Bola de Couro
Na minha última coluna relatei dois fatos ocorridos no Coritiba que se constituíram em intervenção através da qual os presidentes, pressionados pela má condução do clube, se afastaram para dar lugar a outros dirigentes que vieram a ser bem-sucedidos.
Não nego que a minha intenção subliminar foi a de sugerir que algo parecido ocorresse com o atual Coritiba.
Coincidentemente, horas depois o competente jornalista Augusto Mafuz, sempre bem informado, postou coluna na Tribuna do Paraná analisando o fracasso do Coritiba e ao final sugerindo também uma intervenção.
Em seguida o confrade e amigo Sérgio Brandão escreveu sobre essa coincidência de entendimento, e pediu que eu fizesse um esclarecimento sobre como seria possível a intervenção, indagação que também constou de vários comentários de leitores e até de contestações.
Pois bem, vou procurar esclarecer o que talvez tenha ficado dúbio naquele texto.
Não há a possibilidade de intervenção através de aplicação do estatuto do clube tão somente por má campanha do time no futebol, a sua razão de ser. Somente fatos graves e dolosos na administração poderiam levar o Conselho Deliberativo a destituir um ou mais dirigentes. E isso não ocorre e nem mesmo se pode cogitar. No quesito correção e honestidade nada há que macule a administração atual, em que pese o fracasso no futebol atinja as finanças do clube em médio e longo prazo.
As intervenções anteriores a que me referi naquela coluna, foram o que se pode denominar de “intervenções brancas”, ou seja, como relatei, os presidentes foram convencidos a se afastar em razão dos maus resultados no futebol. Nenhum deles foi objeto de destituição do cargo por algum malfeito administrativo.
Assim, o que subliminarmente sugeri naquele texto, foi no sentido de que os “cardeais” do Coritiba procurassem a atual direção e a convencesse de que assim como está não pode continuar, apresentando duas opções, licenciamento do cargo para assunção de outros nomes, ou agregação de personagens com história no clube e experiência no futebol para uma cogestão ou até comando mesmo, forma também de intervenção “branca”.
Não acredito que nem uma e nem outra opção seria aceita, uma vez que até agora a gestão tem se mostrado autossuficiente e obstinada nos erros. Houve um passo para que algo aconteça, pequeno ainda, entregando a direção do futebol a um profissional experiente, em que pese tenha que ser ele um fazedor de milagres para a esta altura o time conseguir dez vitórias em quatorze jogos, e cujas chances de subir, antes da derrota para o Oeste e a vitória contra o Brasil de Pelotas, eram de apenas 8%. Foi um passo pequeno, mas que pode mostrar que, ainda que muito tarde, pelo menos houve autocrítica.
Fala-se também em novo técnico para terminar a temporada, buscando-se um nome de peso. Aqui a situação é mais difícil. A uma porque qualquer nome de peso dentre os especulados só viria por muito dinheiro – o que destruiria o discurso de que a prioridade no Coritiba é a de pagar contas – e a duas porque teria que ser mais um dotado de poderes para milagres ao encontrar o fraquíssimo elenco que temos.
Mas claro, enquanto houver mínima chances não vamos nos entregar. Difícil, muito difícil, muito mesmo voltar à série A neste ano, mas impossível não é. Lembro que em 2009 o Fluminense chegou a ter 1% de chances de não cair, mas nos últimos sete jogos conseguiu dezenove pontos e se manteve na elite (aliás, com um empate contra nós naquele triste episódio que não gosto de lembrar). Em 2012 o Goiás também, depois de uma fraca campanha, com derrotas sucessivas, encordoou uma série de vitórias que o levaram à série A.
Enfim, mesmo que algumas medidas estejam sendo tomadas ou possam acontecer, parece muito tarde e ainda penso que se a atual direção não buscar socorro em ex-dirigentes experientes e bem-sucedidos, pelo menos agregando nomes que possam ajudar ou até a comandar informalmente o clube, dificilmente sairemos dessa senda de fracassos.
Como dizia o pensado alemão Erich Remarque: “No desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre. De outra forma não sobreviveriam”. Oremos, então.
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