Bola de Couro
Estou consciente de que este é um sítio onde se deve escrever e trocar ideias sobre as coisas do Coritiba. Dos rivais se deve falar o mínimo possível e, melhor ainda, falar quando estiverem em baixa ou em desgraça. Porém, não esqueço que a existência dos rivais, mais propriamente “do” rival, pois o outro ainda tenho como um clube que não tem história nem mesmo próxima da rivalidade que há entre a dupla atleTIBA, é o que impulsiona o futebol paranaense. O que seria da torcida do Coritiba se não existisse o atlético? E vice-versa. Assim como ocorre em Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e outras capitais, o rival sempre é o primeiro que queremos superar, seja em confrontos regionais, ou seja em nacionais. Queremos, na irracionalidade de torcedor, a desgraça do rival, mas lá no fundo do inconsciente que não seja ela a tal ponto que os afaste de disputas conosco e que as vençamos para sobre eles tripudiar.
Acompanho o Coritiba desde o final dos anos 1950, época em que o futebol brasileiro era somente regionalizado. Naquela década, fomos campeões por seis vezes e o rival em apenas uma. Depois, de 1968 a 1985, tivemos nada menos do que dez títulos regionais e dois nacionais, enquanto eles conquistaram apenas quatro regionais. A partir daí, ou dividimos com eles as conquistas ou ficamos para trás atrás. Desde os meados da década de 1990 eles obtiveram oito títulos estaduais, um nacional e um vice-campeonato da Libertadores da América, enquanto nós conquistamos nove certames regionais e nada em nível nacional, a não ser dois vice-campeonatos da Copa do Brasil. Mas é bom – bom não, é triste - lembrar que no mesmo período ficamos dez anos sem qualquer título e por três vezes fomos para a segunda divisão do campeonato brasileiro (sei, a primeira foi através de um injusto “canetaço”, mas não soubemos nos reerguer senão depois de vários anos), enquanto eles caíram duas. Enfim, nos últimos vinte anos há quase que uma igualdade na gangorra entre o Coritiba e o atlético. Ora ficamos na parte da cima dela, ora eles. A partir de 2010, porém, com o que ainda chamo de “refundação” do Coritiba os colocamos na parte de baixo da gangorra, onde até hoje se mantêm. Conquistamos os três títulos regionais, um deles de modo invicto, obtivemos um recorde mundial de vitórias e fomos às finais de duas Copas do Brasil, uma delas perdida por detalhes e outra por clara influência da arbitragem (sobre esta ao final farei uma abordagem).
Mas vou agora até aonde eu quero chegar com este texto.
Desde 2010 o Coritiba, o clube e o time, seus dirigentes, entre eles em especial o Presidente, têm se mantido sob as luzes, uma vez que saímos do fundo de um poço, dentro do qual parecia inalcançável chegar ao solo, para as glórias de três conquistas regionais seguidas (uma delas de modo invicto), um recorde mundial e projeção nacional nas Copas do Brasil, como já afirmei antes. Foi reerguida nossa autoestima e nosso clube voltou a ser reconhecido pela mídia como o maior do Paraná, beliscando aqui e ali oportunidades para se projetar mais no cenário nacional.
Porém, “ai porém” como diz a música do Paulinho da Viola, tudo indica que a gangorra está balançando um pouco e, ao tempo em que estamos estacionados o rival está procurando subir, jamais de modo a equilibrá-la, longe disso, mas com perspectivas. Seu incensado presidente, que vinha fugindo dos holofotes depois de conquistar a direção do clube com promessas mil, impossíveis de serem cumpridas, reapareceu na mídia e admite em matéria dos jornais de hoje que talvez o seu clube não volte à primeira divisão este ano, mas anuncia a redenção a partir do ano que vem, quando inaugurarão um dos mais modernos estádios do país. (Aliás, um parêntese, é um homem inteligente e escolheu bem o momento para reaparecer, exatamente quando vivemos crise no campeonato brasileiro.). E sabemos, a história está repleta de exemplos, que todos os clubes de futebol crescem na mesma medida em que inauguram novos estádios (assim foi com o Internacional ao final nos anos 1960, com o São Paulo quando concluiu o Morumbi e com o próprio rival que chegou ao seu primeiro – e espero único – título nacional).
