Bola de Couro
Há pouco recebi a notícia da morte do Nico, zagueiro do Coritiba nos gloriosos anos 1960/1970, que incontáveis vezes vi jogar.
Nico, Livaldir Toaldo, que se dizia natural de Santa Felicidade e não de Curitiba, começou a carreira no extinto Água Verde, onde jogou apenas uma temporada, sendo em seguida contratado pelo Coritiba para suceder ao ídolo Fedato, o que trazia enorme responsabilidade.
Pois o Nico soube ser sucessor do ídolo. Jogou no Coritiba de 1959 a 1971, conquistando cinco campeonatos estaduais e participando da primeira excursão do Coritiba Europa em 1969. Atuou até a idade de 34 anos.
Era um zagueiro forte e viril, mas muito leal, tanto que ganhou um prêmio que havia na época, o Belfort Duarte, concedido pelo extinto Conselho Nacional de Desportos aos atletas que por dez anos não registrassem nenhuma expulsão. Há registro de uma expulsão, mas posterior à conquista do prêmio, e arrisco dizer que não foi merecida considerando o modo de jogar do Nico.
Sobre ele existem histórias, não sei se verdadeiras ou lendas, uma das quais dizia que no matadouro onde trabalhava em Santa Felicidade – na época era um semiprofissionalismo, os jogadores necessitavam ter outra atividade – matava porcos com socos, se necessário. Outra história se refere à renovação do seu contrato na época em que haviam as denominadas “luvas”, que eram uma espécie de pagamento inicial mais expressivo, quando o dirigente perguntou quanto ele queria, tendo o Nico, um tanto encabulado, dito que gostaria de móveis novos para o quarto.
Em 1968 a seleção brasileira que se preparava para a Copa do Mundo de 1970 fez um amistoso contra o Coritiba, que na ocasião vestiu a camisa da Federação Paranaense de Futebol pois a então CBD não permitia jogos contra clubes. Na seleção brasileira estava o Nilo, nosso lateral esquerdo, e o jogo terminou com o placar de 2 x 1 para o selecionado, gols de Dirceu Lopes e Zé Carlos para os vitoriosos e Passarinho para nós. Pelé jogou e não marcou gol, sabem por quê? Por ter sido marcado pelo Nico, era o que dizíamos na época.
Conheci muitos jogadores raçudos, mas nenhum como o Nico, não vacilo em afirmar. E era, como já disse, dotado de raça sem deslealdade, qualidade não muito comum.
E a atual direção do Coritiba teve um belo gesto ao homenagear o Nico em maio do ano passado. Homenagens póstumas são justas e merecidas, mas para o homenageado nada como recebê-las em vida como o Nico recebeu.
Pois o Nico nos deixou, indo fazer companhia ao Célio e ao Krüger, com os quais jogou. Uma notícia triste, mas afinal estava com 82 anos de idade e nesse patamar da vida quando se adoece é muito difícil a recuperação.
Ao Nico a saudade e homenagem minha e dos amigos da minha geração que frequentam esta página.
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