Bola de Couro
Não sei se os amigos leitores podem imaginar a dificuldade que estou tendo para traçar estas linhas.
Estou com a alma dolorida e a dor da alma parece física, tão intensa que ainda está. Irá passar, eu sei, mas o momento, transcorridas apenas em torno de doze horas da perda da Copa do Brasil, ainda é de dor e é bom que seja assim.
Por isso, embora todo o meu respeito ao que estão lançando só palavras de incentivo – as quais também lançarei, e com intensidade, mas a partir da próxima coluna - penso que o momento imediatamente após o fracasso deve ser primeiro de chorar a perda.
Em momentos difíceis, quando como perdemos um ente querido, se não chorarmos e não ficarmos com a alma dolorida imediatamente após o acontecido, a consequência virá logo adiante com resultados psicológicos negativos para os que assim agiram. É isso que aconselham os profissionais da saúde mental, curta sua dor no primeiro momento para ela não ficar entalada na alma. E depois, logo adiante trate de se reerguer e recomeçar.
Por isso, tal como dizia o poeta, peço que tirem o sorriso do caminho, pois quero passar com a minha dor.
Dor por constatar que mais uma vez deixamos escapar oportunidade de ouro para nos afirmamos no cenário nacional e talvez com ela galgarmos sucesso internacional. Dor por sentir que ainda não temos força política junto ao comando nacional do futebol que mandou arbitrar a primeira partida um profissional (?) que foi desonesto (no sentido de violar convicções, de mentir a si próprio, enganando a si e prejudicando os outros), praticamente garantindo ali o título do adversário. Claro que, tivéssemos uma grande equipe, seria como dizia o saudoso Tim “se meu time fizer vários gols, quero ver o juiz que possa nos tirar a vitória”.
E dor por lembrar que no ano passado perdemos o mesmo título, mas de forma muito mais altaneira, uma vez que a equipe jogou bem e lutou até o final da partida, ao contrário de ontem quando grande parte dos atletas se mostrou apática, como se não estivessem ali representando o sonho de milhões de pessoas. Se estivesse em campo a equipe do ano passado, pela maior qualidade técnica e brio tenho certeza de que a esta hora estaríamos comemorando o título.
Dor ainda por ver como a verdadeira maior torcida do Paraná é fantástica e participativa – é o maior patrimônio do clube - e acreditava firmemente na reversão do resultado, mas depois de alguns minutos de jogo sentiu que a equipe não correspondia ao seu entusiasmo e confiança. Dor por constatar que a dedicação de um torcedor,o Alvaro, que deve ser a de muitos outros, ontem não foi correspondida: “A minha parte como sócio, eu fiz já em dezembro/2011, pagando adiantado a anuidade de minhas 3 cadeiras. (...) Ontem, além das minhas cadeiras, comprei mais duas, para que fossem comigo minha filha, meu genro, meu filho e minha nora.”
Dor também por recordar que a apatia que tomou conta da equipe ontem foi a mesma que a acometeu no último atleTIBA do campeonato nacional passado, um verdadeiro “déjà vu”. Nem vou falar que me vêm à mente outras tantas oportunidades que deixamos escapar por falta de atitude. Aí seria demais, seria jogar sal na ferida.
Na minha dor perdoo ao técnico e aos atletas por ontem não apresentarem um bom futebol, por não saberem furar o bloqueio armado pelo adversário, por falhas coletivas e individuais, pelo mau desempenho. Perdoo por saber que nem sempre é possível apresentar a melhor técnica e perdoo pela constatação de que um time limitado chegou mais longe do que se esperava. Esse merecimento não pode ser negado.
Mas não perdoo alguns que se mostraram apáticos, não lutaram como se exigia para o momento, sofreram o peso emocional da decisão, não estiveram com o coração na guerra. Exemplos deixo para os leitores conforme a visão de jogo de cada um. Mas não me contenho em citar um que, a partir do gol do adversário, agregou ao seu mau futebol uma notável apatia. Refiro-me ao Everton Costa, e desde já registro que sei que alguns dirão que “implico” ou que tenho má vontade com ele, pois desde que foi contratado tento mostrar que não é jogador para um time que pretende galgar voos altos. Tudo bem, respeito quem pensa assim. Mas amigos, quem é implicante e tem má vontade é ele. Implica e tem má vontade com a bola. E ontem, desde o empate do adversário mostrou claramente o que alguns talvez chamem de frieza, mas eu chamo de indiferença.
Pronto, tal como em uma sessão de psicoterapia abri minha alma e manifestei minha dor. Na próxima coluna deixarei de lado o sentimento, o tom emocional, e tratarei de analisar o nosso presente e especialmente o nosso futuro. Tenho orgulho e sempre terei de ser coritibano. Mas agora senti que era necessária esta catarse para, expondo a minha dor, tratar de afastá-la o mais breve possível. Tal como no título da coluna, passei com a minha dor pelo sorriso de alguns.
(Coluna reeditada para incluir o prenome do torcedor-símbolo a que me refiro)
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