Bola de Couro
Romances policiais do século passado, especialmente de autores ingleses, criavam enredos nos quais apareciam como envolvidas pessoas da elite angla, mas no final se descobria que o culpado pelo crime era o mordomo, um modo de não a permitir o autor que algo abalasse o conceito da aristocracia perante os leitores.
No clássico “Casablanca”, frente à investigação de um crime o chefe de polícia disse aos subordinados: “Prendam os suspeitos de sempre”, frase que se celebrizou juntamente com o excelente filme.
Pois ontem, depois do vexame de mais uma derrota em casa, desta vez para o CRB, o todo poderoso diretor de futebol do Coritiba decidiu pela demissão do treinador Humberto Louzer, talvez pensando que com isso acalmaria a nossa tão sofrida torcida. Chamou a atenção que, embora o fracasso viesse em um crescendo há vários jogos e a demissão ser necessária, o Pastana, que faz às vezes do omisso presidente na área do futebol (e dizem uns que em outras áreas também), afirmou que não tinha um nome para substituir o demitido. E assim vamos, em meio ao campeonato, com uma campanha pífia, a procurar novo treinador para que tente extrair algo do limitado elenco.
O Louzer, fraco sem dúvida, não deveria nem ter sido contratado, mas figurou como o mordomo na história de suspense e terror que vive o nosso clube, e era o suspeito de sempre do filme Casablanca, uma vez que se retoma a prática de demitir o treinador como se todos os problemas do time estivessem na sua pessoa e não na soma de fatores, direção, gerente de futebol e elenco limitado.
Usando as palavras do amigo leitor Alvaro Rosa, “tiraram o sofá da sala”. Todos sabem a anedota do marido que, sabendo-se traído pela mulher que usava o sofá da sala para os encontros com o amante, de modo decidido retirou da sala o estofado. Pronto, no sofá ela não poderia mais traí-lo. Um autoengano, em suma.
Enfim, o caos no Coritiba está fundamentalmente na irresponsabilidade e omissão da direção, em especial do seu despreparado e soberbo presidente, que entregou a administração do futebol para um profissional remunerado, sobre o qual não há nenhuma fiscalização e controle de dirigente eleito. E a direção é tão omissa que até a demissão do treinador foi anunciada pelo empregado do clube, ausente aquela como se não devesse satisfação aos torcedores.
Provavelmente nesta semana seremos brindados com declarações no estilo de sempre. Culpa das direções anteriores, primazia para pagamento de contas ainda que perdendo receitas em uma equação econômica rasa, os jogadores são esforçados, contratamos os que estavam dentro da nossa capacidade financeira (como se o CRB tenha um elenco de craques caros) etc. Espero que, pelo menos nessa repetição da ladainha, fale algum dirigente e não o empregado, o qual, como já disse um ilustre cronista de jornal local, parece ser o presidente de fato do Coritiba.
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