisso, já que afirmei ao início estar mudando de opinião?
Bem, continuo a entender que ele “tirou leite de pedra”, mas, desatinado com a má qualidade do elenco e a falta de atitude dos atletas, começou a meter os pés pelas mãos como se viu em alguns jogos e em especial hoje. Deixou no banco mais uma vez o Ayrton, sem explicação aceitável. Criticado por jogar com três volantes radicalizou e entrou com apenas um (a proposito, está na hora de parar de poupar o Willian só porque ele é raçudo), deixando a fraca dupla de zaga sem um primeiro combate eficiente. Perdendo o jogo, preferiu então voltar a ter dois volantes, pelo menos na origem do jogador, pois até agora não sei por onde jogou o Chico.
Mas mesmo assim não pode ser responsabilizado pela expulsão sumária do Escudero, nem pela perda infantil da bola pelo Everton Ribeiro propiciando o segundo gol do adversário com menos de dez segundos de jogo, e menos ainda pela reiteração de falha do Vanderlei. Se não tinha opção de zagueiro, não pode ser responsabilizado pela péssima apresentação do Lucas Claro – que, para mim, hoje preparou o seu caminho de saída do clube – e também não pode ser responsabilizado pelo pênalti sofrido pelo Rafinha e não dado (vocês perceberam que quanto pior estamos menos respeito nos dão as arbitragens?).
O que me leva à convicção de que chegou a hora do Marcelo Oliveira é a crença de que ele perdeu o controle da equipe, seu discurso deve ter cansado o vestiário, não consegue mais motivar os atletas (se bem que esse requisito nunca foi o seu forte). Enfim, cansou e cansou-se. Está desgastado e se desgastou. É um bom profissional, deve ser respeitado, mas tudo na vida tem sua hora para terminar. A esta altura ele é parte do fracasso, do qual, aliás, ninguém no clube é inocente. Ainda que seja um tanto temerário mudar de técnico quando já transcorrida mais da metade do campeonato, não vejo outra saída, passou a hora do Marcelo Oliveira.
Mas atenção amigos e diretoria, se esta eventualmente me ler, deverá ser muito difícil para outro profissional assumir a equipe nesta hora e nas condições em que se encontra. Se não for bem escolhido, pouco poderá fazer. Mas importante, e a história do futebol mostra isso, é tomar atitude de impacto, sacudir o vestiário com um nome novo que saiba levantar o ânimo dos atletas – já que melhor futebol não lhes poderá dar – que os motive, enfim, para que, como diz um surrado chavão, coloquem o coração no bico da chuteira.
Se tentarem reverter a má fase com novos esquemas táticos e esperança de melhores atuações individuais, sinceramente não vejo perspectiva. Temos que jogar a partir de agora como fizemos nas duas últimas vezes em que subimos para a primeira divisão (até me dói na alma lembrar que isso pode se repetir). Futebol de resultado, não importa se feio. Atitude. Alma. Nada de tentar exibições. Não queremos nos orgulhar ao final do ano por gols bonitos se “a coisa” (sabem do que estou falando) acontecer. Queremos, já que é o mínimo que podemos esperar para este ano, a manutenção na primeira divisão. E que o “projeto” que tanto aguardamos deslanche a partir de 2013 de modo a que o Coritiba chegue de uma vez por todas ao patamar que há muito esperamos. Mas não se tenha dúvida, só chegará com profundas modificações, a partir de uma nova visão e conduta nas contratações dos atletas.
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