Bola de Couro
Os menos jovens devem lembrar de um personagem do Jô Soares no programa “Viva o Gordo” na TV nos anos 1980/1990, o Alvarenga.
Ele era encontrado se supliciando, ora colocando a mão na rede elétrica para tomar choques, ora colocando alfinetes por baixo da unha, enfim, causando sofrimento e si próprio. Quando um amigo perguntava a razão daquilo, ele respondia mostrando uma desilusão e a razão da autopunição. Por exemplo.
- Sabe quando disseram que as fraudes no INSS nunca mais aconteceriam? Eu acreditei! Eu me odeio! Tenho que sofrer.
Pois é o sentimento de que fui tomado ontem após mais um vexaminoso fracasso do nosso Coritiba, lembrando que no meu último texto eu tinha tecido louvores ao time e manifestado esperança de que novos tempos se anunciavam.
Como dizia o Jô Soares, eu acreditei. Eu me odeio.
Só não me puno fisicamente como o personagem em razão de a dor da humilhação ser mais forte do que qualquer outra física.
A psicanálise talvez explique a minha postura pelo desejo inconsciente de me iludir, de não ver a realidade por desejar outra melhor. De tanto sofrer nos últimos anos agi como o doente terminal que credita em curas milagrosas.
O que dizer de um time que como um todo joga mal e perde para um adversário da série D, que nos deu uma lição de vontade, atuação individual e tática? Como analisar um lateral direito que nem na corrida vence o adversário? E um pseudo jogador que, à frente da área adversária chuta para fora pela lateral? De jogadores que, mesmo não acossados pelos adversários não acertam passes? E de um Robson, limitado tecnicamente que ontem nem mesmo foi o esforçado que costuma ser? E do nosso avante criador de casos fora de campo – ontem se envolveu em mais um ao final do jogo – que cobra um pênalti que poderia ter sido decisivo correndo para a bola saltitante como uma bailarina ou um cervo na campina? Paro por aqui.
E eu, tolo, querendo me iludir, acreditei nesse time que nos últimos anos só dá vexame na Copa do Brasil. Eu me odeio, mereço sofrer pela minha falsa crença e teimosia.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)