Bola de Couro
Certamente os torcedores que me acompanham esperavam a minha apreciação sobre mais uma crise que o Coritiba vive - ou mais precisamente a mesma que há muitos anos nos incomoda - agora retratada em mais uma derrota para uma equipe de baixo nível (ou nível igual ao nosso?) e que ainda nada havia conquistado no campeonato.
Mas confesso que estou cansado de escrever quase sempre sobre o mesmo estado de coisas e não sei mais o que dizer. Afirmar que há muito tempo – com alguns intervalos aqui e ali – estamos a subir e descer, não saindo lugar e talvez até retrocedendo? Dizer que o Coritiba é dirigido por homens que são bem intencionados, mas nem por isso têm aptidão para dirigir um clube de futebol? Mostrar que como vem se conduzindo o Coritiba está cada vez mais se apequenando e no vácuo que deixa o rival cresce? Apontar que o clube, por mal dirigido na área específica, não sabe contratar e montou um elenco recheado de veteranos que passam mais tempo curando lesões do que jogando? Mostrar que o discurso com a desculpa da dívida vem de aproximadamente vinte anos e não pode ser justificativa permanente e por si só não pode impedir o clube de crescer? Reclamar de uma direção que, conforme apontei em texto anterior (veja aqui), não se entende sobre qual a qualificação da equipe e o que esperar dela?
Tudo isso em já disse em tantos outros textos. E de que adiantaria repetir, em face da apatia que reina em nosso clube?
Estou cansado, amigos. Tenho 68 anos de idade e acompanho efetivamente ao Coritiba desde os 11 anos – embora aos 8 tenha assistido ao meu primeiro jogo, levado ao então Belfort Duarte por meu pai . Nesses quase 60 anos vi um Coritiba vencedor, com as maiores conquistas do Paraná, e respeitado em todo o Brasil de forma incontestável, pelo menos até 1989 e nos interregnos de 1998, 2003 e 2011. Mas também vivi os tristes momentos dos primeiros anos da década de 1990, ocasionados pelo rebaixamento administrativo em 1989, e ainda as quedas em 2005 e 2009. Pensava que havíamos superado esses momentos de dificuldade quando em 2010 assumiu um presidente de fato que parecia encaminhar o Coritiba para uma refundação, mas logo em seguida, a partir de 2013, voltamos a padecer com más campanhas, perda de títulos estaduais e figuração no campeonato brasileiro buscando apenas nele se manter como se fosse uma conquista. Infelizmente aquela situação de 2010 foi apenas um sopro de esperança que se esvaiu e continuamos a ser um clube em permanente crise administrativa, financeira e técnica.
Eu e todos os que aqui escrevemos procuramos retratar o sentimento da torcida, torcedores que somos antes de cronistas. E a torcida, pelo que mostra neste espaço e nas redes sociais em geral, não aguenta mais tanto sofrimento e tanta ilusão com esperanças que não se confirmam. Estamos todos cansados e desiludidos.
Desse sentimento há o risco de decorrer a diminuição do número de sócios, a perda de público no estádio, a queda da venda de produtos licenciados e a falta de cacife para buscar patrocínio. Aí sim, em um círculo vicioso, a dívida do clube aumentará por falta de receita para equilibrá-la e chegará a hora que só uma recuperação judicial poderá nos salvar de fechar as portas.
Então, em lugar de eu dizer algo sobre a crise, que o digam os nossos dirigentes, não para mim, um modesto colunista, mas à sofrida torcida, razão de ser do Coritiba pelo qual os homens passam e aquela é perene.
Mudar é ato de coragem e é nas crises que os grandes homens se destacam.
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