Bola de Couro
Esperei três rodadas para escrever sobre o atual time do Coritiba. Não há como formar convicção em tão pouco tempo – e as convicções, ao contrário dos princípios – podem ser mudadas se mudarem os fatos e nosso modo de pensar. Não há nenhum problema ou incoerência nisso, e só o futuro dirá se o que escrevo hoje será o acerto de amanhã.
A primeira partida, contra o Toledo, não entusiasmou, mas era natural que assim fosse, pois o time tinha novos componentes que conheciam os antigos só pelos treinos e era normal que jogassem sob alguma tensão pelo fato de se tratar de estreia. Mas ali já deu para ver que alguns prometiam como foi o caso do Renan Oliveira nos escassos minutos que jogou.
A segunda partida já mostrou significativa evolução. Embora jogando em nossa casa, o genérico paranaense do clube com a segunda maior torcida do país e o primeiro mais odiado, sempre nos deu trabalho. Ali, as antigas estrelas – Emerson, Davi, Rafinha, etc. – mostraram o bom futebol que têm e mais uma vez Renan Oliveira em poucos minutos mostrou e reforçou a convicção de que tem muito potencial.
Ontem, contra o Iraty, o time foi muito parecido com aquele que encantou o Brasil no primeiro semestre do ano passado. Organizado, fluía em campo e, quando se sentiu ameaçado pelo gol do adversário, partiu para cima e o massacrou. Desta vez, jogando em torno de trinta minutos, Renan Oliveira foi o destaque do jogo.
Espero, com muita vontade de acertar, que Renan Oliveira repita as apresentações e confirme as expectativas, embora todos saibamos que em futebol os atletas, mesmo os de primeiro linha, têm seu dia de inferno astral. Mas o importante é que temos uma grande perspectiva com o Renan. E vejo outra vantagem se ele confirmar o bom futebol, assim como o Davi: cada vez haverá menos lugar para o Everton Costa no time e no banco. Um parêntese necessário. Em relação ao indigitado, minha convicção de que foi uma má e desnecessária contratação não decorre de ver algumas atuações no Coritiba – quase todas más ou no máximo regulares, salvo contra o Palmeiras – mas sim do acompanhamento em dois anos – dois anos – em que jogou(?) pelo Internacional e Grêmio. Aliás, o Coritiba não tem muita sorte na prospecção de jogadores gaúchos de times menores. Alguém se lembra do Jeferson, cujos direitos foram adquiridos junto ao São José em 2010? Jogou poucas partidas, todas mal, e agora onde está? Não sei, mas certamente emprestado a algum time de menor expressão.
O outro ponto que quero abordar, e que dá um dos títulos à coluna, é sobre o Lucas Mendes. Temos o costume de elogiar e idolatrar os artilheiros e às vezes os goleiros que nos salvam de derrotas, mas esquecemos dos jogadores que mantêm regularidade na qualidade, jogam sério e para a equipe. Lucas Mendes, a cada jogo que assisto tendo que ouvir o narrador ou o comentarista dizer que “está improvisado na ala esquerda”, se firma e cresce e já está na hora de merecer destaque e homenagens da torcida e parar de ser chamado de “improvisado” Aliás, sempre que o vejo atuar, lembro dos 4 x 3 sofridos contra o São Paulo quando Eltinho foi o coautor – sim, pois quem concorre para o crime é coautor – de dois gols do adversário. Sei que no futebol não tem “se”, mas estivesse Lucas Mendes em seu lugar, com a sua seriedade habitual, teria sido assim? E, ainda no campo da mera conjectura, quem sabe podem ter sido esses os pontos que nos faltaram para uma classificação à pré-Libertadores?
Lucas Mendes é “o cara”, como disse Obama.
Naquele tempo:
Vou tentar inaugurar um espaço na coluna. O anterior, “o comentário do comentarista” não prosperou, por razões que prefiro não expor. Abro, então, um espaço para a “velha guarda” contar para aos mais novos fatos importantes ou especialmente pitorescos do Coritiba do passado. Não que “aqueles tempos” fossem melhores, já disse isso em outra coluna, mas a grande permanência dos atletas nos clubes e a característica semiprofissional de então davam azo a tais histórias ou estórias.
Começo narrando um episódio sobre o Nico, atleta que envergou (era a expressão da época) a camisa do Coritiba de 1959 a 1971. Zagueiro forte, mas leal (não me lembro de vê-lo expulso algum dia), era dotado de amor ao Coritiba que se caracterizava pela até hoje inigualável raça.
Pois bem, conta-se que em meio àquele período, quando o futebol era semi-amador, venceu o contrato do Nico com o Coritiba e o dirigente Miguel Cecchia o procurou em casa para tratar da renovação, ver quanto ele queria “de luvas”, que era como se diz na época. Nico, na pureza que lhe era inerente, um tanto encabulado disse que estava por casar. E que se o Coritiba lhe desse a mobília do quarto de casal estaria tudo acertado. E foi.
Peço aos amigos que conhecem fatos pitorescos como este, mesmo que de gerações mais presentes, que os enviem para publicação.
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