Bola de Couro
Não sou opositor da atual direção do Coritiba e nem desejo ser um crítico sistemático. Sou apenas um analista, e nesta função procuro apontar o que me parece positivo e negativo no andar do clube e do time. Nem sempre é fácil, pois quando se é torcedor dedicado, às vezes o coração pode perturbar a mente e podemos ser levados pelos sentimentos opostos da euforia e da depressão, conforme o momento. Com esta ressalva, lanço o meu olhar sobre o resultado de lucro do primeiro semestre que a direção do Coritiba anunciou há poucos dias.
Segundo nota oficial, no período o clube teve um resultado positivo líquido de R$ 1.911.000,00 e ao mesmo tempo pagou R$ 16.693.000,00 de dívidas, em especial trabalhistas. Frente a uma arrecadação de R$ 45.200.000,00 (este dado não está na nota, constou em matéria na Gazeta do Povo) as despesas somaram 43.300.000,00, o que correspondeu a 16 milhões a menos do que o gasto em 2017.
Para analisar os resultados apresentados a partir dos dados constantes da nota da direção e de jornais, não é absolutamente necessário ter formação em economia ou contabilidade, o que não tenho, mas me considero com alguma lucidez para fazer algumas observações e peço aos amigos leitores que tenham qualificação para tanto que me corrijam onde possa ter errado.
Por primeiro, devo registrar que a situação patrimonial e financeira encontrada pela atual direção do Coritiba não era nada animadora, pois terminamos o ano de 2017 com dívidas em torno R$ 246.000.000,00 e um patrimônio liquido negativo de R$ 52.000.000,00, ou seja, os bens do clube – imóveis, diretos econômicos e outros - não cobrem a dívida. O relatório da auditoria independente sobre o balanço de 2017 tem, entre outras observações, uma que destaco: “Nossas conclusões estão fundamentadas nas evidências de auditoria obtidas até a data de nosso relatório. Todavia, eventos ou condições futuras podem levar o Coritiba Foot Ball Club a não mais se manter em continuidade operacional”. Ao fim e ao cabo, o déficit decorre de várias gestões e primordialmente em decorrência de sucessivos fracassos no futebol, vetor fundamental na vida financeira do clube.
Depois, em que pese a gestão atual tenha recebido o clube rebaixado e em tais condições – embora certamente soubesse disso e o fato não possa servir para repetidamente tentar justificar o fracasso em campo – é elogiável que procure administrar melhor as finanças.
Pelo que se conclui da leitura da nota oficial e de reportagem a respeito, o lucro foi obtido essencialmente pela diminuição de despesas, inferiores às do ano passado, enquanto a receita também foi inferior em decorrência das consequências do rebaixamento.
É um resultado positivo – também no sentido do conceito de construtivo, além do contábil – mas deve ser recebido com algumas preocupações.
Ocorre que, se a direção está envidando esforços para a recuperação financeira do clube, o que não será resolvido em uma só gestão, e se gastou bem menos do que antes, o problema é que gastou mal, muito mal mesmo, com contratações de duas dezenas de jogadores que não deram quase nenhum retorno. E diante da perspectiva bem provável de nos mantermos na segunda divisão em razão do fracasso do time, a economia, ao contrário de ser virtuosa, terá sido danosa para o clube. Houvesse bom resultado financeiro/contábil ao lado do sucesso em campo e tudo estaria sendo visto de modo diferente e animador e estaríamos a escrever em louvor da direção.
Mas não. Mantendo-nos na segunda divisão – a esta altura é o que podemos desejar – a arrecadação do próximo ano será consideravelmente menor do que a deste que já foi menor do que a do anterior. A verba da TV será bem menor, o quadro associativo diminuirá, assim como os patrocínios e a venda de material. E daí? Como fazer para ir pagando as dívidas e montar um time apto a subir no próximo ano? Como obter um resultado positivo na equação receita x despesa? Será muito difícil, mais do que está sendo. Não há bom resultado financeiro e patrimonial no futebol que não passe pelo sucesso em campo.
Vamos torcer para que resultado positivo apontado no balanço não se torne uma vitória de Pirro.
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