Bola de Couro
Logo depois de postada a minha última coluna, “Apatia x Indignação”, recebi do meu filho, via WhatsApp, o texto que reproduzo adiante.
O Alexandre veio comigo para o RGS com seis anos de idade, em 1976, já inoculado com o vírus daquele grande Coritiba que conheceu. Levava-o aos jogos na “cacunda”, e ao aqui chegar ele não quis saber de time gaúcho, ainda que só pudesse acompanhar o Coritiba pelas ondas curtas da PRB2. Foi e até hoje é, tal como eu, torcedor unicamente do Coritiba Nunca esqueço que em 1985, quando da decisão do campeonato brasileiro, de tão angustiado e ansioso que estava, chegou a vomitar antes do jogo. Depois “vomitou” uma explosão de alegria que deixou muitos da cidade onde morávamos sem entender a gritaria toda e os fogos soltados na madrugada. Sua fé fez com que o meu neto, Vítor, ainda que aqui nascido, se tornasse também torcedor do Coritiba, em que pese vivendo os maus momentos que o clube constantemente nos tem propiciado.
Pela qualidade e sensibilidade do texto que enviou para mim, sinto, orgulhoso, que quando os males da idade (a velhice nada tem do eufemístico “melhor idade” gurizada) me atingirem e não puder escrever mais, certamente ele poderá me suceder neste espaço.
Lamentável esse momento. Infelizmente tive que me vacinar para ñ sofrer tanto. Foi um remédio amargo, mas não consigo mais torcer, não reconheço mais meu clube que virou apenas um símbolo e nada mais.
Sim, o amor por uma bandeira é quase irracional, é paixão. E o amor não correspondido é sofrido. Pra não sofrer ignoro a realidade, a TV fica ligada e eu fico comendo, bebendo e navegando pelo celular. Já espero a derrota.
O sempre otimista Alexandre não existe mais.
O bom disso tudo é que o tempo dedicado ao clube está sendo usado para atividades que me tornam uma pessoa melhor: música, família e amigos.
O Coxa sempre foi pra mim uma representação da minha origem, uma representação do meu pai, dos meus tios, dos meus primos e da minha cidade.
Tenho tatuado o escudo do Coxa e assim como o amor ao clube, nunca acabará.
O clube pode afundar até desaparecer e isso é possível, assim como a perda de um ente querido.
Já não reconheço mais o meu Coritiba.
O que restou é a torcida, o que restou é a história, o que restou são todas as histórias contadas por meu pai, meu avô e meus tios. O que restou é o velho Couto. O que restou são as audições em ondas curtas no interior do RS nos anos 1970 e1980. O que restou foi eu gritar na janela do meu quarto em Camaquã em 1985: É campeão!
Enfim. O que restou são as memórias e isso me faz para sempre um COXA BRANCA.
SOU CORITIBA PARA SEMPRE!
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)