Bola de Couro
A derrota do Coritiba para o modestíssimo Sampaio Côrrea não foi decepcionante para quem acompanha o time há algum tempo. Foi somente a crônica de uma morte anunciada como na novela de Gabriel Garcia Marques.
De tudo o que o Coritiba mostrou neste ano, desde os gabinetes até o campo, não seria de esperar um bom resultado em razão de possuirmos um time tecnicamente limitadíssimo.
Acho que o que ninguém esperava a apatia, modorra, marasmo, desânimo, preguiça, indolência, impassibilidade e letargia que tomaram conta da equipe. Em se tratando de elenco modesto, com pouca técnica, era de se esperar que pelo menos vontade e disposição para buscar a vitória houvesse, ainda mais considerando que a maioria é jovem e precisa se afirmar (o que não é o caso do João Paulo, que já se afirmou como um bonde).
Mas amigos, o que esperar de um time cujo presidente é apático, de cujos vice-presidentes nem se houve falar, e é comandado(?) em campo por um técnico que merece todos os sinônimos de apatia que desfilei antes e que fica passivo na beira do campo? Já nem falo da sua manifesta desqualificação e carência de fundamento para ser técnico.
Em 18 de dezembro último, logo após eleita a atual diretoria, e quando o presidente Namur ainda estava nas redes sociais e recebia minhas colunas, escrevi “Contrate homens, presidente!”, ocasião em que disse: “Contrate jogadores bons tecnicamente, mas homens com caráter e que venham a gostar de jogar no Coritiba ou aprender a tal. Para os quais não seja o Coritiba, como tem sido, um clube para servir como passagem para outros ou para encerrar a carreira”.
E não foi feita nenhuma e nem outra coisa. Contrataram jogadores sem técnica e, pelo que se viu hoje, sem hombridade, que aceitam a derrota para um time inexpressivo com a maior naturalidade e insensibilidade. Não estou entre aqueles que entendem que raça e superação por si só resolvem jogos, pois sem a mínima técnica não há vontade que se imponha. Mas compor um time com jogadores sem a mínima técnica aliada à apatia e indiferença é demais.
Pois se usei sinônimos para apontar a apatia do time, agora uso um antônimo para o sentimento da torcida, qual seja o de indignação. Estamos sendo feridos e sangrados aos poucos, mas as direções que se sucedem no nosso clube de fracasso em fracasso aos poucos vão afastando os torcedores, a razão de ser do clube e aumentando a cada dia o fundo do poço em que há tempo nos encontramos.
Talvez esteja na hora de transformar o sentimento de indignação em revolta, não no sentido de agir de modo impróprio ou violento, mas visando a uma modificação radical e uma verdadeira revolução no clube. Temos compromisso formal com a aceitação do resultado das eleições, mas não temos compromisso com o erro. Incontáveis governos formalmente legítimos foram derrubados por não atenderem aos anseios da sociedade, o que faz com que percam a legitimidade que nessas condições é meramente figurativa. Se a jovem e inexperiente direção do clube não fizer rapidamente uma autocrítica e radical correção de rumos, não restará aos torcedores e associados outra atitude que não a de um analógico impeachment.
Não gostaria de falar de modo tão contundente assim, mas sou coritibano desde que me conheço por gente, ou seja, há quase sessenta anos, e não estou aguentando mais tanto sofrimento. Hoje um amigo – se ele quiser irá revelar o nome nos comentários – mandou-me mensagem dizendo que vai cancelar o pagamento as duas cadeiras perpétuas que possui até que as coisas mudem. Não se diga que ele é mau torcedor, jamais. É também um torcedor da minha geração que sempre foi de fé e apoiou o clube, mas está cansado de tantas desilusões. É este o caminho que a direção está apontando para os torcedores e associados.
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