Bola de Couro
No dia 19 do mês de julho passado postei coluna intitulada “Um consolo. Pior do que está não fica”. Referia-me à falta de esperança da torcida do Coritiba, que nada de positivo vê e espera da atual direção, e em consequência, do time. E terminei o texto assim: “Pelo menos um consolo. Não fosse o Joinville, como diria o poeta Tiririca, pior do que está não fica”.
Pois amigos, mil desculpas. Ficou pior em menos de um mês. Errei feio.
Há muito só frequentamos o noticiário para ver e ouvir sobre um time que se apresentou(?) contra o Goiás de forma vexatória (não assisti ao jogo, estava no exterior, mas tive a infelicidade de pedir à minha filha para gravar), ou porque a cada momento alguém é mandado embora, ou porque sofre lesões que parecem todas de demorada recuperação, ou porque mais alguém da direção ou da comissão técnica renunciou, ou ainda tendo que ouvir o técnico dizer a cada jogo que o time evoluiu(!!). Notícias positivas no momento passaram a ser as listas de dispensas. Mas se o clube for dispensar a todos os que contratou mal, poucos sobrarão para o time ser escalado. Mais fácil encontrar quem deva ser dispensado do que haver consenso sobre quem deve ficar na equipe. Cada um de nós tem a sua lista.
Ouvi uma gravação com declarações atribuídas ao vice-presidente Macias, na qual ele comenta que o time foi mal montado pelo então vice-presidente Pedroso (que descoberta!) e que a atual direção assumiu tendo o clube um passivo de 220 milhões de reais. Mas não sabiam disso quando disputaram o poder? E não sabiam da falta de dinheiro quando um dirigente e o cabo eleitoral maior (onde anda?) empreenderam uma viagem - cuja necessidade nunca entendi, pobre mortal que sou - sem sucesso para a Turquia? Ou quando o clube investiu dinheiro na campanha de candidato a presidente da FPF, na ingênua suposição de que poderia depois ser beneficiado? (Pelo menos aqui o fato ficou um pouco atenuado com a atitude do presidente Bacellar que assumiu pessoalmente o erro de outros e do próprio bolso – segundo se noticiou –repôs o dinheiro aos vazios cofres do clube).
Atribuir falhas a dirigentes passados é atitude comum na cena dos governantes e políticos em geral. Em lugar de se mostrarem propositivos e trabalhar para reerguer o que encontraram, amparam-se no consolo de que tudo já vinha errado, como se isso justifique que assim continue. No Coritiba a conduta infelizmente é igual como estamos vendo e há muito tempo vemos. É fato certo que a cada gestão a nossa dívida (sim, nossa, minha e sua, amigo leitor) cresce e se não fosse pela recente legislação seria impagável ad infinitum. Mas apoiar-se em justificativa de que as coisas estavam ruins e por isso assim continuarão é para os fracos. Quem assume cargo de direção, em qualquer setor de atividade, se encontrou situação difícil deve expô-la de forma transparente, sem dúvida. Mas daí a usar a “herança” como anteparo para não mudar as coisas, se acomodando e não mudando quando tudo mostra que tudo deve ser mudado, vai uma distância.
O presidente Bacellar é um homem honrado e bem intencionado. Temos ligações familiares e sei um pouco da sua história. Neste quesito coloco a mão no fogo por ele. Mas se isso é muito, ainda é pouco para bem gerir um clube de futebol.
Penso, assim, que a proposta do jornalista Augusto Mafuz em sua coluna do dia 04 deste mês (1), no sentido de que os vice-presidentes que restaram renunciem propiciando ao presidente Bacellar a recomposição da diretoria com nomes mais qualificados, talvez seja a mais acertada para o momento e para se tentar uma salvação que parece muito difícil, mas ainda é possível.
Algo deve mudar. Mas que não seja como propôs Tomasi di Lampedusa em “O Leopardo”: “Algo deve mudar para que tudo continue como está”.
(1) O Coritiba precisa imediatamente de um tratamento de choque. E desta vez não passa pela mudança de treinador ou pela contratação de grandes jogadores. A solução poderia ser simplificada se os dirigentes manifestassem o ideal de servir o clube e o espirito de renuncia. Macias, Griebler e Boulos renunciariam aos cargos, permitindo que Bacellar componha uma diretoria de acordo com o interesse final que é o da torcida, e não politico que é o de poucos.
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