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Bola de Couro
Tenho um amigo, o Aderbal (quem me acompanha talvez lembre que em 2011 escrevi sobre ele), que é um permanente insatisfeito. Se mostro o azul ele vê roxo, se o copo está meio cheio ele diz que está quase vazio, se faz sol ele não se satisfaz enquanto não vê uma nuvem, e por aí vai. Pelé foi o que foi porque naquela época não havia a marcação que há hoje. Zico só sabia bater faltas. Futebol bom é o da Europa oriental e o da Ásia, mostrados em jogos que só ele vê de madrugada. Aderbal é coxa-branca ferrenho, mas para ele o time nunca está bom, quando ganha podia fazer mais ou teve sorte, quando empata ou perde foi um desastre.
Claro, o Aderbal tem muitas qualidades e por isso mantenho a amizade com ele, pois se não relevássemos alguns defeitos dos amigos nunca os teríamos. Certamente tenho alguns defeitos que ele releva e assim convivemos e vamos levando a vida.
Ontem, depois da esfuziante vitória contra o Brusque, telefonei para o Aderbal, imaginando, eufórico, que, agora sim, iria encontrá-lo satisfeito.
- E então, Aderbal, gostou do time?
- É, respondeu depois de alguns segundos com um tom de benevolência, até que foi mais ou menos, mas também, contra um timinho daqueles.
- Mas Aderbal, redargui, foi uma exibição de gala, e não existem mais timinhos, veja o que aconteceu quando subestimamos o CSA.
- Pois é, nem me lembre daquele jogo.
- E o Igor Paixão, o Natanael e o Robinho, como jogaram bem, concorda?
Depois de outros segundos de silencio, o Aderbal respondeu, mais uma vez fazendo concessão:
- É, até que foram bem...
- Mas, Aderbal, 4 x 0, com o time na ponta dos cascos, podendo ter feito 6 x 0 não houvesse o Léo Gamalho errado o pênalti e nem se adiantado um pouco quando o lançamento do que seria outro gol, o que você quer mais?
- O cara não pode errar pênalti e nem se adiantar na jogada! Não pode! E se no final do campeonato o saldo de um gol fizer falta para a nossa classificação?
- Aderbal, você está sendo muito pessimista.
-Realista, eu sou é realista!!!. Pareceu-me que quando falava assim chegava a babar.
Desisti de argumentar e dei uma desculpa.
- Aderbal, vou ter que interromper, chegou a pizza que pedi.
Você conhece algum coxa-branca assim?
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32 Ver todos os comentáriosO nome “Bola de Couro” serve para revelar a geração do autor, que acompanha o Coritiba desde o tempo em que elas eram efetivamente de couro natural, e não sintéticas como hoje. Além de estar atento ao futebol moderno, especialmente graças à tecnologia que tornou o mundo uma aldeia global, o blog de vez em quando trará algumas reminiscências das tantas glórias de que o Coritiba é coberto e que estão mais na memória de cada um do que em imagens físicas, atendendo também a um nicho da “velha-guarda” de Coxanautas que se manifestou desde a primeira coluna do autor. Mas todos, de qualquer geração, serão bem-vindos a colaborar e criticar em espaço que se pretende democrático.
Benedito Felipe Rauen Filho, conhecido como Felipe Rauen, é coxa-branca de terceira geração, pois tanto seu avô como seu pai também o eram. Em parte da infância e da juventude morou na rua Maria Clara, a cem metros do estádio do Coritiba, do qual desde casa sentia o "cheiro". Transferiu residência para o Rio Grande do Sul em 1976, onde iniciou carreira como Juiz de Direito, hoje aposentado. Está aculturado naquele Estado em vários aspectos, mas jamais no futebol, pois não adotou time local e torce somente para o Coritiba. É conhecido em todos os círculos que frequenta em terras gaúchas como coxa-branca, conseguindo que inúmeros amigos gremistas e colorados tenham o Coritiba como segundo time ou pelo menos mostrem por ele simpatia. Em 2009 se tornou Cônsul do Coritiba em Porto Alegre, permanecendo por vários anos. Cardiopata, dá trabalho regular ao cardiologista em razão das emoções vividas com e pelo Coritiba, mas tem certeza de que o coração coxa-branca se manterá forte ainda muito tempo para ver o clube alcançar mais e mais glórias.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)
