Bola de Couro
Com algum atraso, por motivos pessoais que impediram manifestação anterior, refiro-me à quebra do recorde pelo Coritiba.
Em 1969, quando a maioria dos amigos leitores não era nascida, Pelé perseguia o seu milésimo gol. Nas últimas partidas do Santos, os adversários se desdobravam em campo para não ficarem registrados como o time que sofreu o gol histórico, especialmente os goleiros que não queriam a marca em suas vidas.
Enfim, no dia 19 de novembro daquele ano, em jogo contra o Vasco no Maracanã, Pelé marcou o tão perseguido gol mil através de cobrança de penalti. O Vasco, e especialmente o goleiro argentino Andrada, jogaram suas vidas para não sofrer o gol, o último quase pegando a penalidade e passando a socar o chão em desespero após ver a bola entrar.
Assim, além do Pelé ficaram na história o Vasco e especialmente o Andrada, de quem ninguém certamente se lembraria não fosse aquele fato.
Lembrei desse fato ao assistir ao jogo do Coritiba contra o Caxias e perceber que o time e a torcida adversária se conduziam como se estivessem decidindo a final de um campeonato, tamanho o empenho – às vezes até agressivo, o tal de Pedro Henrique quase chorava quando perdia a bola – daquele e a gritaria e vaias da última. Precisavam o resultado impossível de vencer o Coritiba por cinco gols de diferença mas, mesmo sem esperanças, pois perdiam de um a zero, continuaram a jogar suas vidas até o apito final, pois um empate, ainda que no último minuto, lhes tiraria a pecha de facultar nosso recorde e, ao contrário, lhes daria a glória de o terem impedido.
Rapidamente liguei as coisas entre o milésimo gol do Pelé e nosso feito. Alcançando o Coritiba o recorde, como alcançou, a história o registrará por muitos anos – e talvez nunca seja batido – mas o Caxias, tal como o Vasco e o Andrada, sempre figurará como a equipe que perdeu para o Glorioso na ocasião do alcance. Era o que eles não queriam, não importando se podiam ou não reverter a desvantagem para prosseguir na Copa do Brasil.
Porém, se pode haver algum consolo para os caxienses, devem lembrar que, pela dimensão de sua equipe, talvez esse seja o registro mais perene que terão na sua história. Perder para a atual equipe do Coritiba, enfrentando-a briosamente e sofrendo somente um gol, foi também um feito a comemorar. Assim, quando daqui a alguns anos um filho ou um neto dos atuais caxienses perguntar ao pai ou avô como ocorreu o fato de ficarem registrados na história como a equipe que proporcionou o recorde do Coritiba, eles poderão dizer com orgulho – entre um gole de vinho e um bocado de polenta - que nos enfrentaram com bravura e perderam por apenas um gol e que foi uma glória perder assim para um time de tal envergadura como o Coritiba.
Mas fiquem certos, amigos, de que todos os adversários que enfrentaremos daqui em diante se conduzirão do mesmo modo, visando a evitar a ampliação do recorde. Por isso, que ninguém se desiluda caso um resultado negativo aconteça domingo contra o Cianorte, até porque o efeito “ressaca” poderá atingir aos atletas tal como aconteceu no ano passado no jogo comemorativo contra o Guaratinguetá. Se acontecer, talvez seja bom e pedagógico, pois afinal tirará a tensão dos jogadores e os liberará para encarar o Palmeiras sem a preocupação de ampliar o recorde. Pior será ampliá-lo contra o Cianorte e interrompê-lo contra o time do Felipão.
Agora, chega de recorde e vamos em busca de título(s) nacional(is).
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)