Bola de Couro
Todos estão escrevendo, e ainda muito escreverão, sobre a atual fase do Coritiba, especialmente após a confirmação nacional e mundial alcançada com a goleada impiedosa, cinematográfica e antológica sobre o um dos nossos genéricos (sim, genéricos, pois somos o alviverde mais antigo do país e os que seguiram copiaram nossas cores). Por isso, e porque sei que os competentes colegas dos Coxanautas já lançaram ou estão preparando textos a respeito, entendi de abordar a atual situação por outro enfoque.
Utilizei “cotejo” no título da coluna, não no sentido desfigurado de uma disputa, mas sim de comparação, o que pretendo fazer entre a minha geração de torcedores e a atual, mostrando que finalmente ela desapareceu.
Vivo e acompanho o futebol, especialmente o Coritiba, é claro, desde o final dos anos 1950 e saboreei o melhor período do clube que ocorreu de 1968 a 1989, quando foi campeão paranaense por nada menos que doze vezes, fez três excursões vitoriosas à Europa e norte da África, de uma delas voltando invicto, foi campeão do Torneio do Povo, disputou as semifinais dos campeonato brasileiro de 1979 e 1980 e alcançou o auge com o título nacional de 1985.
A partir de 1990, e concorrendo para isso fortemente o “canetaço” que nos levou à segunda divisão, ficamos vinte anos com raríssimas glórias, com ênfase negativa para o período entre 1990 e 1997, quando freqüentamos a segunda divisão e não conseguimos nenhum título estadual. Ainda na mesma década tivemos um lampejo de melhoria com a boa campanha no brasileiro de 1998 – a um custo financeiro que até hoje nos persegue – desperdiçando a chance de convencer plenamente em face de decepcionante derrota e empate contra a Portuguesa de São Paulo. Em 2003 voltamos a fazer boa figura, campeões estaduais invictos e nos classificamos para a Taça Libertadores da América, mas aí veio o vetusto Antônio Lopes que, com seu jeito de “carioca exxsperto” buscou auto-afirmação fazendo escalações esdrúxulas tal como no primeiro jogo da Libertadores onde formou o time com três alas esquerdos e um zagueiro(?), o inesquecível Esmerode, só porque o mesmo sabia falar espanhol (tenho um tio que fala fluentemente o espanhol e talvez se saísse melhor que aquela triste figura).
Bem, mas vamos ao que quero chegar.
No comparativo entre essas duas décadas, a geração que viveu a primeira sempre causou uma saudável inveja entre a da segunda fase. Quando o time fracassava – e isso foi uma constante entre 1990 a 1997 - os mais velhos, ou os não tão jovens, falavam como era o Coritiba de Miltinho, Kruger, Zé Roberto, Jairo, Leocádio e tantos outros que o espaço aqui não permite citar, lembrando os incontáveis títulos que alcançaram. A geração seguinte, aquela que se firmou coxa a partir de 1990, ouvia com saudável inveja mas sempre com a esperança de que um dia viveria os mesmos tempos.
Então, poderia pensar algum desavisado, se poderia dizer que uma geração de torcedores foi mais Coxa que a outra? Que os que viveram as glórias do passado teriam mais história e consistência como torcedores do que os que quase só sofreram?
De modo algum, e talvez pelo contrário.
Primeiro porque os que se formaram ou se firmaram como coxas nos anos ruins, especialmente a década de 1990, foram muito autênticos, não abandonaram a equipe na adversidade e se mantiveram fiéis. Sofreram, se decepcionaram, mas continuaram fiéis, comparecendo ao Couto Pereira e acompanhando a equipe em viagens. Todos sabemos que é muito mais difícil ser torcedor nas horas ruins, e por isso muito meritória a geração que assim se sustentou. Eles torceram tendo em mente a esperança, sabendo pelos mais velhos o que o Coritiba fora e certos de que um dia aqueles tempos voltariam. Isso é fidelidade, e por isso nenhuma geração pode se dizer mais ou menos Coxa do que a outra.
Mas, amigos, felizmente não é mais tempo de comparações, pois o hiato entre glórias e fracassos acabou e os que sobreviveram da minha geração e os que enfrentaram os anos difíceis mas jamais abandonaram o clube na adversidade estão igualados. Os que hoje vivem o Coritiba daqui a alguns anos poderão dizer, tal como dizemos a respeito do Miltinho, Kruger, Zé Roberto e outros: Eu vi o Emérson, o Davi, o Léo Gago e tantos outros. Eu estava lá. Eu vi o Coritiba ter 24 vitórias consecutivas; eu vi o Coritiba bicampeão paranaense invicto e goleando o rival na sua casa. Eu vi o Brasil inteiro se render ao futebol do Coritiba depois da goleada que aplicou no Palmeiras.
Não tem mais a história de “no meu tempo”. O tempo é agora, é de todos. E tal como a geração que se manteve fiel, certa de que as glórias voltariam, estamos todos unidos na esperançosa certeza de que ali em frente está o sucesso nacional.
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