Bola de Couro
Nossas vidas envolvem constantes apostas. Ao escolhermos ou sermos escolhidos para um trabalho, há uma recíproca aposta de sucesso e bons serviços entre nós e o empregador. Ao escolhermos o(a) companheiro(a) com quem vamos conviver, fazemos uma boa aposta de que seremos mutuamente felizes. Especialmente se ela não reclamar de nossa dedicação ao futebol e mais ainda se ela for tão torcedora quanto nós. E do mesmo time, claro. Quando geramos um filho, apostamos que será nosso orgulho. E que torcerá para o nosso time, evidente. Enfim, como o imponderável é fator que em parte rege nossas vidas, vamos apostando.
Faço estas referências pois o Coritiba está frente a duas apostas. Uma já definida, que foi a contratação do Marcelo Oliveira como técnico. E outra indefinida, recorrente desde o anterior ao centenário, qual seja anunciado – anunciado talvez não seja bem o termo, melhor dizendo o insinuado - retorno do Alex que aqui viria encerrar a carreira.
************************************
Marcelo Oliveira está na mesma situação em que estiveram Mano Menezes e Guilherme Macuglia. Um, aposta vitoriosa; outro, aposta fracassada. Ambos contemporaneamente.
Mano iniciou no inexpressivo Guarani da pequena Venâncio Aires, clube que disputa a segunda divisão do campeonato gaúcho, embora ocasionalmente chegue à primeira. Depois foi para o XV de Novembro de Campo Bom, onde se destacou levando o clube à semifinal do Copa do Brasil em 1999. Dali foi um pulo para o Grêmio, onde conquistou vários títulos, seguiu para o Corinthians e hoje dirige o selecionado nacional.
Macuglia começou no não menos expressivo São Luiz de Ijuí, e dali teve passagens pelo Náutico, Guaratinguetá, Figueirense, estando hoje no Criciúma, todas equipes de segundo patamar no futebol brasileiro. No único clube de ponta que o contratou, o Coritiba, foi um tremendo fracasso.
Enquanto Mano subia degrau a degrau até o final da escada, Macuglia subia um e descia dois e certamente nunca chegará lá. Duas apostas que clubes de expressão fizeram, o Grêmio e o Coritiba. O Grêmio ganhou o prêmio e o Coritiba pagou a banca.
Como quem aposta sempre deve confiar no que apostou, estou com a firme esperança de que a trajetória que Marcelo Oliveira iniciará no Coritiba está muito mais para a de um Mano Menezes que a de um Guilherme Macuglia. E muito depende dele, que deve honrar a confiança e o crédito dado pelo Ney Franco. Por cautela, peço também que Deus me ouça, pois depois de penarmos tanto merecemos chegar ao céu ou pelo menos perto dele.
***************************************
Sobre a outra aposta, que muito mais advém de insinuações, algumas geradas por ele mesmo, tal como quem dá uma olhada rutilante para alguém do sexo oposto, o possível retorno do Alex ao Coritiba para aqui encerrar a carreira, começo dizendo que sei que estou sentado em um formigueiro e com um enxame de vespas ao meu lado, tantos sei são os admiradores que ele tem, especialmente entre a geração que se formou ou se firmou torcedora do Coritiba na primeira metade da década de noventa.
Primeiro, não podemos esquecer que sempre que fala em voltar ao Brasil e aqui encerrar a carreira, Alex diz para nós que daria preferência ao Coritiba, mas ao Palmeiras e ao Cruzeiro diz a mesma coisa. Parece se comportar como aquele(a) jovem que tem vários admiradores(as) e joga charme para todos(as) antes de escolher. Estou sendo demasiadamente forte e irônico? Vão ao Google e façam buscas com indicativo “Alex retorno Brasil” e vejam todas as respostas que ele já deu.
Ou seja, não será só por amor que ele retornará ao Coritiba, mas sim se nos dispusermos a dar a ele o que o Palmeiras ou o Cruzeiro, e agora se fala o São Paulo podem dar. Em dinheiro, não em amor ou prestígio. Não lhe tiro a razão pessoal, afinal deve viver muito bem, com os altos salários que merece e por quanto mais tempo puder manter a faixa de rendimentos que tem, melhor para ele. Mas não me venha ele com esta história de jogar charme e falar em preferência pelo Coritiba sem que ela esteja condicionada a um excelente salário.
Vivemos em 2.009 a experiência do Marcelinho Paraíba, contratado a peso de ouro e que foi fator certo para a desintegração do grupo, uma das causas – dentre outras, é claro – para nossa queda. Hoje temos um grupo de jogadores harmonizados e comprometidos, verdadeiros torcedores do Coritiba e, ao que se sabe, com variações salariais de pequena expressão, tudo dentro de um teto. Como reagiriam eles ante a contratação do Alex que viria ganhando quatro, cinco ou dez vezes o que alguns ganham?
Não que o Alex vá ter também o estrelismo do Marcelinho Paraíba, exigindo mordomias, dispensa de treinamentos, etc, pois é sabido que ele é um profissional correto, bom rapaz e exemplar chefe de família. Mas que muitos vão pensar “vai e faz tudo, já que você é o craque e ganha para isso”, ah, vão pensar. E daí para o time se desintegrar - e ele também, pois é sabido que se abate facilmente ante as adversidades - e sair das mãos do treinador, é um passo rápido.
Além disto, a volta do Alex só nos servirá se ainda tiver condições de correr o jogo todo, de disputar todas as partidas que forem necessárias e jogar de peito e olhar erguido como Felipão ensinou, o que não fazia aqui.
Bem, amigos, sentado no formigueiro e sentindo o vespeiro se aproximando, minha aposta: a volta do Alex não será boa para o Coritiba, salvo se vier a compor o elenco no teto salarial hoje praticado e enquanto ainda tiver condições físicas plenas de nos servir com seu inegável bom futebol.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)