Bola de Couro
Ninguém é mais torcedor do Coritiba do que eu. Muitos são tanto quanto, mas não é imodéstia minha dizer que sou torcedor desde o meu avô – que foi sócio do clube – passando por meu pai e transmitindo a dádiva para meu filho e meu neto.
Quando jovem, além de coxa-branca apaixonado eu tinha sentimento de desprezo pelos adversários. Agora, com a serenidade que a experiência e a idade nos trazem, não deixei de ser apaixonado torcedor do Coritiba (fanático, não, pois fanatismo significa intolerância total e irracionalidade), mas me tornei um torcedor que tenta ser sereno, ainda que muitas vezes a paixão não permita (e isso é bom, é assim a vida de torcedor).
Por isso, quando um rival alcança uma conquista meritória, não tenho como deixar de admirá-lo e desejar que o Coritiba consiga igual façanha. Assim, procurando conter a minha paixão e dando vezo à racionalidade, caberia estar parabenizando o nosso oponente pela conquista de ontem.
Mas vendo hoje cedo o noticiário sobre a conquista de ontem, senti que não seria o caso, não é necessário, eles não estão felizes com o próprio time.
É que os jogadores do rival, como mostrou a mídia, em lugar de entoarem cânticos e loas pela conquista, cuidaram de gritar palavras de desprezo e desconsideração para com o Coritiba e a até o Paraná Clube. Não ficaram contentes porque ganharam, ficaram felizes porque os outros não tiveram ainda conquista igual.
Isso prova, na esteira de um sentimento que tenho há anos, que o rival não tem torcida, mas sim uma “anti-torcida”, qual seja são antes de tudo “anti-coxas”. Até em uma disputa no exterior, quando a grandeza desta - ainda que seja uma espécie de série B da Copa Libertadores da América - deveria dar lugar a ufanismo pelo próprio clube, a preocupação é com o Coritiba e Paraná Clube.
Certamente despertou neles o inconsciente reprimido e o que a psiquiatria chama de projeção. A alguns não importa a satisfação com os próprios méritos e conquistas, importa mais ver que os demais – notadamente aqueles a quem mais respeitamos – não alcancem o mesmo.
Sem dúvida Freud explicaria.
Mas de qualquer forma, como não tenho o mesmo sentimento de recalque e rancor, registro meus contidos cumprimentos pela conquista. E podem nos esperar, novos ares circulam pelo Alto da Glória.
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Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)