Bola de Couro
Em uma jornada na qual vários jogadores estiveram muito abaixo do que poderiam mostrar e o coletivo também, o Coritiba perdeu para o Botafogo interrompendo uma invencibilidade de dez meses em partidas realizadas no Couto Pereira.
O resultado, embora algumas queixas em relação à arbitragem - sobre as quais logo adiante comentarei - não se pode dizer injusto, pois o Botafogo soube se aproveitar tanto da má jornada de nossa equipe como um todo e especialmente das bolas perdidas por nós, apanhados então em contra-ataques e com a defesa aberta, sempre envolvidos pelos toques rápidos do adversário.
Não é conformismo, gostaria de ganhar sempre mesmo que saiba ser isso impossível, mas a verdade é que, mantendo invencibilidade em casa há tanto tempo, a probabilidade de que uma hora ou outra ela despareceria sempre foi muito grande. Das poucas coisas boas que pude colher do estilo autoajuda do Renê Simões, uma foi a observação de que, quanto mais um time mantém invencibilidade, mais perto está de perde-la.
O argumento não justifica, mas serve para diminuir o impacto da derrota, pelo menos. Só que a aceitação não pode ser passiva e menos ainda pode fazer com que se varram para debaixo do tapete alguns dos problemas que apresentamos, parte deles hoje e parte já em jogos anteriores.
Hoje, sem dúvida errou o técnico ao começar a partida com Jonas, repetindo o mesmo equívoco que praticou no jogo contra o Internacional quando entrou em campo com Willian. Jogador que volta de lesão nunca é aconselhável que iniciei uma partida – salvo se for o grande craque do time, o que não é o caso. Tal como Willian domingo passado, Jonas não se deu bem.
A má apresentação foi quase que coletiva, não se podendo afirmar escancaradamente que este ou aquele foi o pior ou muito pior, tanto quanto não se pode dizer que a apresentação coletivamente teria sido péssima. Foi má, nada mais do que má, nenhum outro adjetivo mais grave podendo ser usado.
Sérgio Manoel talvez tenha se entusiasmado com os elogios que recebeu sobre o seu desempenho contra o Vitória e hoje quis fugir de suas características e trabalhar muito a bola, acabando por perdê-la por tentar mais um toque ou mais um drible de modo a propiciar o contra-ataque ao adversário. Nada que não possa ser corrigido.
Sobre Everton Costa às vezes não sei o que dizer. Faz uma excelente partida (contra o Vitória, por exemplo) e logo em seguida fracassa. Em outras, joga alguns minutos bem e em outros tantos desaparece. Mas quis destacá-lo aqui porque hoje, além de ter sido apenas regular, observei uma característica de comportamento que não me parece recomendável quando se exige harmonia técnica e anímica de uma equipe: mais de uma vez reclamou acintosamente do companheiro por perder a bola ou não passá-la a ele, como ocorreu em um lance errado do Airton quando o Everton Costa esbravejou e gesticulou tanto que a TV editou a imagem, repetindo-a em close. Assunto para a comissão técnica ou a direção intervirem internamente.
Mas nem tudo foi mal. Lincoln teve uma ótima apresentação, talvez uma das melhores no Coritiba, tanto que depois que deixou o campo a equipe decresceu significativamente. O Roberto também fez uma boa partida, embora constantemente lhe falte perícia no momento final, o arremate a gol, fundamento a ser corrigido. Outro que manteve a qualidade foi o Vanderlei, que talvez tenha impedido placar maior.
Em relação à arbitragem, ainda que tenha ouvido e até já lido queixas sobre pênalti não marcado e gol do Botafogo em impedimento, pelo que vi na televisão tenho que nenhum dos lances foi claro de modo a que se possa dizer com convicção que a arbitragem errou clamorosamente ou que a derrota a tal se deveu. As imagens não são conclusivas, permitem interpretações. E se permitem interpretações contraditórias, não podemos, repito, dizer que a causa exclusiva ou preponderante do resultado pode ter sido a arbitragem. Aliás, quando não se tratam de erros clamorosos e evidentes, em relação aos quais há unanimidade, fico preocupado quando a direção do clube e a comissão técnica procuram justificar derrotas lançando-a na conta dos mediadores da partida, sem admitir falhas próprias.
Espero que a comissão técnica, assim como a direção, que neste aspecto hoje me surpreendeu pelo excesso de veemência ao final do jogo, não fiquem nesse discurso e sim reflitam e olhem mais para dentro. Se a derrota servir para uma autocrítica de todos, direção, comissão técnica e jogadores, poderá ter sido pedagógica, até porque – embora o argumento possa ser contestado – tirou um peso dos ombros, qual foi o de manter a invencibilidade em casa. Que tal aproveitar e começar a construir nova série invicta?
Faça-se do limão uma limonada, como diz o lugar comum. Não se fique distribuindo culpa aos outros, pois esse filme nós já vimos e não leva a nada. Só amadurece e cresce quem aprende com os erros. Quem sabe ao final do campeonato brasileiro, ou da Copa do Brasil, possamos dizer: ainda bem que veio aquela derrota na segunda rodada e por causa dela corrigimos os rumos.
Sou sócio, ajudo a construir o meu Coritiba.
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