Estádio construído com dinheiro público, ainda que com maquiagem de que seria privado, enquanto o nosso foi construído só com o dinheiro do próprio clube, diremos com orgulho. Mas, falando pragmaticamente, e daí? Ficaremos com o velho Couto – de tantas boas lembranças, mas sem dúvida velho – e nos vangloriaremos de que foi feito com nosso dinheiro enquanto eles, sem qualquer escrúpulo voltarão a crescer com o novo estádio, tal como a partir da segunda década dos anos 1990? Não tenham dúvida, estádio novo é fator concreto para o desenvolvimento de clube de futebol.
Pois temo, não por fatos exatamente claros, mas pelo ambiente, que o rival esteja se preparando para sair da sombra. A questão é se nos manteremos na luz mais do que eles. O quadro atual, depois de tantas expectativas com a “refundação” do Coritiba não é negro, tenebroso ou qualquer outro adjetivo deslustrador ou pejorativo, de modo algum. Mas acende um sinal de alerta. Enquanto eles têm um fato concreto, a construção de um novo e moderníssimo estádio, nós nem sequer falamos a respeito. E, o que poderia ser o pior dos mundos, vendo as tabelas dos campeonatos das séries A e B de forma objetiva e puramente matemática, no momento eles estão mais perto, ainda que remotamente, do retorno à primeira divisão, enquanto nós, partindo da mesma lógica matemática, estamos mais perto de retornar à segunda divisão do que na primeira nos manter. O que seria uma catástrofe e o pior dos mundos. Quatro rebaixamentos na história, três deles em dez anos, meu coração, já doente por outras causas, não aguentaria. E o de muitos com certeza.
Vamos lá, presidente Vilson e colegas de direção. Nada de se conformar com a manutenção do “status quo”. Temos que avançar. Quem dorme sob os louros das glórias corre o risco de acordar com eles esfarelados. Se o Município de Curitiba, de modo não republicano, negou alvará para refazermos nosso estádio e tudo deu a eles – até quatorze desapropriações de pobres vizinhos da baixada que terão que discutir em juízo a justa indenização – que se trate de exigir equidade. Se negada, vamos conclamar nossa grande e engajada torcida a colaborar. Busque-se parceria para construir novo estádio em outro local. Tenho certeza de que, pela área nobre em que se encontra, o Couto seria suficiente como moeda de troca por outra e moderna praça de esportes sem necessidade de qualquer desembolso. Enquanto isso, é claro, não vamos nos esquecer de qualificar o time, pois sem um bom time não há clube de futebol que possa crescer.
Avançamos muito a partir de 2010, deixando o rival para trás como quase sempre esteve na história do futebol paranaense. Mas vamos aumentar o ritmo, pois “a fila anda”, o mundo do futebol é dinâmico e quem se fica parado corre o risco de ser ultrapassado, mesmo que não de imediato.
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Não poderia encerrar sem comentar um fato que nada tem com o texto supra. Li notícia de que o árbitro (por favor, não o chamem de juiz) que comandou o primeiro jogo decisivo da Copa do Brasil será julgado no dia 15 próximo pelo STJD pelos clamorosos erros praticados, narrando a denúncia que um deles foi a escandalosa falta praticada pelo Maurício, ao agarrar Everton Costa pelo calção e impedir que deslanchasse para a área adversária, sem que falta e consequente advertência com cartão fosse marcada. E o outro, o claríssimo pênalti sofrido pelo Tcheco. Poderá, se condenado, ser suspenso por quinze a cento e vinte dias. Se for condenado, o que será de justiça, teremos apenas uma satisfação moral, mas objetivamente nada mudará. Só espero que o advogado do malsinado árbitro não tenha os honorários pagos pela Kia Motors.
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