Bola de Couro
No dia 21 de abril último, o Vice-presidente do Coritiba, Alceni Guerra, em manifestação sem apoio na realidade, disse que o time não precisava de reforços: Nós temos esse ano um bom time, uma boa torcida, um bom técnico e uma boa equipe técnica. Esperamos começar bem o Brasileiro e ficar sempre na primeira página, que é o nosso objetivo nesse ano, entre os 10 primeiros. (veja aqui)
Vinte dias depois, logo após o vexatório fracasso nas finais do campeonato estadual, o Presidente Rogério Bacellar afirmou que neste ano o Coritiba iria lutar por uma vaga na Copa Libertadores da América (confira aqui). Tal afirmação me levou a ter esperança de que nosso time seria reforçado, o que infelizmente não está ocorrendo.
E agora, no dia 02 deste mês, o Vice-presidente José Fernando Macedo pediu paciência e compreensão à torcida, afirmando que o único sonho do Coritiba neste ano seria o de se manter na primeira divisão e diminuir o passivo financeiro: “Temos de pagar as contas. A torcida tem de entender que estamos formatando o Coritiba para os anos futuros. Nós não podemos é cair. Temos de lutar para manter o plantel para que ano que vem a gente possa respirar com mais dinheiro”, (confira). Assim, se em um ano pagamos quase 17% das dívidas, a continuar nesse ritmo o futuro almejado pelo dirigente demorará pelo menos seis anos para ser alcançado...
E agora, em quem acreditar e o que esperar? Diz-se em jornalismo que a notícia nova sepulta a velha, o que nos leva a supor que o entusiasmo dos dois primeiros dirigentes estaria superado pela manifestação do vice Macedo, o último a falar e, ao que se diz nos corredores, um dirigente com muita força dentro do clube. De um lado, otimistas sem apoio na realidade, e de outro um pessimista sem ambição.
Sem dúvida a última manifestação foi um balde de água fria nos torcedores e igualmente deve ter sido nos jogadores que podem ter pensado “nós não somos capazes de nada mais do que tentar manter o clube na primeira divisão”. Sim, pode ele ter sido realista, mas também é a expressão de alguém desanimado e sem esperança, o que não funciona em nenhum ramo de atividade e menos ainda no futebol. Todos nós sabemos da realidade do passivo financeiro do clube, que vem de muitos anos e é argumento repetido pelos últimos dirigentes para justificar a ausência de sucesso. Mas será que é muito difícil administrar e diminuir dívidas e ao mesmo tempo ter um time razoável e com ele ter metas ambiciosas?
Em clubes de futebol a relação entre resultados/receitas/despesas, pode ser um círculo virtuoso ou vicioso. Se o clube é bem sucedido em campo, não precisa ser um expert em administração ou economia para saber que as consequências serão o aumento do quadro social, maior renda em jogos como mandante, maior venda de produtos licenciados e maior cacife para negociar patrocínios. Se não for bem sucedido, a consequência será a inversa, não se gasta, mas também não se recebe e não se cresce.
Faço uma analogia, a partir da opinião do vice Macedo, com a situação de um comerciante endividado que não renova ou qualifica os seus estoques para não gastar, pois a prioridade deve ser a de cobrir o passivo. Mas como o fará se pouco ou nada terá para oferecer aos clientes? Não gasta, mas também não lucra. Não sai do lugar e quebra definitivamente.
Os nossos dirigentes têm que chegar a um consenso (a contradição entre as afirmações públicas, otimistas demais de uns e pessimistas de outro, pode levar a supor que também não há harmonia interna) sobre se querem somente pagar as dívidas e apenas tentar manter o time na primeira divisão, ou se desejam ir aos poucos derrubando os débitos e ao mesmo tempo ter um time vitorioso. Pensar pequeno e de modo desanimado torna a situação muito mais perto de um maior fracasso do que de algum sucesso.
O torcedor não quer uma certidão negativa de débitos para enfeitar a parede. Quer saber dela, sem dúvida, mas quer muito mais uma faixa de campeão para exibir. Será que é tão difícil assim harmonizar passivo e ativo e ser realista e ambicioso ao mesmo tempo?
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